Estava me atualizando das últimas do nosso Febeapá – quem lembra? O saudoso Festival de Besteiras que Assola o País –, vendo as postagens do tour zoológico da primeira-dama pelo Rio Grande do Sul, encenando resgates de cavalo etc. (espero que ela também tenha compaixão por cabritas e jumentos, aliás). Fiquei a pensar que não temos uma palavra a expressar algo que é pior do que o ridículo.
Primeira cena: pacotes de arroz, feijão e outros alimentos em poltronas de aviões usando cintos de segurança enquanto a primeira-dama desfila pelo corredor como se fosse uma comissária de bordo. Fosse uma refilmagem de Apertem os cintos, o piloto sumiu, vá lá. Mas, sendo o que é, chamar de ridículo seria uma ofensa à ridicularidade, que merece mais respeito.
Segunda cena: ela aparenta devolver um cachorro a um militar para que este, agora sendo filmado, volte a lhe entregar o bicho. O vídeo correu a internet, mas era apenas uma brincadeira dela com o militar que carregava um avião com mantimentos para animais do Rio Grande do Sul. O cachorro, na verdade, era uma das cadelas de Janja, chamada Resistência. A outra se chama Paris.
Resistência & Paris... Se fosse inventar não seria ridículo? Está vendo como usar “ridículo” não dá conta de expressar essas coisas? No fim das contas, acabamos usando um superlativo, mas aqui se trata de outra coisa, é outra categoria mesmo. Precisamos inventar um termo novo. Enquanto não chegamos lá, que tal “janjice”? “Meu Deus, é muita janjice...”; “Credo, que janjice é essa?” Funciona, não? Teste e comprove.
Isso me fez lembrar daquele Janines, Janenes, Juninos – ah, você sabe de quem estou falando –, que chegou a escrever um livro para se vangloriar de mentir melhor que seus adversários e chamou de “janonismo cultural”. Ainda bem que o colega Eli Vieira fez a caridade de explicar aqui na Gazeta do Povo o que seria essa janjice, poupando-nos da leitura da obra, resumindo como sendo “a nova roupagem do velho boato sujo e do maquiavelismo sem escrúpulos”.
Mas fico sempre na dúvida se maquiavelismo não exigiria um certo grau de inteligência, especialmente emocional, que certamente o Jumenes não possui. Só o fato de ele lançar um livro intitulado Janonismo Cultural já me basta para constatar que estamos diante de uma tremenda janjice, que desconfio não admitir rachadinha com outras coisas, como maquiavelismo consciente.
Voltando à primeira-dama, seria isso causado pelo deslumbramento com o cargo? Ainda mais com a bajulação do entorno que a torna cega e surda ao que não é espelho e câmera de eco? Talvez, mas acho que isso seria subestimá-la. Assim como me parece superestimá-la achar que seria de caso pensado, inclusive calculando a indignação dos constrangidos, alimentando, assim, a polarização no país, que é do que sobrevive seu marido. Não sei, ainda fico com a janjice como resposta.
Estou parecendo maldoso? Espero que não, sinceramente. Na verdade, estou tentando fazer o que meu amigo Polzonoff sugeriu que fizéssemos: tentar se colocar imaginativamente no lugar da Janja. Paulo fez um belo esforço tentando compreendê-la, Tentei também, juro, e por isso mesmo cheguei aqui, nesta insustentável janjice do ser. Para onde ir (vamos) agora? Não sei, realmente não sei. Acho melhor encerrar logo esse escrito e ir assistir ao filme do Pelé.
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