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Em artigo anterior, sob o título O Futuro e o Choque de Liberdade, publicado na Gazeta do Povo em 12/01/2024, afirmei que “o nacionalismo e o protecionismo produziram muitos estragos, dos quais a política de informática é apenas um exemplo relevante”, e recebi crítica de um leitor para quem o nacionalismo é amar o país e lutar por ele.
A confusão resulta do entendimento sobre o significado do vocábulo “nacionalismo”, também usado como sinônimo de patriotismo. As duas palavras são comumente usadas como sendo amor à pátria e defesa dos interesses nacionais.
A confusão começa quando duas palavras têm duplo significado, principalmente se um for o oposto do outro. A solução é adjetivar o substantivo para, no contexto do argumento, deixar claro em que sentido a palavra está sendo usada.
Há dois tipos de nacionalismo. O primeiro é o nacionalismo integracionista. O segundo é o nacionalismo rejeicionista. O primeiro é bom e útil ao desenvolvimento nacional. O segundo é prejudicial ao crescimento econômico e ao enriquecimento da sociedade.
O primeiro se especializa em amar o país, abrir-se para o exterior, promover as trocas de mercadorias e absorver os avanços da ciência e da tecnologia gerados no resto do mundo, ou seja, beneficiar-se das relações externas. Por isso é integracionista.
O segundo consiste em odiar os outros, fechar a economia ao comércio exterior, não importar máquinas e tecnologias modernas. Como foi o caso de nossa reserva de mercado de informática que proibia importação do produto e da tecnologia estrangeira, e vedava que empresa estrangeira se instalasse no Brasil. Por isso é rejeicionista.
Com frequência, os países nacionalistas rejeicionistas se tornam marginais e agem na ilegalidade.
Pegue dois países comunistas fechados: Coreia do Norte e Cuba. Como é que eles conseguiram ter veículos, computadores, telefones celulares, internet, equipamentos hospitalares, vacinas, etc?Certamente não foi pelo comércio legal.
Os países fechados ao mundo em geral praticam contrabando, espionagem industrial, importações ilegais, roubo de tecnologias e piratarias em geral. Como afirmei no artigo anterior já referido, o Brasil só não ficou totalmente à margem da tecnologia de informática e de computadores por causa do contrabando.
Em um mundo que produz um turbilhão de tecnologias novas e produtos revolucionários em ritmo acelerado, o país que adota o nacionalismo rejeicionista está condenado ao fracasso e ao atraso.
O escritor inglês Samuel Johnson (1709-1784) disse que “o nacionalismo é o último refúgio dos velhacos”, referindo-se aos picaretas ávidos em tirar vantagens do governo e lucrar com o fechamento das fronteiras do país aos negócios com o exterior.
Para se protegerem da concorrência internacional, certos homens de negócios defendem proibir a importação de produto estrangeiro e a instalação do empresário estrangeiro em território nacional, como era no caso já citado da reserva de mercado de informática no Brasil.
Atribui-se a Will Rogers (1879-1935) a frase: “Desconfie de todo idealista que lucra com seu ideal”. O nacionalismo protecionista, ao rejeitar a abertura externa e a integração com o mundo, pode até beneficiar o empresariado nacional, porém ao preço de atrasar o país.
Em termos comparativos, a economia brasileira é uma das mais fechadas e, sob esse aspecto, sempre foi nacionalista rejeicionista, a exemplo das décadas 1950, 1960, 1970 e 1980, época em que o desenvolvimento econômico e social poderia ter ocorrido se, após a Segunda Guerra Mundial, a doutrina prevalente fosse o nacionalismo integrador.
A rigor, o desmonte dos fetiches nacionalistas e do protecionismo rejeicionista somente começou de fato no início dos anos 1990, no governo de Fernando Collor, quando, ainda que atabalhoadamente, o governo resolveu enfrentar as vacas sagradas do nacionalismo retrógrado e da estatização obesa e ineficiente.
Por fim, é óbvio que o nacionalismo como atributo de amor ao país e defesa dos interesses nacionais é uma virtude, desde que se usem os instrumentos certos, pois, agir como macaco asiático, que observando o peixe se debater contra a correnteza o retirou da água para salvá-lo, é condenar o país ao atraso e o povo ao sofrimento.