Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern

A escolha é sua

Apenas losers, incels, barangas e feministas não enfeitam a casa para o Natal

Natal é símbolo do Ocidente cristão: enfeitar a casa é celebrar Jesus e rejeitar o azedume ideológico de quem problematiza tudo. (Foto: Imagem criada utilizando Chatgpt/Gazeta do Povo)

Ouça este conteúdo

Você tem um amigo que alega que, no dia 25 de dezembro, se comemora o aniversário de Isaac Newton enquanto se acha engraçado? Pois é, pode rir da cara dele e depois bloqueá-lo no Zap para todo o sempre. Deixe-o passar a Eternidade com Isaac Newton, que vai lhe ensinar muito sobre alquimia. E vá passar a Eternidade com os cobras: aqueles que comemoram o Natal e deixam a casa, as janelas, o quintal e, de preferência, a rua e o bairro todo cheios de luzes e enfeites para o Natal.

Sabe aquela velha esquisita da rua da sua infância, amargurada com a ontologia da realidade, que furava bolas que caíam em seu quintal, tinha gatos que pareciam querer fugir de experimentos macabros e você não sabia como ela sobrevivia sem nunca sair à rua, alimentando-se apenas das próprias lágrimas e do próprio veneno? Então, ela também comemorava o aniversário de Isaac Newton em vez do Natal.

Comemore o nascimento de Jesus. Não seja uma velha dos gatos. Enfeite sua casa.

Quanto mais ridiculamente enfeitada, melhor. Comedimento para o nascimento de Cristo é coisa de feminista, de sacerdote do Reddit, de fubanga mal-amada, de submisso social que perdeu a virgindade no cabaré do The Sims, de rainha do ranço de cabelo roxo ressentida digitalmente, dos mártires rejeitados pelas bonecas infláveis, de futuras viúvas de afeto afogadas na própria bile do rancor.

Não seja como eles. Sabe aquelas pessoas que você sabe que votam no PSOL a dois quarteirões de distância? Então. Faça o contrário delas. Deixe sua casa com meias de papelão mal-feitas na soleira, coloque um gorro no anão de jardim, um adesivo cafona na traseira do carro, troque seu avatar nas redes sociais por uma foto com gorro, taque algodão para fingir que é neve nas plantas, entupa sua casa com tanto pisca-pisca que o Papai Noel vai lhe deixar uma carta reclamando que se cegou com suas luzes e não conseguiu enxergar Las Vegas.

E presépios. Shoppings sem presépios deveriam ser boicotados e pagar 500% a mais de imposto. Um salão de cabeleireiro ou uma tabacaria sem presépio é uma prova de que os terroristas venceram. Não adianta reclamar do STF, do Maduro e do Estado Islâmico e ser igual a eles. Brasília é infernal justamente porque foi feita para não ter decoração de Natal. Papai Noel não entrega nada na Praça dos Três Poderes.

Lembre-se: chegou o Advento. Quem problematiza o Natal (ou melhor, deixemos o verbo intransitivo: quem problematiza) tem mais vida em fóruns de Ressentidos Anônimos do que na realidade.

Quem aproveita dezembro para dizer que Jesus era socialista e que o Natal é uma data pagã e aniversário de Mitra e de Dionísio, ou data de dies solis invicti natalis (sem nem perceber que essa data artificial foi feita para substituir o Natal a posteriori), são aquelas pessoas tão fubangas que você atravessa a rua quando as vê na sua calçada, porque o contato direto com a extrema fealdade faz mal para a cútis. Por que ouvi-las bem no most wonderful time of the year?

Torne sua casa convidativa. Que tenha bolinhas de Natal brilhantes e um boneco de neve feito de isopor num calor de 38 graus. Casa sem pinheiros artificiais no Nordeste em dezembro é claramente habitada por virjão do submundo do 4chan e por mocréia mademoiselle dos gatos, freira involuntária e celibatário por algoritmo. Não seja um identitário por osmose.

Não é porque as grandes marcas agora inventaram que dezembro deve ter decoração de hospital do câncer que devemos simplesmente aceitar. Não é só porque os filmes de Natal recentes envolvem a aceitação da filha feminazi e do filho que não ganhou um abraço dos pais na infância que devemos ignorar a missa Rorate Cæli e dar livros de Djalmila Ribeiro e CDs do U2 e do Roger Waters.

Pior ainda é achar que só se pode dizer “boas festas”. Quem diz “boas festas” é satanista.

Estamos em uma batalha espiritual, simbólica e linguística, muito antes da batalha política

E a batalha espiritual se combate com joelho no chão, penitência e também com os símbolos adequados que traduzem realidades espirituais maiores do que jamais cogita nossa vã problematização de guerreiros do lacre.

VEJA TAMBÉM:

O Ocidente é a única sociedade que duvida de si própria, justamente por ser a única sociedade que traz a razão e a possibilidade de dúvida como sua própria definição. Nenhuma outra cultura permite duvidar dos seus líderes.

Exatamente por isso, intelectuais de quinto escalão como Edward Said, para criticar o Ocidente e defender uma superioridade forçada de qualquer outra civilização à ocidental, têm de criticar não o pensamento ocidental, mas a presença física de ocidentais perto de si. Por isso a esquerda tem uma eterna contradição com judeus: trata todo não-esquerdista como um nazista e, ao mesmo tempo, trata todo judeu como não merecedor da existência.

Porque os ocidentais são capazes de se questionar. Os orientais — Edward Said incluso — apenas querem impor seu modelo em que etnia é igual à ideologia, em que religião é igual ao Estado, em que atributos físicos são iguais a voto.

Assim, a cultura e a civilização ocidentais são sempre retratadas com termos estúpidos por pessoas estúpidas. O cristianismo é tratado como “obscurantismo”, enquanto o islã (que não permite não-islâmicos por perto) é uma “luta anticolonial” (ignore o que muitos muçulmanos pensam sobre ciência, ativismo LGBT ou o direito de as mulheres não apanharem dos maridos).

O Natal tem de ser apenas “uma festa”, sem referências a Jesus e à Virgem Maria concebendo milagrosamente, protegida por São José, com o Rei do Universo se fazendo pobre e indefeso, porque senão alguém se ofende e explode (ou outro faz uma revolução totalitária, ou um terceiro decepa os genitais em sinal de protesto).

As aparentemente bobinhas árvores de Natal, os aparentemente infantis presentes, os aparentemente insuportáveis amigos secretos, todos são poderosos símbolos para nos lembrar de uma realidade que se fez carne: a de que a civilização ocidental é muito mais agradável de viver do que o Irã ou a China comunista (sem falar dos campi universitários, que são um misto dos dois), justamente porque a sua base é o cristianismo, uma religião que separa o que é de César do que é de Deus.

Símbolos criam o que Philipp Rieff chamava de “ordem transcendente”: são lembranças de uma dimensão de comportamentos além da consciência imediata, quase como uma placa de trânsito, sem reflexão. Podemos não refletir em um ambiente de gratidão e alegria pelo nascimento do Salvador.

Ou podemos não refletir em um ambiente artificial, permeado de símbolos que prometem ilusões, como discutir “racismo estrutural” e “feminismo climático” na ceia, enquanto o Ocidente é destruído por dentro, exigindo-se que aceitemos a destruição de tudo o que é nosso, em nome do “multiculturalismo”, em que nada islâmico pode ser caçoado; do “secularismo” mais cacete do que passar a Sexta-Feira Santa com Richard Dawkins; do feminismo à la Márcia Tiburi.

Foi o nascimento de Jesus que criou uma nova ordem em que a vida civil é regida por Deus, e o Estado é apenas um mal necessário. Foi o cristianismo que separou etnia de religião, poder de verdade. Nós lembramos dessa data pelo Natal. Assim, vivemos um tempo de agradecimentos e lembramos que nossa verdadeira vida, com todos os nossos defeitos, está no seio da família, e não no ativismo político.

Não apenas enfeitar a casa para o Natal é uma obrigação na luta pelo Ocidente: deixar de colocar pisca-pisca e algodãozinho de neve o deixa idêntico à Marilena Chaui.

A escolha é sua.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.