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O número de americanos que foram imunizados com duas doses de vacina é crescente. Na última semana, ultrapassou 42% da população. Isso representa mais de 140 milhões de pessoas. Os efeitos já são evidentes. Segundo o Centro de Prevenção e Controle de Doenças, o número de casos novos de Covid-19 no dia 12 de junho foi de 9.587, uma queda de 31% em relação ao dia anterior. O índice de mortalidade também vem decrescendo. Com isso, os EUA pavimentam um caminho seguro e natural para a flexibilização de restrições.

A realidade brasileira, entretanto, é bastante diferente. Aqui, apenas 11% fizeram o regime completo de imunização, o que é insuficiente para garantir a proteção de todos. Tanto é assim que o país continua com altos índices de contágio. Em 11 de junho foram registrados 85.149 casos novos e 2.216 mortes. Mesmo assim, um dia antes, Jair Bolsonaro estava a falar da desobrigação do uso de máscaras por vacinados e já contaminados.

Em evento no Palácio do Planalto, sem disfarçar o tom de provocação, o presidente disse que havia conversado “com um tal de Queiroga”, e que este iria “ultimar um parecer visando desobrigar o uso de máscara por parte daqueles que foram vacinados ou que já foram contaminados”.

Além das vacinas, um dos alvos preferidos de Bolsonaro são as máscaras, vistas por ele e seus apoiadores como instrumentos de controle social. Para essa gente, a imposição de seu uso contrariaria o direito de livre escolha. Como se num contexto de emergência coletiva tudo fosse resumido à mera questão de opção individual. É uma leitura deturpada do que vem a ser o exercício da liberdade.

O anúncio não tem base técnica alguma e pegou os integrantes do Ministério da Saúde de surpresa. Ainda não se sabe ao certo efeito das vacinas na transmissão do Coronavírus, e mesmo os contaminados podem voltar a adquiri-lo.

Ainda em fevereiro, em meio a uma de suas lives, Bolsonaro mencionou um suposto estudo alemão que apontava para malefícios causados pelo uso de máscaras por crianças. “Leva em conta diversos itens: irritabilidade, dores de cabeça, dificuldade de concentração, diminuição da percepção de felicidade, recusa em ir para a escola ou creche, desânimo, comprometimento da capacidade de aprendizado, vertigem e fadiga”, disse o presidente na época.

Fake news. O que ele citava, na verdade, era uma enquete online feita por alguns pesquisadores. O questionário não tinha nenhum rigor científico, nem os participantes estavam organizados por grupos de controle. Ainda assim, foi distorcida por Bolsonaro de modo a virar panfleto do negacionismo militante.

A postura do mandatário é coerente com a de seu governo, que, ao longo de 2020, não fez uma única campanha institucional promovendo o uso de máscara. Muito pelo contrário. Sempre fez questão de aparecer em eventos públicos sem ela. De tal forma que o uso do objeto passou a ser mal visto no Palácio Planalto.

Após mais de um ano, ainda com a doença num patamar elevado de casos e de mortes, é óbvio que a sociedade está cansada e desgastada da pandemia. O presidente já identificou essa condição e, ao invés de apressar a resolução do problema, atua de forma a simular uma normalidade que ainda está distante. A tentativa de viabilizar uma flexibilização do uso de máscaras no Brasil não nasce da consciência de Bolsonaro de que isso seja possível ou adequado para o nosso momento, e sim como forma de boicotar os protocolos sanitários.

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