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Gabriel Sestrem

Gabriel Sestrem

Filhos

Família grande virou coisa de extremista segundo um jornal famoso aí. Será isso mesmo?

Família grande
Um artigo publicado em um grande jornal brasileiro defende que ter famílias grandes está ligado a uma tal de “retórica barulhenta pró-natalidade” (Foto: Freepik)

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Nessa semana me deparei com um texto curioso publicado em um grande jornal brasileiro cujo nome minha ética jornalística não permite revelar. O artigo, de uma colunista britânica, defende que ter uma família grande, com vários filhos, se tornou um símbolo de status de “ultrarricos” – seja lá o que isso queira dizer.

E pior: que famílias que decidem aumentar mais do que a média estariam sendo influenciadas por uma “retórica barulhenta pró-natalidade”.

Toda a linha de argumentação do texto percorre principalmente a questão financeira que envolve ter filhos, o que obviamente é importante, mas não é o único nem o principal ponto. Ela sustenta que ter mais que dois filhos se tornou uma ostentação – como se os pais não tivessem filhos por amor, mas apenas para se mostrar para os outros – e que há uma onda tradicionalista influenciando as pessoas a aumentarem suas famílias.

Conheço esse blábláblá, e acho que você também. Então não é de se espantar que nas linhas seguintes encontrei termos clichês como a “atual fetichização da maternidade de múltiplos filhos” ou a redução da mulher “a uma espécie de máquina de procriação cumprindo seu dever social”.

Mas resolvi dar uma olhada no perfil da autora, uma colunista de moda. E olha que interessante: ela é mãe de duas crianças pequenas e exibe exaustivamente seu casamento e seus filhos nas redes sociais. Dá pra ver que ela ama sua família, mas sabe-se lá por que viu a necessidade de criticar quem vê com bons olhos ter um número maior de filhos.

O estranho discurso sobre família que não bate com a realidade

O texto dessa senhora é um exemplo clássico da teoria das “crenças de luxo”, criada pelo psicólogo conservador Rob Henderson. Ele explica que as elites não sinalizam mais status apenas com roupas caras, joias ou bens de luxo, mas principalmente com crenças e valores.

E o principal exemplo que ele costuma dar é justamente quanto à família. Muitos formadores de opinião, como é o caso dessa colunista, defendem ideias como “o casamento é uma instituição ultrapassada” ou “ter filhos é algo fútil e desvantajoso”.

Mas, na vida pessoal, essas pessoas se casam e criam seus filhos em lares estáveis, porque sabem que isso é algo bom. O problema fica apenas com as pessoas que são influenciadas por essa gente.

Tenho pelo menos três amigos de infância que têm mais de quatro filhos. Um deles tem oito! Ok, pode parecer exagero para alguns, mas eles estão extremamente felizes com isso. E olhe só, não são extremistas!

Além disso, nenhum deles se encaixa nesse perfil de “ultrarrico”, que tem filhos para ostentar. Uns dias atrás estava tomando café na casa de um desses amigos, que está esperando o quinto herdeiro. Enquanto conversávamos percebi nos olhos da sua esposa o brilho enquanto ela contava sobre a espera de mais um filho e garanto que definitivamente ela não estava influenciada pela ”retórica barulhenta pró-natalidade”. Muito pelo contrário.

Narrativas à parte, casamento e filhos seguem em alta

Felizmente a capacidade de influência de pessoas como aquela colunista de moda parece estar limitada. Tenho a impressão de que as pessoas começam a cair na real lentamente. Uma pesquisa recente do YouGov mostrou que atualmente nos Estados Unidos, onde assim como no Brasil as visões políticas são bastante heterogêneas, não falta interesse por formar famílias.

A grande maioria (93%) dos jovens adultos americanos com menos de 35 anos são casados ​​ou estão abertos ao casamento. Por outro lado, apenas 7% são solteiros e dizem não querer se casar. Da mesma forma, somente 14% dos jovens adultos dizem não querer ter filhos, enquanto os 86% restantes já são pais ou estão abertos à paternidade. 

A verdade é que as pessoas não perderam o interesse em formar sua família, mesmo com uma barulhenta narrativa que dia após dia tenta martelar que muito daquilo que ao longo dos séculos se provou como bom virou coisa de extremistas, reacionários – ou, o clássico “de extrema-direita".

Em uma época de formadores de opinião sem fim, é importante entender que muitos deles estão mais perdidos do que a maioria. E se o preço para se manter firme naquilo que o tempo comprovou que é bom é ser chamado de extremista, tudo bem.

“Tudo o que for verdadeiro, nobre, correto, tudo o que for puro, amável, de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas”. (Fp 4:8)

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