Há, como em outras manifestações públicas, uma disputa de números para saber quantas pessoas estiveram na Avenida Paulista no último dia 7 de setembro. Segundo o Monitor do Debate Político no Meio Digital, mantido pela Universidade de São Paulo, foram cerca de 45 mil. A instituição considera as medições com base em fotografias e contagem de cabeças por registro no horário de pico do ato, no momento em que o ex-presidente Jair Bolsonaro falava ao público presente. Sem considerar qualquer comparativo com outros números, é bem menos gente do que na manifestação de 25 de fevereiro. A adesão em queda, além de evidenciar o baixo engajamento das pautas levadas à rua, vem, dessa vez, somada a um novo elemento: a divisão do grupo.
Há, nesse momento, um desafiante no seio do bolsonarismo: Pablo Marçal (PRTB). Ele não apenas disputa a hegemonia consolidada da família do ex-presidente no campo da direita como também é um rival de atenções. O ex-coach aposta numa estratégia ousada de exposição, e isso se fez também na Avenida Paulista, quando tentou protagonizar o ato ao tentar aparecer depois de Bolsonaro no palanque.
O que ficou no noticiário foi a guerra interna num movimento que deixou de ser monolítico, e que, aparentemente, vai sendo tomado pela dúvida em relação a qual líder seguir
Marçal antecipou o retorno de sua frustrada viagem à El Salvador, onde foi esnobado pelo presidente Nayib Bukele, com quem pretendia ter um encontro político. Resolveu ir de última hora até o ato bolsonarista para tentar a sorte. Queria subir no carro de som em que estavam outros concorrentes, como Marina Helena (Novo) e Ricardo Nunes (MDB). Acabou impedido de subir no veículo. Marçal usou as redes para reclamar: “Vocês acreditam que eu fui subir no caminhão e não deixaram? Então, obrigado pelo carinho, não sei quem mandou fechar o caminhão”, questionou. Em nota, Bolsonaro afirmou que havia sido ele a barrar Marçal porque este queria “fazer palanque à custa do trabalho e risco dos outros”.
O ex-presidente também compartilhou um vídeo com ataques pesados ao ex-coach. Nele, a imagem de Marçal aparece carimbada com uma série de adjetivos. “Aproveitador”, “arregão” e “traído”. Ele é comparado com o ex-governador João Doria, o ator Alexandre Frota e a jornalista Joice Hasselmann. A peça alerta que “a direita não pode ser enganada novamente e se dividir”, além de questionar a disposição do candidato do PRTB de enfrentar Alexandre de Moraes.
Durante a manifestação de Bolsonaro, outra situação chamou a atenção. Poucos metros de onde ele falava, estava outro trio elétrico. Irritado com o barulho e a concorrência da atenção, ameaçou sabotar o veículo. “Arranca o cabo da bateria desse carro. Se esse picareta quer fazer um evento, anuncie, convoque o povo e faça. Não atrapalhe pessoas que estão lutando por algo muito sério em nosso país”, disse indignado, provavelmente se referindo a Marçal.
A competição que se estabeleceu entre Marçal e o ex-presidente escalou a ponto de se tornar o principal fato a repercutir no evento. Mais do que as críticas ao governo Lula, mais do que o tom de desafio ao STF e a defesa do impeachment de Alexandre de Moraes, o que ficou no noticiário foi a guerra interna num movimento que deixou de ser monolítico, e que, aparentemente, vai sendo tomado pela dúvida em relação a qual líder seguir.
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