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Rosário, cidade na Argentina
Rosário, cidade na Argentina| Foto: Pexels

O diplomata Gilberto Amado (1887-1969) dizia: “Eu fico espantado quando encontro um brasileiro capaz de ligar causa e efeito”.  Ao olhar que o mundo, com um total de 193 países, conseguiu colocar somente 35 deles no clube dos desenvolvidos, cabe tentar descobrir o que impede uma nação de se desenvolver e quais as causas desse efeito.

Há países que são castigados pela natureza, sofrem com a falta de recursos naturais e têm geografia desfavorável ao progresso e à criação de riqueza (no sentido de serviços e bens de capital e de consumo). Há também países ricos em recursos naturais que são pobres em termos de padrão de vida, como é o caso - especialmente interessante - da Argentina.

Com posição geográfica privilegiada, território fértil e riquezas naturais abundantes, a Argentina tornou-se um dos países mais ricos do mundo… Mas, nos últimos oitenta anos, o país percorreu longa estrada rumo ao empobrecimento. Analisando o que aconteceu com esse solo rico e belo para mergulhar em profundo atraso, encontramos algumas causas recorrentes.

Entre as causas, oito se destacam. 1) Emitir moeda acima do crescimento da produção por anos e anos, criando uma história de inflação e destruição da moeda nacional. 2) Eleger, por décadas, governos irresponsáveis e gastadores, fazendo do déficit público uma prática contumaz. 3) Criar dezenas de empresas estatais, privatizar e depois reestatizar, sobretudo nos setores da infraestrutura física. 4) Hostilizar o capital estrangeiro e dificultar sua entrada no país. 5) Adotar a cultura do calote da dívida externa e, sistematicamente, deixar de pagar os credores por diversas vezes, tirando o país da rota dos investimentos estrangeiros. 6) Dar calotes na dívida pública interna e prejudicar a população que usou sua poupança para adquirir títulos do governo. 7) Adotar medidas contra o capitalismo de livre comércio e tentar convencer a população de que o desenvolvimento econômico é obra do governo e não das forças produtivas privadas. 8) Elevar desmedidamente a carga tributária e inchar a máquina estatal com excesso de funcionários, benefícios e vantagens para eles e para a classe política.

A Argentina é um dos maiores laboratórios da afirmação feita por Ludwig von Mises (1881-1983), de que a capacidade do governo de fazer o bem é limitada, mas a capacidade de fazer o mal é infinita.

A Argentina se tornou um país masoquista, ao empobrecer e impor sofrimento a seu próprio povo

Este 2024 é o primeiro ano do mandato do presidente argentino Javier Milei, um economista e professor liberal, que deu uma guinada e começou a implantar um modelo capitalista de livre comércio, com redução do tamanho do governo e políticas direcionadas a um sistema econômico centrado no setor privado e nas liberdades econômicas.

Essa mudança em curso na Argentina, após tantos anos de uma espécie de socialismo pelas metades, com Estado inchado, ineficiente e corrupto, permitirá a comparação entre duas propostas de governo e de nação.

É cedo para qualquer prognóstico, mas os primeiros movimentos indicam que, se persistir na estrada da liberdade e conseguir apoio para sua política, a Argentina poderá sair do atraso em que se meteu, sabendo que a recuperação será lenta e custosa. A sociedade é impaciente, principalmente porque o tempo da política é curto e porque, diante de tantos anos de sofrimento, a demanda por melhorias urgentes é enorme.

O exemplo argentino é interessante e útil por se tratar de um caso raro de país premiado com amplas riquezas naturais, que conseguiu chegar entre os dez países mais desenvolvidos do mundo. Mas pelas receitas que adotou desde o fim da Segunda Guerra Mundial, adentrou esta terceira década do século 21 como uma economia destruída, um sistema econômico depauperado e elevados índices de pobreza.

Os países que tiverem vocação para aprender com os erros dos outros têm na Argentina um laboratório útil para compreender a receita do desastre, e descobrir o que não se deve fazer em matéria de política econômica e estrutura de Estado.

A Argentina oferece ao mundo o melhor exemplo sobre como é uma receita de fracasso. Vale a pena prestar atenção a esse nosso vizinho e saber quais políticas e práticas nunca funcionam.

Conteúdo editado por:Aline Menezes
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