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Bolsonaro e o tratoraço.
Bolsonaro e o tratoraço.| Foto:

No último dia 16 de abril, a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) abriu sua sede em Macapá. Na ocasião, estiveram presentes inúmeras autoridades, dentre as quais o senador Davi Alcolumbre, ex-presidente do Senado. O leitor curioso deve se perguntar qual a razão de uma estatal que surgiu para atuar no Vale do São Francisco se fazer presente na capital de um Estado que fica, em linha reta, a mais de 1.400 quilômetros de distância. A resposta não obedece à lógica da geografia física, mas sim à lógica da geografia das relações entre o bolsonarismo e o fisiologismo.

Desde o início do atual governo, a abrangência da Codevasf subiu de 27,05% para 36,59% do território nacional. A partir de 2020 foram inclusas sob seu guarda-chuva territórios no Amapá, Paraíba e Rio Grande do Norte. O Amapá é berço de Alcolumbre, a Paraíba é de Welington Roberto, e o Rio Grande do Norte é de Rogério Marinho, nada menos que o Ministro do Desenvolvimento Regional.  O fato de esses lugares serem também currais eleitorais de líderes políticos influentes deve ser pura coincidência do plano cartesiano.

Segundo reportagem do jornalista Breno Pires, do jornal “Estado de São Paulo”, a Codevasf se tornou uma das principais destinatárias dos recursos que compõe o chamado “orçamento paralelo”, esquema  no Ministério do Desenvolvimento Regional que serviria para alimentar “emendas informais” a beneficiar apoiadores do governo. Segundo a publicação, cerca de 3 bilhões em verbas serviriam a tal propósito, sendo um terço do total a ser aplicado pela estatal. Além de Alcolumbre, entre os parlamentares beneficiados estariam os senadores Ciro Nogueira e Fernando Bezerra, além de Arthur Lira, o presidente da Câmara dos Deputados.

O que torna a Codevasf tão atrativa é a possibilidade de executar compras e fazer investimentos sem as regras rígidas que precisam ser cumpridas por ministérios. Os membros do Centrão, ávidos por beneficiar suas respectivas bases eleitorais a usam como atalho para conseguir fotos entregando equipamentos agrícolas, recapeamento asfáltico e, claro, tratores. Tudo em nome do progresso e do desenvolvimento.

A estatal, que tem histórico de corrupção, é, desde muito, um verdadeiro feudo, sendo utilizada como moeda para negociações políticas. A prática não mudou com Bolsonaro. Sua diretoria é composta por indicações de aliados. Seu diretor-presidente é um nome do deputado Elmar Nascimento, já os diretores são ligados aos deputados Arthur Lira, Arthur Maia, Carlos Viana e Aluísio Mendes, e também aos senadores Ciro Nogueira, Roberto Rocha e Fernando Bezerra Coelho.

Bolsonaro foi eleito prometendo uma ampla agenda de privatizações e a quebra de paradigma do que se convencionou chamar de “velha política”. Além de não vender nenhuma empresa pública, aderiu de corpo e alma ao modelo da troca de favores. Ainda mais aviltante que o presidente andar de moto com o “véio da Havan” sem capacete na cabeça é o presidente andar de trator com os membros do Centrão sem vergonha nenhuma na cara.

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