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Gustavo Maultasch

Gustavo Maultasch

Progressismo

A verdadeira essência do comunismo

A essência do comunismo constitui-se dessa força destrutiva da moral e do controle autoritário da sociedade. (Foto: Imagem criada utilizando Open AI/Gazeta do Povo)

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Alguns dizem que não há comunismo no Brasil pois não há socialização dos meios de produção. Está vendo alguém desapropriar propriedades? Não? Logo, não há comunismo. Mas a essência do comunismo não tem nada a ver com a desapropriação dos meios de produção; aliás, a essência do comunismo não tem nada a ver nem com a economia.

Ainda que Marx e outros marxistas tenham hostilizado o capital e a propriedade, isso se devia mais à exploração capitalista do que à posse da propriedade em si mesma. Quer dizer, para Marx, a propriedade dos meios de produção é maligna porque dela decorre a exploração dos trabalhadores. A propriedade não é ruim em si mesma, por causa de algo metafísico, fora da história, mas sim porque permite que o capitalista concentre o capital produtivo (terra, maquinário etc.) e, com isso, obrigue o proletário a vender a sua força de trabalho, a submeter-se à exploração empreendida pelo patrão. (É evidente que, sendo o marxismo uma vulgata cheia de contradições, aleatoriedades e argumentações ad hoc e ex nihilo, diversas outras interpretações são possíveis.)

De acordo com a moral comunista, estará correto aquele que pertencer ao Progresso ou a algum grupo defendido pelo Progresso. É por isso que, entre um bandido e um inocente rico, o esquerdista defenderá o bandido

Na realidade, a essência do comunismo define-se por três fatores fundamentais: a visão maniqueísta da realidade; a destruição da moralidade tradicional e sua substituição por uma moralidade classista; e o messianismo escatológico.

Primeiro, os comunistas interpretam a história e a realidade como uma luta de classes ou, dito de maneira mais abstrata, como uma disputa eterna entre as forças do Progresso e as forças da Reação. Ou você é progressista, socialista, comunista, do Bem, ou você é reacionário, conservador, fascista, do Mal. Não é difícil verificar como isso se traduz na política atual da esquerda: em vez de burguês versus proletário, o progressismo adota uma série de outras díades, não apenas entre identidades de grupo (como homem versus mulher, cis versus trans, branco versus negro), mas também entre fenômenos sociais, como consumo versus meio ambiente, capitalismo versus igualdade, trabalho assalariado versus liberdade, dentre outras. É por isso que, em geral, o comunismo apresenta-se como uma revolta contra o mundo, uma revolta contra a natureza, e uma vontade de destruição: se só existem duas opções, o Bem e o Mal; e se a realidade atual é o Mal; logo, se eu destruir a realidade, contribuirei para a construção do Bem.

Segundo, e talvez o aspecto mais importante, os comunistas pervertem a moral tradicional e adotam uma nova moral derivada desse maniqueísmo. Na moral tradicional, o juízo ético e moral funciona a partir da avaliação dos comportamentos dos agentes envolvidos. Se duas pessoas têm algum tipo de briga, deve-se julgar correta aquela que se comportou de maneira moralmente correta (por exemplo, em legítima defesa). Não interessa a raça, a cor, a orientação política ou qualquer outra característica pessoal ou social dos envolvidos.

Na visão comunista, como a realidade é interpretada como uma simples luta entre o Bem e o Mal, a única posição aceitável é a de se posicionar a favor do Progresso, contra a Reação. De acordo com a moral comunista, assim, estará correto aquele que pertencer ao Progresso ou a algum grupo defendido pelo Progresso. É por isso que, entre um bandido e um inocente rico, o esquerdista defenderá o bandido. A menos que o inocente rico seja, por exemplo, um ambientalista trans gay vegano; aí confunde-se um pouco a lógica comunista, que passa meio que a operar no modo aleatório.

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Por fim, se o comunismo tem o potencial de destruir o Mal, tudo o que existe deve servir ao comunismo; tudo é política, dizem, porque assim tudo pode ser politizado e colocado a serviço do Progresso. A arte, o esporte, a política, a alimentação – tudo passa a ser um “gesto político”, o que significa, para eles, que essa atividade deve ser corrompida em nome do comunismo. A liderança do movimento, arrogando-se a função messiânica, irá “guiar” as massas rumo ao amanhã radiante do Progresso, do fim da história, quando o Mal não mais existirá.

A essência do comunismo constitui-se, assim, dessa força destrutiva da moral e do controle autoritário da sociedade rumo a uma utopia igualitária, sendo a economia apenas um dos seus muitos instrumentos.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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