O rombo nas contas públicas, calculado pelo Banco Central, é cerca de R$40 bilhões superior ao déficit divulgado pelo Ministério da Fazenda. Quem está certo?
O Ministério da Fazenda, claro. Por quê? Porque o Haddad é legal e não ia mentir. Por que não ia mentir? Porque quando ele foi escolhido pelo Lula, dentro da cadeia, para ser candidato a presidente, foi feito um pacto de amor. E quem ama não mente - pelo menos para aqueles que são objeto do seu amor. Lula e Haddad declararam seu amor aos brasileiros. Em 2022 o amor venceu. Pode confiar.
Mas e essa campanha agressiva do presidente da República contra o Banco Central, insinuando que o presidente da instituição é inimigo da nação? Isso não levanta suspeitas sobre a idoneidade do governo quanto às informações sobre o déficit fiscal - que, na prática, vão fundamentar a política monetária do Banco Central?
Não. Aquilo foi só um ligeiro desentendimento. Uma rusga. Uma briga entre flamenguistas e vascaínos - como Lula classificou certa vez a reação sangrenta do governo iraniano à oposição no país. Nada que não se resolva com uma rodada de cerveja numa mesa de bar.
Mas o bar seria escolhido pelo ministro da Fazenda ou pelo presidente do Banco Central?
Deixa que o Haddad escolha. Não esquece o violão.
Ok, tudo bem que o Haddad escolha o bar. Mas a lei do Arcabouço Fiscal não dava ao Banco Central a incumbência de informar o resultado das contas públicas?
Por que agora que apareceu uma diferença de R$40 bilhões no prejuízo os dados do BC não servem mais?
Porque o BC não estava num dia legal. Pode acontecer com qualquer um. E se a invenção do tal arcabouço foi justamente para liberar a gastança - gastança no bom sentido, claro - o governo do amor não se deixaria levar pelo mau momento de uma pequena parte da sua burocracia para contaminar o alto astral do todo. E de mais a mais, o que são R$40 bilhões? Um dos maiores motivos de estresse do brasileiro é pensar demais em dinheiro. Pensa no amor que passa.
Não é um pouco desconfortável ter instituições públicas divergindo tão amplamente sobre dados essenciais? Não gera insegurança jurídica?
Isso vai acabar. O governo do amor está fazendo um grande esforço para tirar as estatísticas e os indicadores da frieza do universo matemático, onde não há um pingo de beleza e de compaixão. Daqui a pouco os números estarão todos dançando conforme a música, porque sem música não se vive. Os números não mentem. Quem mente são os adestradores dos números. Mas isso também se resolve com uma rodada de cerveja.
Desce mais um superávit!
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