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Já havia escrito, em meados de abril, durante o auge da crise de popularidade de Lula, que, mesmo com a rejeição em alta naquele momento, ele era um nome difícil de ser batido nas eleições de 2026. O cenário político, a partir de agosto, mudou consideravelmente com a introdução da crise geopolítica entre Brasil e Estados Unidos e a atuação ostensivamente imprudente, radical e extremada de Eduardo Bolsonaro no exterior. Imaginando que dobraria o Supremo Tribunal Federal, o que o deputado conseguiu foi instaurar uma guerra interna no campo oposicionista e conceder a Lula um discurso, uma causa e uma linha de argumentação contra seus adversários.
A menos de um ano das eleições, Lula deixou de ser apenas competitivo para tornar-se o favorito. A última pesquisa Atlas/Bloomberg consolida o crescimento do presidente, mostrando o petista com 51,2% de aprovação e 48,1% de rejeição – cenário inverso do constatado em janeiro, quando as proporções eram rigorosamente opostas.
Já é possível antever o discurso que Sidônio vai tentar encaixar no ano da eleição: enquanto Lula teria uma agenda de país, a oposição teria uma agenda de destruição do país. Se vai colar não se sabe
No início do ano, ele detinha 51,4% de desaprovação e 45,9% de aprovação. Seus números, outrora negativos, agora também são crescentemente positivos quando comparados com possíveis concorrentes que despontam na ausência de um Jair Bolsonaro que continuará preso. A margem de diferença varia de 8%, em simulações com Tarcísio de Freitas e Michelle Bolsonaro, até 17% com Ronaldo Caiado e Ratinho Júnior.
Lula aproveita o bom momento para acentuar sua agenda desenvolvimentista, criando e ampliando programas que fortalecem sua posição junto à base social. E isso se deu a partir da aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais – pauta que contou com votos até da oposição. Em cima da vitória política, ele reciclou até mesmo o discurso do “nós contra eles”, agora disfarçado de defesa da justiça tributária. Mesmo a crítica de que o governo só pensa em arrecadar vem colando cada vez menos, já que Sidônio Palmeira encontrou um antídoto político aparentemente eficaz: “Estamos cobrando os mais ricos, que pagam menos impostos que os mais pobres”.
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O momento é tão positivo para Lula que até mesmo a entrada de um radical de esquerda como Guilherme Boulos no Ministério da Secretaria-Geral da Presidência passou quase incólume. No final de 2024 e até no início de 2025 haveria consternação, críticas e reações muito maiores dos agentes políticos e econômicos – mas não agora.
A nomeação de Boulos compreende mais uma etapa da estratégia de Lula visando as eleições de 2026. Depois das manifestações lulistas contra a PEC da Blindagem (equivocadamente apoiada pelos bolsonaristas), o Palácio do Planalto parece ter consolidado a percepção de que a esquerda tem capacidade de rivalizar com a direita nas ruas. O líder do MTST terá a função de articular militantes para materializar, na forma de manifestações, o apoio às pautas do governo – algo que era impensável até poucos meses atrás.
Já é possível antever o discurso que Sidônio vai tentar encaixar no ano das eleições: enquanto Lula teria uma agenda de país, a oposição teria uma agenda de destruição do país. Se vai colar não se sabe, mas os indícios estão todos postos aí, com inequívoca contribuição de Eduardo Bolsonaro e sua turma, que parecem mais eficientes em fortalecer Lula e atacar os que se identificam como alternativas no campo oposicionista do que em obter a tal da anistia para o pai.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos




