Os golpistas saíram do armário com a denúncia feita por Fábio Faria e Fabio Wajngarten. A dupla se postou diante do Palácio da Alvorada para informar que, segundo uma auditoria, a campanha do candidato a reeleição Jair Bolsonaro teria sido prejudicada porque rádios do interior do Nordeste deixaram de reproduzir 154 mil inserções em suas respectivas programações, criando um desequilíbrio em favor de Lula. O anúncio veio logo após a tentativa de homicídio quádruplo perpetrada por Roberto Jefferson contra agentes da Polícia Federal. O tiroteio iniciado pelo ex-mensaleiro e aliado de primeira hora do Planalto atingiu em cheio o governo. O movimento de Faria e Wajngarten parecia mais um factoide de maneira a virar a página negativa do atentado. E de fato era.
Como conjunto probatório inicial, a campanha de Bolsonaro encaminhou ao Tribunal Superior Eleitoral um relatório considerado “apócrifo” por Alexandre de Morais. Em despacho, o magistrado determinou que, em 24 horas, fossem apresentados documentos sólidos de maneira a consubstanciar a acusação. No limite do prazo, foi juntada uma miscelânea de áudios e outros documentos, dentre eles uma planilha amostral de 8 rádios que não teriam veiculado inserções. As informações foram colhidas por uma empresa de Santa Catarina chamada Audiency Brasil Tecnologia LTDA, cujo ramo de atuação passa longe da auditoria. Atua no ramo de “desenvolvimento e licenciamento de programas customizáveis”.
Desconstruída em público e devidamente arquivada, a denúncia da campanha de Bolsonaro contra as rádios teve a serventia de escancarar as intenções de todos aqueles que adorariam dar uma quartelada.
As inconsistências se cumularam desde o início. Dos erros formais envolvendo o número do dial e o nome das rádios mencionadas até a confusão entre o que é sinal de rádio e o que streaming, e quais são as obrigações legais das emissoras. De imediato, a Corte publicou uma nota lembrando o óbvio: são as coligações e partidos políticos os responsáveis por monitorar e fiscalizar a reprodução de suas peças eleitorais. Ainda assim, a militância bolsonarista estava em êxtase, e isso foi amplificado pela demissão de Alexandre Gomes Machado que atuava no TSE integrando o departamento responsável pela organização dos planos de mídia.
A associação entre a denúncia e o afastamento foi imediata. Machado prestou depoimento na Polícia Federal e apontou que teria alertado sobre falhas na fiscalização do TSE desde 2018, e que a rádio JM ON LINE havia deixado de veicular 100 inserções da campanha de Bolsonaro. Ocorre que a exoneração se deu pela conduta do servidor e, segundo nota do TSE, por “reiteradas práticas de assédio moral inclusive por motivação política”. Em suas redes sociais, ele divulgava conteúdo bolsonarista. Já a rádio por ele mencionada informou que foi a campanha de Bolsonaro que não encaminhou o material a ser divulgado em sua programação.
O que temos é o roteiro de um contencioso armado para criar um terceiro turno. Como o questionamento das urnas eletrônicas resultou em fracasso, o alvo foi movido, bem como a narrativa. As acusações feitas agora buscam associar o TSE a um conjunto de rádios do interior do Nordeste que teriam como objetivo lesar e prejudicar a campanha de Bolsonaro. Ainda que nada pare de pé, serve como base para a gritaria nas redes sociais e para subsidiar as teorias conspiratórias das mais tresloucadas.
Desconstruída em público e devidamente arquivada, a denúncia da campanha de Bolsonaro contra as rádios teve a serventia de escancarar as intenções de todos aqueles que adorariam dar uma quartelada. Teve até quem jogou no lixo o que restava de biografia e reputação em nome do “adiamento das eleições”, sonhando que o presidente daria um pé na porta do tribunal eleitoral e decretasse isso já no mesmo dia. Tiveram as expectativas frustradas, ainda que tenham conseguido plantar uma história suficientemente complexa para que possam promover a bagunça se não vencerem a eleição.
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