Já ficou chato: de um lado, lulistas, petistas, xandistas, esquerdistas, marxistas, anticapitalistas e afins querendo que o Alexandre de Moraes prenda Elon Musk por não ter cometido crime algum, tachando o bilionário de interesseiro – e golpista, claro; e do outro, bolsonaristas, antipetistas, antixandistas coroando Musk com louros e o elegendo como herói nacional da liberdade de expressão, com direito até a título de cidadão honorário de Cariacica (ES).
Ora, o problema é muito mais sério – e essa polarização tacanha entre “gostar” ou “não gostar” de Musk é tudo o que eles – o Sistema, como diria Constantino, ou o Consórcio, como diria Guzzo – querem para desviar a atenção do real problema. Tanto faz se você gosta ou não de Elon Musk, se acha que ele tem ou não interesses econômicos envolvidos em suas postagens, a questão é que ele trata de um problema real.
A verdade é que o que acontece dentro do Brasil continua sendo praticamente desconhecido fora daqui.
Nada do que Musk disse ou o que os chamados Twitter Files mostraram é novidade – se você é leitor da Gazeta do Povo, um dos únicos veículos que sempre alertou para o apagão de liberdades no Brasil, sabe muito bem disso. Elon Musk não “revelou” que a censura indevida corre solta no Brasil, que as liberdades e a defesa da Constituição e do Estado de Direito andam de mal a pior e que a democracia – a real, não a “relativa” – está capenga há tempos.
O maior mérito de Musk é ter conseguido dar uma visibilidade maior a essas questões por ser quem é. Sejamos realistas: para o resto do mundo, ainda mais neste momento, com guerras pipocando na Europa e no Oriente Médio, o Brasil não é uma questão assim tão relevante. Por mais que algumas vozes tenham tentado mostrar ao mundo o que ocorre por aqui – e é preciso reconhecer o valor dessas iniciativas e incentivá-las – a verdade é que o que acontece dentro do Brasil continua sendo praticamente desconhecido fora daqui. Aliás, até aqui dentro temos gente jurando de pé junto que está tudo bem, o amor venceu e a democracia foi salva.
Elon Musk sempre será notícia e tudo o que ele disser vai atrair atenção da mídia mundial. Por isso, quando ele cita a censura que existe no Brasil e questiona um juiz supremo sobre isso, chama a atenção – e é ótimo, mas não indica necessariamente que algo vá mudar para melhor. Já falei outras vezes: não existem Salvadores da Pátria, e Musk não vai “salvar” o Brasil da censura ou restaurar as liberdades no país.
As declarações de Musk e os documentos do Twitter Files podem, sim, ser um reforço importante nessa luta por liberdade que ainda está longe de terminar. Mas se a discussão sobre os abusos contra o Estado Democrático e as liberdades não avançar, se não houver uma real mobilização do Legislativo e da população em torno da defesa da democracia no Brasil, sinto informar, não vai importar nada o que Musk disse ou não disse.
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