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José Pio Martins

José Pio Martins

O caso africano

Comentário sobre a pobreza das nações

pobreza na áfrica
Foto de 2020 mostra favela na África do Sul: região regrediu economicamente desde a descolonização, no século 20. (Foto: Nic Bothma/EFE/EPA)

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Em 2009, quando a crise financeira mundial seguia fazendo estrago na economia global, circulou um relatório feito pelo Fórum Econômico Mundial sobre a pobreza no mundo, cujas informações e análises ajudaram a fomentar o debate sobre os rumos dos países, sobretudo dos mais pobres.

Entre os assuntos mais pungentes, o relatório declarou que a estagnação econômica da África foi a maior tragédia econômica do século 20. O relatório destacou que em 1970 a África abrigava 10% dos pobres do mundo e 30 anos depois, em 2000, este porcentual se aproximava dos 50%.

Naquela região africana mencionada, o crescimento econômico sempre foi medíocre e a pobreza continuava se mantendo em tal nível que a maioria dos países ao sul do Saara adentrou o terceiro milênio em condições piores do que apresentavam na época em que obtiveram a independência. Ou seja, regrediram.

O relatório, assinado por Elsa Artadi, da Universidade Harvard, e Xavier Sala-i-Martin, da Universidade de Columbia, atribuiu o fracasso africano a alguns fatores, entre os quais destacam-se conflitos militares, corrupção, desprezo pela lei, políticas fiscais indisciplinadas, infraestrutura precária e baixa taxa de investimento.

Segundo o Fórum Econômico Mundial, a estagnação econômica da África foi a maior tragédia econômica do século 20

Uma informação comparativa dava conta de que, ao longo de 25 anos contados a partir de 1974, a renda por habitante na África subsaariana teve queda de 11%, enquanto no restante do mundo ela cresceu, em média, 2% ao ano no período referido.

O relatório tratou também da globalização, que, apesar das críticas, propiciou que, nas regiões onde houve inserção dos países no mercado global, a pobreza fosse reduzida e as condições de desenvolvimento se manifestassem mais rapidamente.

Os resultados da globalização permitem concluir que a ampliação das trocas comerciais, o intercâmbio tecnológico e a importação das inovações foram práticas positivas que contribuíram com o crescimento econômico e o aumento da renda por habitante, que são elementos essenciais para a redução da pobreza.

Fala-se muito que o mundo moderno faz os ricos ficarem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Não é verdade. Em apenas 62 anos, no período que vai de 1960 a 2022, a população mundial saiu de 3 bilhões para 8,1 bilhões de habitantes. Por óbvio, o número absoluto de pobres aumentou, mas não aumentou como fração da população total.

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Nesse contexto histórico, merece destaque o já mencionado caso da África, que se tornou um problema social grave e complexo. Um erro muito repetido é dizer que a globalização empobreceu quem a adotou. Porém, tal afirmação não tem respaldo na realidade.

A questão é que para sair da pobreza, a condição primeira é o crescimento do produto nacional a taxas superiores ao aumento da população. A segunda condição, que depende da anterior, é o aumento da produtividade por hora trabalhada no país.

Para conseguir as duas condições – aumento do produto acima do aumento da população e aumento da produtividade – é necessário que o país incorpore tecnologias modernas, melhore a qualificação profissional dos trabalhadores, aumente os investimentos e se atualize com as inovações tecnológicas, e isso exige que o país se relacione com o exterior.

A globalização, por conduzir as nações a mais abertura internacional, propicia que países atrasados importem investimentos, tecnologias e inovações. Os países que fazem o contrário disso não conseguem elevar a taxa de crescimento do produto nacional e não aumentam a produtividade, logo, não conseguem reduzir a pobreza relativa.

Dizer que a globalização empobreceu quem a adotou é uma afirmação que não tem respaldo na realidade

O caso da África mostra que a saída para aquela região teria sido mais globalização, maior inserção no mercado internacional, mais comércio exterior e mais incorporação de tecnologia estrangeira.

Ao governo cabe tributar e regular a defesa da concorrência, os direitos do consumidor, a preservação do meio ambiente, a garantia dos contratos juridicamente perfeitos, a estabilidade da moeda, a eficiência nos gastos públicos e zelar pela qualidade das instituições.

O assunto é mais complexo que apenas os aspectos aqui abordados. Porém, os pontos acima são obrigatórios para a compreensão da globalização e da diferença de seus efeitos em diferentes países.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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