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Em 2005, um flagrante de corrupção nos Correios deu origem às investigações que revelariam o escândalo do mensalão. Vinte anos depois, o rombo nos Correios volta às manchetes. O elemento comum na paisagem, com extensão de duas décadas, é o governo do PT.
Eis o desafio para os sábios: a resistência ao tempo de uma empresa anacrônica, uma administração anacrônica, um partido anacrônico e um presidente anacrônico. O que explica esse fenômeno? Que mágica estaria por trás dessa espécie de reencarnação do que foi superado, entre outras coisas, porque deu errado? Ou melhor: porque deu muito errado.
A projeção atual para o rombo nos Correios, tendo em vista o próximo exercício, ultrapassa a casa dos R$ 20 bilhões. Como reagir a uma calamidade dessas? Injetando mais dinheiro, claro. Já que a norma é o anacronismo — e a escola, o fisiologismo —, a coerência manda gastar.
A empresa sinalizou a necessidade de uma nova injeção de 20 bilhões de reais, e a operação já está desenhada: a contratação do empréstimo dessa quantia acaba de ser aprovada pelo Conselho de Administração dos Correios, e cinco bancos já apresentaram proposta — Banco do Brasil, Safra, BTG Pactual, ABC Brasil e Citibank.
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Quem paga a conta é esse que está aí no espelho olhando para você
Há também outra ideia fértil em gestação: a criação de uma “taxa de universalização” para sustentar os Correios. Você certamente considera mais do que justo enfiar a mão no bolso para ajudar a tapar o rombo dessa estatal que tanto o auxilia. O nome do imposto é especialmente inspirado: provavelmente o autor do batismo da “taxa de universalização” imaginou que não haveria nada mais simpático do que universalizar o rombo.
Sempre que você vê empresas estatais deficitárias patrocinando projetos privados, você se enche de orgulho. Com certeza o anima a ideia de ajudar a cobrir o prejuízo dos Correios para que essa marca possa continuar concedendo patrocínios milionários a artistas da MPB. Aí você vai ao show, paga uma fortuna pelo ingresso e se sente duplamente orgulhoso.
Se, por acaso, você não votou no Lula, fica sendo a sua oportunidade de contribuir com o projeto nacional de privatização dos lucros e socialização dos prejuízos.
O voto em Lula na última eleição foi recomendado por economistas consagrados, inclusive participantes da implantação do Plano Real. Parte deles hoje está em silêncio, e outra parte está criticando o descalabro econômico. Provavelmente nunca tinham ouvido falar no PT e não tinham ideia de como seria um governo Lula.
Quando os escândalos se iniciaram em 2005, com a corrupção nos Correios, esses economistas deviam estar de férias. E, quando o PT tentou barrar o Plano Real e a responsabilidade fiscal, eles deviam estar olhando para outro lado.
Parte importante da elite econômica e acadêmica achou melhor fazer cara de nojo para a política bem-sucedida de Paulo Guedes. Surfaram a onda do salvacionismo progressista — e replantaram o anacronismo petista. Agora é tarde para tentarem se desvencilhar do abraço em Lula e Haddad, o economista providencial.
Mas estão todos bastante remediados para sofrer com isso. Sofrimento mesmo, só para os que acreditaram neles.





