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Guilherme Macalossi

Guilherme Macalossi

Tarifas

Alguém ainda acredita nas promessas de Eduardo Bolsonaro?

Eduardo Bolsonaro
Deputado diz que diplomacia brasileira "não teve qualquer mérito" na retirada parcial do tarifaço aos produtos brasileiros. (Foto: Renato Araújo/Câmara dos Deputados)

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Eis que toda a militância de Eduardo Bolsonaro em favor de tarifas e sanções resultou no roteiro de uma ópera bufa. De uma chanchada internacional eivada de expectativas quebradas. Disse que trabalharia para boicotar encontros entre autoridades brasileiras e americanas. As autoridades se encontraram. Avaliou então que tais encontros não levariam a avanços concretos. Os avanços ocorrem. Disse que Trump não recuaria nas tarifas. O recuo veio. Agora trata de minimizar o recuo. E isso também não para de pé. Quem ainda acreditará em suas promessas?

“A decisão dos EUA decorreu apenas de fatores internos, especialmente a necessidade de conter a inflação americana em setores dependentes de insumos estrangeiros”, escreveu Eduardo Bolsonaro no X. Sua narrativa ignora que o próprio documento da Casa Branca menciona as negociações entre Brasil e Estados Unidos, bem como a validade retroativa de seus efeitos para a exata data do encontro entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário Marco Rubio. Ou Trump resolveu citar Lula no comunicado apenas como efeito da “química” entre os dois? Quanta generosidade.

Ao invés de conceder uma vitória a Trump, como recomendou certa feita Tarcísio de Freitas, o que o governo brasileiro fez foi, no mínimo, ganhar de presente uma vitória a ser explorada no âmbito interno do Brasil. Isso sem abrir mão de nada

Por óbvio, o governo americano fez um cálculo pragmático, com vistas ao processo eleitoral do próximo ano. Os americanos, como também os brasileiros, votam com o bolso. Trump não deseja perder as eleições legislativas como perdeu as eleições municipais. E isso o obrigada a uma mudança objetiva na sua linha de ação. Ainda assim, parece inequívoco que o governo brasileiro soube capturar tal oportunidade E transforma-la num ativo.

Ao invés de conceder uma vitória a Trump, como recomendou certa feita Tarcísio de Freitas, o que o governo brasileiro fez foi, no mínimo, ganhar de presente uma vitória a ser explorada no âmbito interno do Brasil. Isso sem abrir mão de nada.

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Lula terá muito o que explorar em 2026. Poderá bater na família Bolsonaro acusando-a de tramar contra os interesses do Brasil, poderá apontar que sugestão de Tarcísio de Freitas para resolver o problema resultaria na desmoralização do país, e poderá, por fim, usando o próprio documento da Casa Branca, dizer que foi seu diálogo com Trump que abriu as portas para a construção de uma solução.

Poucos meses atrás, Eduardo Bolsonaro, em uma entrevista para a jornalista Bela Megale, vaticinou sobre quais seriam os possíveis resultados de sua empreitada internacional junto ao governo Donald Trump contra as instituições brasileiras. “Os meus planos aqui são: ou tenho 100% de vitória, ou 100% de derrota”, disse. Na época confiante, propunha uma cruzada até dobrar o que chama de “regime”. Instou a oposição, inclusive com ataques a aliados, a seguir sua estratégia extrema em nome de um propósito que, na prática, era inalcançável. E fracassou, como apenas os não iludidos poderiam suspeitar.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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