Escrevo mais um texto sobre aborto. Faço isso porque é necessário falar, discutir e defender continuamente a dignidade dos bebês ainda por nascer, dado que o Brasil parece estar preso em um ciclo tedioso de debates impostos pela agenda esquerdista, inclusive com apoio do presidente socialista Lula e de parcela do STF. Essa repetição de temas pela esquerda pode parecer um chamariz, uma tentativa de manter certos tópicos em destaque para moldar a opinião pública e desviar a atenção de outras questões importantes. No entanto, essa insistência também revela algo crucial: a completa incompatibilidade entre os valores cristãos e as ideologias promovidas pelo esquerdismo. Enquanto o cristianismo valoriza a vida desde a concepção, defendendo a sacralidade de cada ser humano criado à imagem de Deus, a agenda esquerdista, ao promover o aborto, contraria esses princípios fundamentais, promovendo uma agenda de degradação cultural e culto da morte. Esta, portanto, é uma batalha moral e ética que precisa ser travada, e é por isso que continuo a escrever sobre o assunto. Não podemos permitir que a voz pró-vida seja silenciada ou que a santidade da vida humana seja desvalorizada em nome da imposição de uma cultura da morte promovida pelos socialistas. É um tema recorrente, sim, mas essencial para a preservação dos valores que sustentam nossa sociedade.
A radicalização na defesa do aborto
Nos últimos anos, uma corrente crescente de esquerdistas tem defendido abertamente o direito de interromper a gravidez até os estágios finais de gestação. Esses defensores tentam argumentar que estão lutando pela liberdade e pelos direitos das mulheres. No entanto, permitir o aborto em estágios tão avançados é uma afronta à sacralidade da vida humana. Estamos falando de bebês com seis, sete, oito e até nove meses de gestação, completamente formados e viáveis fora do útero. A defesa desse ato é equivalente a promover uma monstruosidade, uma violação flagrante dos direitos humanos mais básicos. Quem defende o assassinato de bebês em estágios tão avançados é, sem dúvida, capaz de promover qualquer atrocidade, pois perdeu a noção do valor intrínseco de uma vida humana.
Uma das questões mais alarmantes no debate atual para os que se opõem ao aborto é a defesa do procedimento até o nono mês de gravidez. Essa posição extremista, além de chocante, nos leva a refletir sobre os limites da moralidade e da ética em nossa sociedade. Se a sociedade aceita o aborto em estágios tão avançados, onde estará o limite? A aceitação dessa prática pode abrir precedentes perigosos, legitimando outras formas de eliminação de vidas consideradas indesejáveis.
Para os esquerdistas, como a ministra da Saúde de Lula, que defende a prática do aborto até o nono mês de gravidez, os direitos humanos só valem depois que os bebês passam pelo “canal vaginal mágico”. Enquanto o bebê não nasce, ele é uma “não pessoa” e não tem direitos humanos. Está sujeito à “escolha” da mãe. Ao nascer, o bebê – pelo menos, em tese – se torna digno de estar sob a proteção dos direitos humanos. Ninguém sabe explicar exatamente como essa “mágica” acontece, mas teorias científicas populares sugerem que tal transformação “mágica” acontece ou por intervenção de fadas, ou de alienígenas ou de um mini Big Bang. Talvez seja ato das fadas, vai saber. Os defensores do aborto devem ter alguma explicação esotérica para explicar o fenômeno.
Quem defende o assassinato de bebês em estágios tão avançados é, sem dúvida, capaz de promover qualquer atrocidade, pois perdeu a noção do valor intrínseco de uma vida humana
Mas, em meio ao debate, alguns defensores pró-vida apontam para um precedente ainda mais alarmante: já se fala, em certos círculos pró-aborto, sobre a possibilidade de permitir a morte de bebês após o nascimento. Essa ideia, embora pareça absurda, é vista como uma progressão natural da perda da noção de sacralidade da vida humana, criada à imagem de Deus. Assim como a eutanásia tem sido promovida na atualidade no Canadá e na Europa, especialmente para idosos e doentes terminais, teme-se que a mesma lógica possa ser aplicada a outros seres humanos vulneráveis, como bebês recém-nascidos. Quando a vida humana perde seu valor, qualquer ato contra o ser humano pode se tornar justificável.
É crucial entender que, após 22 semanas de gestação, a interrupção da gravidez não é mais tecnicamente um aborto, mas uma indução de parto, pois o bebê pode viver fora do útero. O que está em jogo, então, não é apenas o direito ao aborto, mas a possibilidade de assassinar um bebê viável no ventre da mãe. Este é um ponto de extrema importância que muitas vezes é obscurecido no debate público. A preocupação aqui é dupla: por um lado, a defesa desse “direito” até um estágio tão avançado da gestação; por outro, o risco de abusos legais, em que qualquer mulher pode alegar estupro para realizar o procedimento, sem necessidade de provas ou boletim de ocorrência (BO). Isso cria uma situação em que um bebê pode ser assassinado com base em alegações infundadas, um cenário que é, no mínimo, aterrorizante.
A opinião pública e a essência do debate
As pesquisas indicam que a maioria das mulheres brasileiras é contra o aborto. Segundo uma pesquisa recente do Poder 360, 59% das mulheres e 64% dos homens se opõem à prática. No total, 61% dos brasileiros se opõem ao aborto. O porcentual oscilou dois pontos para cima desde maio de 2022 e três pontos para cima desde o início da série histórica, em janeiro de 2021. Os eleitores que afirmam ser favoráveis à liberação do procedimento somam apenas 24%. Os porcentuais se mantêm inalterados há dois anos. Em janeiro de 2021, na primeira vez que a pergunta foi feita aos entrevistados, 31% apoiavam a permissão do aborto no país. Esses números demonstram que a posição pró-vida tem um suporte muito significativo na sociedade, o que coloca em questão a legitimidade das tentativas feitas por socialistas de ampliar a legalização do aborto. Quando a maioria da população é contra o aborto, a promoção de políticas pró-aborto se torna não apenas antiética, mas também antidemocrática.
Outro ponto crítico é a desonestidade dos militantes esquerdistas pró-aborto, especialmente aqueles que atuam nos canais de televisão. Eles distorcem fatos e manipulam números e narrativas para promover sua agenda, sem levar em conta as implicações éticas e morais de suas posições. Os militantes de redação, além de tudo, agem com desonestidade ao ignorar deliberadamente as consequências trágicas de suas propostas, muitas vezes pintando uma imagem irrealista e enganosa da realidade do aborto. Como bem demonstrou Leandro Ruschel, o nível moral das opiniões destes jornalistas é preocupante: comparam um bebê indefeso no ventre da mãe com um adulto assassino, sugerindo que conservadores são hipócritas ao defender o direito à vida apenas em relação ao primeiro. Mas o que socialistas estão defendendo ferrenhamente é a pena de morte ao bebê no ventre da mãe, com a mesma intensidade que defendem o direito à vida dos piores criminosos, entre homicidas e estupradores. Aliás, Lula criticou o Congresso por estar discutindo o projeto de lei antiaborto. Ele afirmou que bebês que nascem de um estupro são como “monstros”.
Também é repugnante o silêncio ou subterfúgio de padres e pastores “cristãos progressistas” que apoiaram a eleição de Lula à Presidência da República em 2022. Graças ao Senhor da Igreja, como bem notou meu colega colunista de Gazeta Marcio Antonio Campos, tais clérigos são “pastores” de mídia, não de pessoas reais. O pregador batista Charles Spurgeon os descreveu com precisão: “O que vemos em vários lugares, a não ser pessoas que são reputadas como ministros do Evangelho, cujo principal negócio parece ser minar nossa fé sagrada e derrubar as Verdades de Deus comumente aceitas na Igreja cristã? Com certeza, eles pregam como se fossem ordenados, não de Deus, mas do diabo! E ungidos não pelo Espírito Santo, mas pelo espírito da incredulidade!”
No cerne deste debate está uma pergunta essencial para os opositores do projeto de lei que criminaliza o aborto após 22 semanas, nos casos previstos em lei: deve haver um limite de fase gestacional para o procedimento? Em outras palavras, deve ser permitido matar um bebê de nove meses no ventre da sua mãe? Deve ser permitido que uma agulha seja enfiada no coração de um bebê de nove meses de gestação, dentro do ventre da mãe, para injetar uma solução salina, e matá-lo, antes de ele ser removido do útero? Essa pergunta não é retórica; ela visa expor as consequências extremas de uma postura que não reconhece limites para a interrupção da gravidez.
É fundamental entender que, depois de 22 semanas, o bebê pode sobreviver fora do útero com os cuidados médicos adequados. Permitir o aborto nesse estágio é permitir o assassinato de um ser humano indefeso e plenamente formado, criado à imagem de Deus. Esta é uma linha que não deve nem pode ser cruzada. Assim, o único aspecto positivo de todo esse debate é deixar claro que não há possibilidade de chegar a um consenso entre os cristãos com os adeptos do esquerdismo. Na verdade, a forma como os socialistas conduzem especialmente este debate só reforça a crença na atuação de poderes demoníacos naqueles que não estão sob a proteção do grande salvador de pecadores, o Rei Jesus ressuscitado, o único Messias.
O dever cristão de testemunhar
O debate sobre o aborto envolve questões religiosas, legais, éticas e sociais. Em última análise, nos desafia a refletir sobre nossa própria compreensão de humanidade e sobre o tipo de sociedade que desejamos construir. O diálogo entre o monsenhor Hugh O’Flaherty e o papa Pio XII, retratado em O Escarlate e o Negro (The Scarlet and The Black), filme de 1983, é iluminador nesse contexto:
O’Flaherty: “As minhas questões são bastante mais simples. Olho para as coisas e tento compreendê-las de forma mais simples.”
Pio XII: “Sim. Que pergunta tem feito a si mesmo, neste momento?”
O’Flaherty: “A única que parece importar, Santo Padre. Qual é o nosso dever quando nos encontramos com o mal face a face?”
Pio XII: “Devemos lutar contra ele.”
O’Flaherty: “Mas, se temos de lutar... como podemos fazer concessões?”
Pio XII: “Em teoria, não podemos. Mas, na prática, às vezes devemos trabalhar de forma calma e cautelosa.”
O’Flaherty: “Mas, isso não é o mesmo que dizer: depende das circunstâncias? Quando eu era acólito... o velho padre que nos orientava costumava dizer... ‘Façam aquilo que é certo, apesar de tudo, e Deus vos ajudará’.”
Pio XII: “Santa simplicidade.”
Permitir o aborto de um bebê que pode sobreviver fora do útero com os cuidados médicos adequados é permitir o assassinato de um ser humano indefeso e plenamente formado. Esta é uma linha que não deve nem pode ser cruzada
Durante a Segunda Guerra Mundial, O’Flaherty foi responsável por salvar 6,5 mil soldados aliados e judeus da sanha homicida das forças alemãs. Sua habilidade em escapar das armadilhas armadas pela Gestapo e pelo Sicherheitsdienst (SD) lhe rendeu o apelido de “Pimpinela Escarlate do Vaticano”. A clareza moral de O’Flaherty, como retratada no diálogo acima, é exigida dos cristãos nesse momento.
Bento XVI afirmou em 2007 que o aborto “nunca pode ser justificado”, por mais difíceis que sejam as circunstâncias “que levam alguém a considerar uma medida tão grave”. Ele criticou a “destruição direta de vidas humanas inocentes” e a “crescente influência sobre as comunidades locais como resultado das campanhas das agências que promovem o aborto”, que é feita pela “cultura secular globalizada”.
Os clérigos têm o dever de emitir, a partir da fé cristã, julgamento moral, inclusive na política, quando assim exigem os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação da alma, como Bento XVI declarou em 2010: “Toda defesa dos direitos humanos nos planos político, econômico e social seria completamente falsa e ilusória se não levasse em consideração a defesa enérgica do direito à vida desde a concepção até a morte natural”. Ele continuou: “Quando os projetos políticos contemplam abertamente ou de forma oculta a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático, que não é mais que realmente reconhecer e proteger a dignidade de qualquer pessoa humana, se trai em suas próprias raízes”. E concluiu: “Na defesa da vida, não devemos temer a oposição e a impopularidade, rejeitando qualquer compromisso e ambiguidade que se ajustariam à mentalidade do mundo”.
Mas, como também enfatizou Bento XVI em 2007, a Igreja deve receber quem se “arrepende” de ter cometido o “grave pecado” do aborto e a Igreja deve estar disponível para “oferecer apoio às mulheres que podem achar difícil aceitar um filho, sobretudo quando estão isoladas da sua família e dos seus amigos”. No tratamento das mulheres que abortaram, ele exortou os clérigos a agirem “com caridade pastoral”, orientando aquelas mulheres que abortaram “a aceitar a graça do perdão, a necessidade de penitência e a alegria de entrar [...] na vida nova de Cristo”. Como ele apontou: “Quando levardes o Evangelho da vida, lembrai ao vosso povo que o direito à vida de cada ser humano inocente, nascido ou não nascido, é absoluto e se aplica a todas as pessoas sem nenhuma exceção”.
Bento XVI ainda ressaltou, em 2020, já como papa emérito, que “a sociedade moderna está no meio da formulação de um credo anticristão e, se alguém se opõe é punido pela sociedade com a excomunhão”. Como ele afirmou, “o medo desse poder espiritual do Anticristo é mais do que natural e precisa da ajuda de orações da Igreja universal para resistir”. Pois, segundo ele, “a verdadeira ameaça à Igreja [...] reside [...] na ditadura mundial de ideologias aparentemente humanistas, contradizendo as quais se fica excluídos do consenso social básico”. Assim, ele conclui com o alerta: “O engano religioso supremo é o do Anticristo [...] um pseudomessianismo mediante o qual o homem se glorifica no lugar de Deus e do seu Messias”.
Portanto, nós, cristãos, devemos nos opor total e veementemente à normalização do aborto. Permitir que vidas inocentes sejam assassinadas sob a justificativa de supostos direitos reprodutivos levará a uma maior degradação moral da sociedade. Na verdade, a defesa da vida deve ser prioridade em qualquer sociedade que se pretenda democrática, justa e humana. E, diante de mais essa rodada de debates sobre o aborto, fica a incômoda pergunta de Gad Saad: “O que vai ser preciso para o Ocidente acordar? Existem ainda pessoas no Ocidente que tenham dignidade, honra e disposição para proteger seus filhos, suas mulheres, sua sociedade, sua cultura, sua religião, seu patrimônio?”
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