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Faltam apenas dois dias para o início das eleições primárias. Cinco estados começam suas disputas no dia 2 de agosto: Arizona, Kansas, Michigan, Missouri e Washington. Entre essas primárias estão algumas das disputas mais esperadas do ano, e por isso estou listando as que acompanharei na noite de terça-feira. Vamos em ordem alfabética.
Governador do Arizona (primária republicana)
O Partido Republicano fará suas primárias pela vaga de governador nesse estado que passou de vermelho para roxo recentemente. Duas mulheres disputam a vaga pelo partido: a ex-âncora de notícias Kari Lake e a advogada Karrin Taylor Robson.
Lake é a candidata de Trump e tem recebido inúmeras críticas na grande imprensa por ter aparecido, em seus comícios, ao lado de figuras consideradas tóxicas pela esquerda. Antes de Trump, Lake havia apoiado os democratas John Kerry e Barack Obama. Robson, por outro lado, vem de uma dinastia republicana do Arizona e é casada com um bilionário. Ela tem o apoio de Mike Pence e do atual governador, Doug Ducey. Ou seja, teremos o primeiro “Trump versus Pence” dessas eleições. Apesar de vir ganhando algum terreno nas últimas semanas, Robson não conseguiu ultrapassar Lake em nenhuma pesquisa até o momento, e começou a perder momento nos últimos 15 dias. A pesquisa mais recente da OH Predictive Insights aponta 51% das intenções de voto para Lake contra 31% para Robson.
Senador pelo Arizona (primária republicana)
O Arizona terá duas primárias republicanas competitivas, por causa do elevado número de candidatos querendo enfrentar o senador democrata Mark Kelly em novembro. Três deles recebem apoio da turma trumpista. O próprio Donald Trump e Tucker Carlson estão apoiando Blake Masters; Sean Hannity e Mark Levin estão endossando o procurador-geral do Arizona, Mark Brnovich. Finalmente, a Coalizão Conservadora de Ação Política (CPAC) e a Associação Nacional de Organizações Policiais (NAPO) estão apoiando o empresário Jim Lamon. Como já mencionei em artigo anterior, Masters tem o apoio do bilionário Peter Thiel, que já doou mais de US$ 15 milhões para sua campanha. Em Ohio, o dinheiro de Thiel somado ao endosso de Trump já rendeu frutos para J.D. Vance. Vale muito observar se o mesmo acontecerá no Arizona.
2.º Distrito Congressional do Arizona (primária republicana)
Esse distrito foi modificado pela reorganização distrital mais recente, passando de R+1 para R+6 – os números se referem a pontos de vantagem provável para o candidato republicano; um distrito R+6, portanto, é bem mais fácil de conquistar que um R+1, onde a disputa é mais equilibrada. Por isso, tornou-se altamente cobiçado pelos candidatos do partido. O escolhido nas primárias enfrentará o atual ocupante do assento, o deputado democrata Tom O’Halleran. Disputam a vaga o deputado estadual Walter Blackman, que garantiu o apoio de vários de seus colegas de legislatura; o consultor de negócios Mark DeLuzio, apoiado pelo ex-xerife Joe Arpaio; e o Navy Seal Eli Crane, escolhido de Trump. Fica a dúvida, no entanto, se o apoio de Trump ajudará ou atrapalhará Crane, que não é muito querido entre os trumpistas mais fiéis.
6.º Distrito Congressional do Arizona (primárias democratas e republicanas)
Com a aposentadoria da deputada democrata Ann Kirkpatrick, esse distrito R+3 se tornou uma opção atraente para políticos de ambos os partidos. Nas primárias democratas, a senadora estadual Kirsten Engel concorrerá contra o deputado estadual Daniel Hernandez Jr. Os deputados Raul Grijalva e Annie Kuster estão apoiando Engel, enquanto a Federação de Professores do Arizona e a ONG antiarmamentista Every Town for Gun Safety querem que Hernandez seja o candidato. A disputa promete ser bem equilibrada.
Já na disputa republicana há um favorito claro, o conselheiro sênior do atual governador, Juan Ciscomani. Ele tem o apoio do líder da minoria da Câmara, Kevin McCarthy. O mais provável é que ele seja o candidato republicano e que vire essa cadeira de azul para vermelha.
A disputa entre o radical Andy Levin e o moderado Haley Stevens em um dos distritos do Michigan medirá como anda o apoio ideológico dos eleitores democratas
Governador de Michigan (primária republicana)
No estado do Michigan, Tudor Dixon desponta como favorita. A empresária conservadora é uma sobrevivente de câncer e mãe de quatro filhas. Ela tem o apoio da Câmara de Comércio e da influente família DeVos. Sua campanha já não mira mais nas primárias, e sim na disputa de novembro com a atual governadora democrata, Gretchen Whitmer. Dado o status de Whitmer como uma estrela em ascensão no Partido Democrata, ela será um dos principais alvos do Partido Republicano.
3.º Distrito Congressional de Michigan (primária republicana)
O atual dono da cadeira, Peter Meijer, se apresentou como um apoiador confiável de Donald Trump na campanha anterior. Bastou ser eleito para que decepcionasse todos os trumpistas de seu estado, tendo votado a favor do impeachment do ex-presidente e apoiado a criação da Comissão do 6 de Janeiro. Nem é preciso dizer que ele está na mais negra das listas negras de Trump, que está apoiando fortemente o candidato John Gibbs, que atuou em seu governo como secretário-assistente do Departamento de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (HUD). O distrito, no entanto, tende à vitória democrata, pois engloba a área metropolitana de Grand Rapids, que tem ficado mais azul a cada eleição. A provável candidata pelos democratas é a advogada Hillary Scholten.
11.º Distrito Congressional de Michigan (primária democrata)
Michigan perdeu um assento durante o reajuste do Censo de 2020. Quando isso acontece, dois deputados acabam tendo de disputar apenas uma vaga. E é justamente esse o caso do 11.º Distrito, um D+7 no subúrbio de Detroit, em que Andy Levin e Haley Stevens batalharão pela vaga. Stevens é um democrata moderado – pelo menos pelos padrões de hoje – e tem o apoio de Hillary Clinton, enquanto Levin é considerado um “progressista” mais radical, e por conta disso tem o apoio de Bernie Sanders e Elizabeth Warren. Será uma disputa interessante, pois medirá como anda o apoio ideológico dos eleitores democratas.
13.º Distrito Congressional de Michigan (primária democrata)
Esse é um assento D+23 e, por causa disso, um dos mais cobiçados pelos democratas da área. São cinco os principais candidatos: John Conyers III, Adam Hollier (senador estadual), Sharon McPhail (ex-conselheira-geral de Detroit), Portia Roberson (comissária de direitos civis) e Shri Thanedar (deputado estadual). Conyers é filho do ex-congressista John Conyers e Hollier tem o apoio do prefeito de Detroit, Mike Duggan. A maioria das pesquisas aponta McPhail à frente, ainda que Roberson tenha o endosso da Detroit Free Press e da Emily’s List. Thanedar, por sua vez, está liderando a última pesquisa. Quem ganhar já pode se considerar eleito em novembro. Essa cadeira não fica vermelha nem por milagre.
Senador pelo Missouri (primária republicana)
Essa cadeira é considerada republicana com poucas chances de derrota para um candidato democrata. Para evitar uma surpresa desagradável, o partido tem trabalhado para impedir que o ex-governador Eric Greitens ganhe a indicação ao Senado. Greitens renunciou ao cargo de governador em 2018, depois que uma ex-amante o acusou de agredi-la sexualmente e chantageá-la. Então, no início deste ano, sua ex-mulher apresentou uma declaração juramentada em seu caso de divórcio, afirmando que ele havia abusado fisicamente dela e de seu filho. Greitens é hoje, portanto, um candidato tóxico. Como resultado de uma série de anúncios de rádio e tevê em que essas alegações foram marteladas diuturnamente, Greitens perdeu a liderança para o procurador-geral Eric Schmitt, e mais recentemente perdeu a segunda colocação para a deputada Vicky Hartzler. Parece que a estratégia deu certo.
Semana que vem, nesta mesma coluna, falaremos sobre os resultados da terça-feira.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos