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Guilherme Macalossi

Guilherme Macalossi

Criminalidade

A Faixa de Gaza carioca e os pistoleiros ideológicos

Operação RJ
Agentes da Polícia Civil e do Bope foram mortos durante confronto com traficantes do Comando Vermelho. (Foto: Antônio Lacerda/EFE)

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Um desavisado que ligasse a TV ao longo da última terça-feira (28) poderia imaginar que as barricadas pegando fogo, as colunas de fumaça, os drones disparando granadas, as pessoas correndo para abrigos e o som incessante de disparos de armas de fogo, em meio a um manancial labiríntico de construções precárias, eram mais um conjunto de cenas do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, no longínquo Oriente Médio. Pudera. A Faixa de Gaza, entretanto, é aqui. O Rio de Janeiro – a cidade mais cosmopolita e emblemática do Brasil, e também aquela que sintetiza seus vícios e dramas – viveu um dia de horror, patrocinado pela reação do crime organizado a uma megaoperação conduzida pelo governo fluminense contra os cabeças do Comando Vermelho.

O saldo da ação no Rio ainda é incerto, mesmo com números superlativos, inclusive de criminosos presos e mortos. E aqui vale algum ceticismo, apesar de Cláudio Castro tentar se firmar no cenário nacional como um Capitão Nascimento. É necessário lembrar que outras operações como essa foram realizadas num passado nem tão distante.

O traficante se protege usando o pobre como anteparo. Diante desse cenário, a elite intelectual dos especialistas em segurança e a imprensa politicamente correta passam a condenar, sempre sem observar as nuances e quase sempre de forma uníssona, aquilo que classificam como 'letalidade' das forças de segurança

Nenhuma teve a capacidade de reduzir, no longo prazo, o gravíssimo problema de criminalidade no Rio de Janeiro. Nem mesmo representaram uma virada de chave nas políticas de segurança. Isso porque sempre foram espasmódicas, sempre usadas para fins publicitários, sempre desancoradas de qualquer estratégia mais ampla envolvendo os Três Poderes e as três esferas legislativas. Vem a operação, prendem-se alguns criminosos, outros fogem, segue-se a calmaria, o crime se reorganiza e o ciclo se repete.

Não que não se deva fazer nada, como parte da esquerda parece defender. Muito pelo contrário. É óbvio que as facções precisam ser enfrentadas também nas ruas, onde exercem cada vez mais poder. E não sejamos ingênuos: dadas as condições urbanas dos complexos de favelas que se multiplicam nos grandes centros, em especial no Rio de Janeiro, torna-se quase impossível que qualquer operação não vá resultar numa penca de gente morta – inclusive policiais e moradores inocentes. As facções criminosas, aliás, valem-se exatamente disso para reagir, aplicando táticas de guerrilha e terrorismo.

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A população, que já sofre com o sequestro do cotidiano, a institucionalização da extorsão, o aliciamento obrigatório e a lei paralela do banditismo, acaba também servindo de escudo humano quando este é confrontado. O traficante se protege usando o pobre como anteparo. Diante desse cenário, a elite intelectual dos especialistas em segurança e a imprensa politicamente correta passam a condenar, sempre sem observar as nuances e quase sempre de forma uníssona, aquilo que classificam como “letalidade” das forças de segurança – em alguns casos, até mesmo em compungido e constrangedor tom de luto.

Se, por um lado, o populismo brada “tiro, porrada e bomba”, como se operações como essa fossem suficientes para desarticular as facções, o progressismo denuncia o que chama de “atos opressivos” e “chacina”, demonizando o combate ao crime e idealizando uma conjuntura social sob o prisma da antropologia marxista. Enquanto isso, o cidadão comum, seja do Rio ou outras cidades, que por milagre sobrevive ao tiroteio entre as forças policiais e a bandidagem em nosso permanente estado de Faixa de Gaza, também acaba ficando na mira dos pistoleiros ideológicos.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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