A transformação de startups em unicórnios no ecossistema brasileiro era inevitável até 2021, quando valuations exorbitantes ainda eram entregues. Porém, 2022 freou esses números, registrando assim apenas dois unicórnios: Neon, um banco digital, e a Dock, uma startup de meios de pagamento.
Nesse sentido, o atual cenário não está tão favorável para novos unicórnios, mas podemos listar segmentos que estarão em alta e, certamente, movimentarão rodadas de investimento, M&A's e ditarão tendências para o mercado de inovação. Entre eles estão: agronegócio, finanças, saúde, recursos humanos, mercado imobiliário, marketing, educação e segurança digital.
Enquanto outros setores de startups tiveram queda na representatividade dos investimentos em 2022 no Brasil, o agronegócio cresceu 240% em comparação a 2021. Além disso, o segmento ocupou o terceiro lugar entre as startups que mais fecharam rodadas de investimentos, ficando atrás apenas das fintechs e healthtechs.
Inclusive, as fintechs brasileiras representam 9,1% do mercado nacional de startups, de acordo com o “Mapeamento do Ecossistema Brasileiro de Startups” da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), em parceria com a Deloitte. Não à toa, a América Latina possui um dos ecossistemas de soluções financeiras digitais mais consolidados do mundo. E, claro, o Brasil é um dos protagonistas: são 1.289 startups financeiras no país, segundo dados do Fintech Report 2022, do Distrito. Lembrando que 63% dessas startups foram criadas nos últimos seis anos e a tendência é que elas sigam em expansão ao longo de 2023.
As healthtechs também não podem ficar de fora, afinal o setor da saúde seguirá em alta, especialmente no uso de tecnologias que entregam soluções mais eficientes e acessíveis, digitalização de processos e medicina preventiva, com foco na gestão da saúde e no bem-estar. Além disso, um estudo recente da Liga Ventures, mostra que existem cerca de 250 healthtechs no Brasil. Ao todo, são mais de US$ 42 bilhões em investimentos, ocupando assim o sétimo lugar no ranking mundial.
Já o setor de RH vem sofrendo inúmeras mudanças nos últimos anos e, com isso, tem lidado com diversos desafios, sobretudo, com relação aos distintos modelos de trabalho que foram empregados na rotina das organizações. Hoje, são 274 startups brasileiras neste segmento, de acordo com um levantamento da Liga Ventures, que buscam novas soluções, desde a contratação, gestão e retenção de talentos, a fim de corroborar com a inovação do setor.
Não podemos esquecer das proptechs. Focadas no segmento imobiliário, estas startups auxiliam os corretores, imobiliárias e agentes na organização diária, conversão de clientes, geração de leads e no uso de inteligência de dados. Atualmente, existem 217 startups brasileiras que desenvolvem algum tipo de atividade, serviço e/ou produto relacionados à área, segundo a Liga Ventures. Em alta desde a pandemia da Covid-19, o setor ganhou notoriedade e busca inovar ainda mais em 2023.
Cada vez mais, marketing e branding caminham juntos nas estratégias das empresas. Afinal, pensar no poder de influência, engajamento nas redes e a percepção de marca por meio de conteúdos de qualidade seguem sendo o principal diferencial competitivo no atual mercado. Considerado um segmento oportuno para as startups, a tendência é que, neste ano, haja ainda mais conexão entre marketing, personalização e alta tecnologia. Isto reforçará especialmente a importância das martechs daqui para frente.
As edtechs também movimentarão o ano de 2023. No Brasil, entre as 678 startups com soluções voltadas para a educação, 46% estão concentradas na educação continuada, enquanto apenas 15,5% olham para a educação infantil e o ensino médio, segundo relatório da Distrito.
E, por fim, as startups de segurança digital, que estarão no mapa dos investidores neste ano, uma vez que cibersegurança, segurança digital e privacidade de dados são temas cada vez mais importantes para o mundo corporativo. Inclusive, de acordo com a pesquisa “Global Digital Trust Insights Survey”, de cada 10 empresas brasileiras, oito afirmam que investirão em segurança cibernética em 2023.
Portanto, o ecossistema de inovação brasileiro superou as expectativas nos últimos anos e apostou mais do que o esperado no desenvolvimento econômico, sobretudo, quando o assunto são produtos de inovação. Ocupando o 57º lugar no Índice Global de Inovação (IGI) entre 132 países, o cenário das startups brasileiras neste ano será desafiador. Nesse sentido, gostaria de deixar uma provocação: 2023 será o ano mais sustentável financeiramente para as startups?
Pense nisso!
*Amure Pinho é empreendedor há mais de 20 anos, já foi presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), é investidor-anjo em mais de 45 startups e fundador do http://Investidores.vc, plataforma de investimento em startups que já investiu mais de R$25 milhões nos últimos anos.
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