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Ei, você sabe o que está acontecendo no Brasil? Ou é daqueles que acha que fingir que está tudo bem é a melhor estratégia para que um problema desapareça? Porque, no Brasil das realidades, como diria Guzzo, parece que todo mundo prefere a máxima de que “os olhos não veem, o coração não sente”. Nossa democracia morreu, somos governados por uma juristocracia, enterramos o devido processo legal e a Constituição? Melhor fingir que não sabemos de nada.
Há algumas semanas, a Gazeta do Povo revelou algo gravíssimo – ao menos, que seria gravíssimo se reportado em alguma democracia decente. A notícia de que no Brasil ninguém sabe quantas vozes foram caladas à força pelo Judiciário, quantos perfis e contas nas redes sociais foram varridos do mapa por conta de canetadas dos ministros supremos, faria tremer os poderes e chacoalhar as instituições no mundo civilizado.
Denunciar os arbítrios – e são muitos – é só um primeiro passo e se torna inócuo quando não gera uma onda de indignação e, especialmente, ações concretas para colocar um ponto final nos abusos que temos vivido
Numa democracia, seria inadmissível que uma revelação assim passasse despercebida – como um dos poderes poderia simplesmente se furtar a prestar contas sobre uma ação de tal gravidade, como impor a censura a cidadãos protegidos pelas leis nacionais e internacionais sobre liberdade de expressão e pensamento? Poderia o Judiciário de algum país democrático se negar a informar a sociedade sobre suas ações, como omitir informações sobre quantas vezes e por quais motivos – se é que houve algum – obrigou uma rede social a excluir ou remover uma conta qualquer?
“Ah, mas por aqui não somos uma democracia”, dirão. E é verdade: poderes supremos mandam e desmandam no Brasil há um bom tempo; escolhem qual é a “direção correta”, fazem qualquer coisa – qualquer coisa mesmo – para nos “recivilizar”. No próximo ano, demonstrarão total zelo em fazer com que “votemos bem”. É esta, infelizmente, a realidade – temos personagens que jamais foram eleitos governando de fato o país e que se autocolocaram como salvadores da pátria, empurrando goela abaixo dos brasileiros o que bem entenderem.
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Mas o pior mesmo é o silêncio quase sepulcral da sociedade, que assiste a tudo isso, percebe os rumos do país, mas continua inerte, fingindo que não há nada de errado. Como disse o articulista Edemir Bogesky von Schörner, no artigo A ditadura por escolha: o Brasil está renunciando à liberdade – e ao futuro, “o país caminha para um modelo de controle autoritário não por imposição, guerra civil ou por uma ruptura violenta, mas por decisão institucional, silenciosa e progressiva” – e não parece haver alguém disposto a fazer nada para evitar isso.
Denunciar os arbítrios – e são muitos – é só um primeiro passo e se torna inócuo quando não gera uma onda de indignação e, especialmente, ações concretas para colocar um ponto final nos abusos que temos vivido. A alternativa é permanecer inerte – e ajudar, com nosso próprio silêncio, a calar cada vez mais vozes no Brasil.




