• Carregando...
Lula larga perdendo em disputa com Paulo Guedes
| Foto: Atila Alberti/Tribuna do Paraná

O ex-presidente Lula decidiu colocar a economia no centro de seu discurso político pós-prisão. Ele chamou o ministro da Economia, Paulo Guedes, de "demolidor de sonhos", em um sinal de que pretende apelar à nostalgia dos primeiros anos de seu governo.

Essa estratégia tem suas razões políticas, mas tem uma grande falha: a realidade econômica é de uma melhora consistente após um desastre provocado por um governo do PT apoiado por Lula. A inflação está mais do que sob controle, com o mercado prevendo que ela não chegará a 4% ao ano nos próximos anos. Os juros básicos nunca foram tão baixos. Há sinais de melhora no consumo e nos investimentos. O desemprego, embora ainda alto, está cedendo e os dados da criação de empregos formais são animadores.

É verdade que a retomada da economia é lenta, por causa de uma combinação de fatores. Internamente, os primeiros meses do governo Bolsonaro provocaram dúvidas sobre sua capacidade de aprovar reformas, o que manteve os investimentos em modo de espera. O ritmo de abertura de vagas ainda não permite grandes saltos no consumo das famílias. No exterior, o clima de disputa comercial e o menor crescimento reduzem o impacto do câmbio mais favorável às exportações.

Há uma dose grande de hipocrisia na versão lulista de que as reformas de linha liberal estão provocando o empobrecimento da população. A maior recessão da história do país começou em 2014, ano da reeleição de Dilma Rousseff, e se aprofundou nos dois anos seguintes. A explosão da dívida pública, associada a um primeiro ano de segundo mandato sem qualquer avanço na gestão das contas públicas, fez com que o ciclo recessivo fosse mais longo e penoso do que seria em condições normais.

Das reformas aprovadas entre os governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, nenhuma fez alterações que pudessem ter o efeito de empobrecer a população. O teto de gastos, que poderia em última instância retirar recursos de alguns serviços públicos, só será atingido no ano que vem. Até agora, a receita do governo foi tão abaixo do esperado que ele não conseguiu gastar o teto.

A reforma trabalhista, que deve ser alvo de Lula em sua nova fase, não altera a remuneração do trabalhador, nem facilita demissões, ao mesmo tempo em que também não é capaz de criar demanda pela criação de mais empregos formais. Ela apenas disciplina novos formados de contratos (o que pode aumentar a formalização) e retira vários anacronismos da legislação. Seu maior mérito provavelmente é a redução de contenciosos na Justiça do Trabalho. E a reforma da Previdência nem foi promulgada.

A estrutura institucional da economia brasileira ainda não evoluiu o suficiente para dizermos que houve um choque liberal. As privatizações, por exemplo, ainda estão em fase de estudos e o que andou foram concessões que já estavam na pauta do governo Dilma. O PAC ainda tem obras atrasadas (sim, seus esqueletos ainda existem) e o país precisa chegar a um modelo mais funcional para tocar obras públicas.

Mesmo propostas que têm potencial para desamarrar a vida do empreendedor, como a MP da Liberdade Econômica aprovada neste ano, ainda têm um caminho para terem efeitos reais. No lado da abertura comercial, houve avanços com acordos como o UE-Mercosul, mas isso ainda não se traduz em tarifas menores e maior inserção internacional.

O Estado no Brasil faliu durante a recessão de 2014-2016 e isso não foi obra de uma visão liberal da economia. No momento, estamos apenas na fase de reforma do gasto público. As propostas de emendas constitucionais enviadas pela equipe econômica na semana passada são mais um passo para isso. Não se pode acusar um Estado que recolhe 33% do PIB em impostos e gasta quase 40% do PIB de ser liberal ou "neoliberal".

No longo prazo o ajuste vai permitir que o país tenha juros mais baixos, recupere o grau de investimento e tenha capacidade de manter os programas sociais que realmente entregam retorno para quem precisa. O que funciona, como Bolsa Família e os gastos em educação, vai permanecer.

Siga o blog no Twitter.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]