Fernando Haddad está preocupado com as contas do governo Lula. Que bom. Em entrevista à jornalista Monica Bergamo, da Folha de São Paulo, chegou a dar razão aos agentes financeiros que, segundo o ministro da Fazenda, estão preocupados “com a dinâmica do gasto daqui para frente” e admitiu os riscos envolvidos: “A soma das partes, das rubricas orçamentárias, pode fazer com que o arcabouço fiscal aprovado por este governo não se sustente”, alertou. Parece o discurso de um “faria limer”.
A busca do equilíbrio fiscal apenas pelo lado da arrecadação parece ter encontrado seu limite. Mas, mesmo que soem corretas, adequadas e prudentes as palavras ditas pelo ministro Fernando Haddad sobre a trajetória da dívida pública e o risco fiscal do governo, cabe sempre lembrar que, ao fim e ao cabo, o que vale mesmo é a decisão do presidente Lula. E é aqui que mora o problema.
No curto prazo, o governo até pode criar uma bolha de prosperidade com expansão fiscal, mas a história econômica recente do país prova que isso é alimentar a crise do dia seguinte
Até aqui, o que o presidente tem feito é desautorizar todo e qualquer esforço apresentado pela equipe econômica de controlar os gastos públicos. Ainda em junho, quando se cogitou alterar a previdência militar e desvincular o Benefício de Prestação Continuada do salário mínimo, Lula contemporizou a necessidade de reduzir gastos: “O problema não é que tem que cortar, o problema é saber se precisa efetivamente cortar, ou se a gente precisa aumentar a arrecadação”, afirmou.
Foi o mesmo que jogar um banho de água fria nas ideias que estavam sendo ventiladas. Questionado pela Folha se “os gastos são imexíveis para Lula”, Haddad não deu certeza de nada: “Não posso antecipar a avaliação que ele está fazendo”, respondeu. Parece antever o possível insucesso das conversas com o chefe.
O que Lula parece desejar é uma equação impossível, em que não se revisem despesas e, ao mesmo tempo, os juros caiam. Mas não há milagre. Em evento do mercado financeiro realizado em São Paulo, Roberto Campos Neto lembrou a necessidade de uma agenda fiscal em sintonia com a política monetária: “Quando se olha na história do país, todas as vezes que os juros foram mais baixos estavam associados a um choque fiscal positivo”, disse. Em outras palavras: o que reduz a Taxa Selic não é o falatório ou a gritaria política, mas a ação efetiva da Fazenda na busca do equilíbrio fiscal.
Campos Neto aproveitou também para lembrar o risco envolvido em uma queda artificial dos juros. “Sem ter a âncora fiscal, é equivalente a produzir um ajuste de inflação a médio prazo”, alertou. Isso equivale a punir a população com aumento geral de preços.
Clichês existem também porque são verdadeiros. Não é demais lembrar que responsabilidade fiscal é sinônimo, e não antônimo, de responsabilidade social. No curto prazo, o governo até pode criar uma bolha de prosperidade com expansão fiscal, mas a história econômica recente do país prova que isso é alimentar a crise do dia seguinte. E, quando ela vem (e sempre vem), acaba explodindo com mais força entre os mais pobres.
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