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Flavio Quintela

Flavio Quintela

Dobrando a aposta

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O candidato Joe Biden fala durante o primeiro debate presidencial da campanha de 2020. (Foto: Saul Loeb/AFP)

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Faltando duas semanas para as eleições americanas, os jornalistas brasileiros estão dobrando a aposta em Joe Biden. Marco Antônio Villa tem dito em suas lives, repetidas vezes, que não há mais dúvidas de que Biden sairá vitorioso. Vera Magalhães retuitou uma notícia do NYT em que a jornalista Catie Edmondson deduz que Donald Trump perderá em novembro com base numa inferência em terceiro grau – uma alegada mudança de comportamento de alguns senadores republicanos daria a impressão de que estariam se afastando de Trump, indicando que esses senadores considerariam o pleito presidencial perdido para o atual presidente –, acompanhada do comentário “Os últimos a desembarcar serão os conservadores brasileiros?”

Marcelo Lins, Guga Chacra e Jorge Pontual, no “Missão Casa Branca” de ontem, falaram somente sobre o que aconteceu na última semana e que possa indicar alguma vantagem para Joe Biden, seja essa vantagem real ou fruto da interpretação deles. Não mencionaram, em nenhum momento, fatores que apontam para uma vitória de Trump. Pontual chegou a afirmar que Trump não se recuperará e cravou que “quem ganhar a Flórida ganhará a eleição”.

Quem deseja ardentemente que Trump perca para Biden faz uso das pesquisas e se agarra à influência da pandemia para cravar seu resultado. E quem busca entender o que está realmente acontecendo nos Estados Unidos não crava nada

Convenientemente, as análises políticas publicadas na grande imprensa brasileira deixaram de lado alguns tópicos importantes da semana, a saber:

  • A reportagem do New York Post sobre Hunter Biden, filho de Joe, e toda a repercussão que ela causou nos Estados Unidos mesmo tendo sido banida pelo Twitter e praticamente ignorada por NYT, Washington Post e CNN;
  • As carreatas lotadas em favor de Trump, inclusive em redutos democratas como os condados de Broward e Miami-Dade, na Flórida, e a cidade de Nova York;
  • Os comícios com menos de 20 pessoas de Joe Biden, que tem levado consigo um teleprompter maior que uma tela de cinema para onde quer que vá e entusiasmado um total de zero pessoas em cada encontro;
  • Os resultados do early voting, que têm sido muito mais favoráveis a Trump do que todas as previsões indicavam. Sobre isso, aliás, a insistência da CNN em desqualificar esse indicador é evidência de que algo incomodou. Ontem mesmo, lançaram um artigo dizendo por que não se deve fazer nenhuma inferência sobre o resultado final das eleições com base dos dados de early voting.

Além desses fatos, um artigo muito interessante de David Chapman – um analista de eleições geralmente ignorado pela grande imprensa americana – descreve diversas métricas e estatísticas que desmentem praticamente todas as “tendências” apontadas pelos jornalistas que têm dado como certa a vitória de Biden.

  • Sobre a afirmação de que momentos econômicos difíceis indicam derrota na reeleição de um presidente americano: a verdade histórica é que o partido incumbente, do presidente que tenta se reeleger, ganhou 12 eleições e perdeu 11 quando as circunstâncias econômicas eram desfavoráveis. Ou seja, esse indicativo não indica nada;
  • Sobre o voto nas primárias em relação ao resultado final: em toda a história americana, nenhum incumbente que tenha recebido mais de 75% dos votos nas primárias perdeu a reeleição. Donald Trump recebeu 94%, mais que Eisenhower, Clinton, Nixon e Obama;
  • Dentre todos os pleitos presidenciais, apenas três aconteceram no mesmo ano de uma recessão, pandemia ou agitação civil. Nos três, o incumbente foi reeleito;
  • Desde 1964, todo candidato que liderou na pesquisa de entusiasmo da Pew Research acabou vencendo a eleição. Trump tem 20 pontos de vantagem nesse quesito;
  • Por último, foram muitas as eleições em que as pesquisas de intenção de voto erraram por completo o resultado: 1948, 1952, 1976, 1980, 1996, 2000, 2012, 2014, 2016 e 2018. Como se pode ver, de 2012 para frente só houve grandes erros e nenhum acerto. Não por coincidência, 2012 marca o início de uma tendência de participação popular baixa nas pesquisas, 2020 mais baixa que nunca.

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Então, seguimos assim. Quem deseja ardentemente que Trump perca para Biden faz uso das pesquisas – sim, as mesmas que erraram tudo nos últimos oito anos – e se agarra à influência da pandemia para cravar seu resultado. E quem busca entender o que está realmente acontecendo nos Estados Unidos, munido de dados estatísticos reais, não crava nada. Eu, como integrante do segundo grupo, digo mais uma vez que apostaria numa vitória de Trump (só não aposto porque apostar não faz parte dos meus hábitos). E continuo achando que muita gente vai passar vergonha quando sair o resultado final. Para os que odeiam Trump será ainda pior, terão de passar mais quatro anos alimentando esse sentimento.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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