A discussão da mobilidade nunca foi tão global e presente como nos dias de hoje. Você vai em um evento de educação e estão falando sobre os carros autônomos, vai em um evento de marketing e alguém está falando sobre os drones que vão transportar pessoas sem nenhum piloto. O maior evento de tecnologia do mundo, o CES, que aconteceu em Las Vegas agora em janeiro, foi dominado pelo lançamento de novos projetos de carros e drones autônomos, ao ponto de uma empresa como a Sony apresentar o seu próprio veículo elétrico.
Mas, enquanto o futuro dos Jetsons não chega até aqui, o que de fato tem impactado a mobilidade? Eu adoro olhar por esse prisma do “agora”, porque nos faz perceber que uma mudança grande está ocorrendo e ajudando a reinventar nosso modo de olharmos para a mobilidade. Veja, o Waze foi, na minha opinião, um dos aplicativos que mais transformou o modo como nos deslocamos e estão crescendo muito no Brasil com o Waze Carpool, que é a possibilidade de você oferecer ou pegar carona com seus colegas de trabalho. Ainda temos os aplicativos de ridesharing, como Uber, 99 e Cabify, eles ajudaram muitas e muitas pessoas a tomarem a decisão de vender seus carros.
Aí, no terceiro momento, começamos a falar sobre a micromobilidade, as bicicletas de um grande banco do Brasil foram revolucionárias, que incrível poder pegar uma bike em uma estação, por um preço justo, e depois devolver em outra estação mais próxima do seu destino final. Mas daí esse mercado começou a crescer e, na China, o sistema dockless ganhou força, aquele com as bicicletas sem estação que ficam espalhadas na cidades e você pega e deixa onde quiser (claro, dentro de uma área delimitada pela empresa). A Yellow foi a pioneira com esse serviço no Brasil, apostando alto de que esse seria o caminho para transformar a micromobilidade.
E, logo depois, chegaram as nossas amadas e desejadas patinetes elétricas, que se tornaram febre por aqui. Foi uma explosão. Assim como na maioria das partes do mundo, elas ganharam uma força impressionante, tanto que, em menos de um ano, elas já estavam presentes em 17 cidades do Brasil. Usei algumas vezes na Faria Lima e na Paulista, em São Paulo, gostei tanto que tive que comprar duas para ter em casa. A família inteira queria ficar usando o tempo todo.
Começamos o ano de 2020 pensando: “E agora, o que mais vai chegar com força?”. Muito se fala sobre o tuk-tuk elétrico e a expansão dos modais de micromobilidade no Brasil e no mundo, mas daí fomos surpreendidos logo no começo do ano com o triste anúncio da Lime. Uma das maiores empresas de patinetes do mundo estava cancelando toda a operação na América Latina. A Grow, fruto da fusão entre a Grin e a Yellow, que estava a todo vapor como uma das marcas que mais ganhou força no Brasil, também fez um anúncio inesperado: cancelaram suas operações em 14 cidades do Brasil, só continuam agora em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. O que está acontecendo? Onde está agora minha patinete?
Podemos explicar por várias frentes. Questões com a infraestrutura das cidades, muita demanda de manutenção e dificuldade do ponto de vista financeiro e operacional para solucionar isso. A instabilidade nas regulamentações no Brasil que cria uma insegurança nas empresas que investem, sem contar a falta de apoio do poder público para incluir a micromobilidade como solução para os municípios.
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Tem também a estratégia do próprio negócio, muito se fala sobre a falta de entendimento, no caso da Grow, sobre a divergência na estratégia entre os mexicanos e os brasileiros. Um acredita que as bicicletas são o melhor modal e o outro acredita que as patinetes são o futuro. E, claro, talvez o principal seja o fator econômico, o custo dessas operações são altos e talvez eles não tivessem conseguido atingir o resultado financeiro esperado.
Enfim, e nós ficamos aqui nos perguntando: onde está minha patinete? Acho que agora é uma grande oportunidade para, depois dessas experiências que tivemos, começarmos a fazer as escolhas sobre quais são os modais que funcionam pra mim. Se a patinete for um meio que contribui em seu deslocamento, você pode comprar a sua própria patinete, sem esquecer o capacete, e começar a usá-la. Não precisamos retroagir porque algumas empresas pararam de operar, podemos assumir o protagonismo da nossa própria mobilidade. E quando perguntarem: “onde está a patinete?” Você vai responder que está lá na sua casa, esperando a oportunidade de te levar nos seus pequenos deslocamentos.
Muita coisa ainda virá, porque o futuro é agora.
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