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O desabafo do empreendedor
| Foto: mhouge/Pixabay

Vou comentar brevemente, como é próprio destes artigos, um assunto que me tocou bastante. Eu participei de um encontro empresarial e presenciei o depoimento comovido de um empresário sobre a situação dele e seu negócio. O tema que ele abordou é importante não apenas para empresários, mas também para empregados, profissionais autônomos e investidores.

O empresário relatou sua luta nos últimos 30 anos para iniciar um pequeno negócio, crescer um pouco, chegar a algum sucesso, mas a crise da pandemia trouxe suas agruras: queda nas vendas, altos tributos seguindo sendo cobrados e a decisão de não demitir os empregados, mas mantê-los retidos em casa pelo isolamento social, com alguma redução salarial.

Após sofrer durante os dois anos de pandemia, ele voltou à ativa no ano passado e está tentando se levantar. Porém, segundo seu relato, a pressão governamental em todos os níveis – municipal, estadual e federal –, o alto custo do dinheiro, a burocracia estatal, os altos custos tributários e o vai-e-vem da legislação são fatores de cansaço e estresse. Ele disse que está pessoalmente esgotado, enfraquecido financeiramente e quase desistindo.

Quando nós decidimos por qualquer atividade, como assalariado, trabalhador autônomo, dono de um negócio próprio ou investidor, o primeiro passo é saber que nós estamos dentro de uma realidade chamada Brasil, com suas virtudes e imperfeições

Afora a pandemia, que foi uma tragédia mundial, ele reclamou muito do Brasil e do governo nas três esferas da federação, e disse que luta para fazer tudo certo e dentro da lei, mas não sabe até quando conseguirá. E foi aí que ele chorou. Trata-se de um empreendedor honesto, preocupado com seus funcionários e que, após três décadas, está diante da ameaça de quebrar.

Nos debates, eu fui chamado a dar alguma opinião. Lembrei que quem está de fora não tem a mesma autoridade daquele que está dentro da tempestade e sofrendo os efeitos da crise. De qualquer forma, comecei dizendo que, quando nós decidimos por qualquer atividade, como assalariado, trabalhador autônomo, dono de um negócio próprio ou investidor, o primeiro passo é saber que nós estamos dentro de uma realidade chamada Brasil, com suas virtudes e imperfeições.

Nessa realidade, que começa com nosso país, penso em três atitudes. Então, minha sugestão número 1 é: procure conhecer e avaliar a realidade. Sugestão número 2: Entenda e aceite a realidade. Sugestão número 3: Aprenda a lidar com a realidade. Claro que é muito mais cômodo dar palpites do que estar na posição de quem tem de executá-los.

Raymond Dalio, grande investidor de Nova York, afirma que “não há nada mais importante do que entender como a realidade funciona e aprender a lidar com ela”, e sugeriu que, toda vez em que você tirar uma conclusão ou tiver uma ideia, em vez de dizer “eu estou certo”, pergunte-se: “como sei que estou certo?” Para responder, é útil ouvir outras pessoas e contraditórios de sua própria opinião.

O Brasil é um país imenso, tem uma natureza maravilhosa, é rico de recursos naturais, mas também é pobre em termos de produto nacional por habitante, é uma nação atrasada, com baixa produtividade, o governo é grande e custa caro para a população, e além disso há muita ineficiência e corrupção. Como agravante, a sociedade brasileira vive sob uma multidão de leis ruins, confusas e conflituosas entre si, cuja consequência está no fato de que há mais de 100 milhões de processos em andamento no Poder Judiciário.

O Brasil é um país imenso e rico de recursos naturais, mas é pobre em termos de produto nacional por habitante, é atrasado e tem baixa produtividade, o governo é grande e custa caro para a população, e além disso há muita ineficiência e corrupção

A realidade brasileira começa com esses aspectos referidos, a serem considerados no trabalho de conhecer e aceitar a realidade para, em seguida, aprender a lidar com ela. Não fazer isso é submeter-se às consequências da realidade e, talvez, mudar de atividade ou de negócio. Se mudar de atividade ou negócio e continuar dentro do Brasil, o empreendedor volta a atuar dentro da mesma realidade que o motivou para a mudança. De certa forma, o problema continua o mesmo.

A via sacra daquele empresário é a mesma que acomete milhões de empreendedores brasileiros e acaba afetando, de um jeito ou de outro, os trabalhadores assalariados, os autônomos e os investidores. Há crises que nos são impostas pela natureza, como uma pandemia ou uma seca, mas há crises que se originam em tragédias fabricadas por nós mesmos e nos remetem ao alerta de Shakespeare em Hamlet: “Estão em nós mesmos, meu caro Brutus, e não nas estrelas, as causas de nossas desgraças”.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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