Pauta da oposição é saber se Michelle é uma esposa obediente

A autointitulada “maior oposição da história” é um fracasso político retumbante. É uma avaliação objetiva, sem ódio e nem amor. Nesses três anos do terceiro mandato de Lula, ela não apenas foi incapaz de materializar um discurso propositivo distinto daquele representado pelo bloco liderado pelo petismo, como perdeu oportunidades de fustigá-lo por seus muitos erros, preferindo se concentrar na pauta árida da anistia, cuja chance de prosperar sempre foi meramente residual.

Ideologicamente monopolizada pelo bolsonarismo, a oposição ao governo se perdeu em expurgos e intimidações internas, muitas vezes voltando suas atenções a quem eventualmente se mostrasse desalinhado ao que o núcleo familiar que a comanda achasse adequado em termos estratégicos. E o caso das tarifas trumpistas aplicadas ao Brasil é emblemático. Tarcísio de Freitas que o diga.

Ideologicamente monopolizada pelo bolsonarismo, a oposição ao governo se perdeu em expurgos e intimidações internas

O fim de 2024 e o início de 2025 foram generosos em produzir fatos que poderiam facilmente inviabilizar qualquer pretensão de reeleição para Lula. Entre dezembro do ano passado e março deste ano, o petista enfrentou uma grave crise de confiança no âmbito econômico, com seus indicadores de popularidade se esvaziando na proporção em que subiam rapidamente os preços dos alimentos. O risco inflacionário, resultante da erosão fiscal, seria, por si só, argumento suficiente a ser explorado para desconstrução do governo. “O governo desperdiça e você paga a conta na forma de preço alto”.

Poucas coisas (talvez a segurança) orientam mais facilmente o voto que o bolso do eleitor. Mas isso se perdeu também, consumido no desatino de Eduardo Bolsonaro, que foi aos Estados Unidos defender sanções ao país como forma de obrigar as instituições a pautarem a anistia (sempre ela). Lula capitalizou politicamente como articulador dos setores produtivos, recapturou o discurso nacionalista e acabou beneficiado pela conjuntura americana (de alta inflacionária decorrente das tarifas). Triunfou jogando parado, tendo como camisa 10 o líder do time adversário.

A roubalheira dos descontos ilegais do INSS, o prejuízo crescente das estatais, a insustentabilidade do arcabouço fiscal, a trajetória da dívida, a dificuldade de articular uma política nacional efetiva contra o crime organizado, a condição minoritária do governo no Congresso e o clima beligerante com o Centrão são temas preocupantes e que carecem de uma oposição que tenha não apenas discordância em relação ao que está sendo feito, mas, acima de tudo, que também tenha proposta de país. Qual é a agenda desses que se dizem antagonistas ao PT, afinal? No momento, é saber se Michelle Bolsonaro é uma esposa obediente.