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Karina Kufa

Karina Kufa

Difamação

O coração de Elon Musk e a perseguição política até nos gestos

O CEO da Tesla, Elon Musk, gesticula para a multidão na Capitol One Arena após seu discurso durante as cerimônias de posse do presidente dos EUA, Donald Trump, em Washington, EUA, 20 de janeiro de 2025. (Foto: ALLISON JANTAR / EPA /EFE)

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Nos últimos dias, o empresário Elon Musk foi alvo de polêmica após fazer um gesto com as mãos que foi interpretado por alguns como uma saudação nazista. No entanto, quem assistiu à cena percebe claramente que o gesto acompanhava sua fala: “Meu coração está com vocês. É graças a vocês que o futuro da civilização está assegurado. Graças a vocês”, enquanto ele simulava arrancar e jogar o coração para a plateia.

Essa acusação não passa de mais um exemplo de distorção de fatos para fins políticos, algo que já ocorreu no Brasil com figuras como Filipe Martins, assessor internacional do presidente Jair Bolsonaro; Adrilles Jorge, jornalista e vereador de São Paulo; e até mesmo com o próprio presidente Bolsonaro.

O caso de Filipe Martins ocorreu em 2021, quando, após ajustar o paletó durante uma audiência pública no Senado, ele foi acusado de reproduzir o gesto “OK”, tido por alguns como um símbolo do movimento supremacista branco, conhecido como White Power (WP). Segundo a teoria, os três dedos esticados formariam a letra "W", enquanto o polegar e o indicador unidos, com o punho, representariam a letra "P". No entanto, essa associação nasceu como uma piada na internet, em fóruns americanos, justamente para criticar aqueles setores da esquerda que enxergam nazismo em tudo; até mesmo em um gesto inofensivo e amplamente utilizado, de forma voluntária ou involuntária, ao redor do mundo. Essa interpretação particular do gesto sequer era conhecida no Brasil até esse caso, quando foi instrumentalizada por razões políticas.

Essa acusação não passa de mais um exemplo de distorção de fatos para fins políticos

Essa narrativa criada em torno de uma imagem banal, que mostrava o ex-assessor ajustando seu paletó, gerou grande repercussão e levou a uma ampla campanha de cancelamento e assassinato de reputação, dominando o noticiário e as discussões no Twitter e em outras redes sociais por mais de uma semana.

Na ocasião, Martins, que tem ascendência judaica e sempre foi um crítico ferrenho de ideologias racialistas, rejeitou categoricamente as acusações. Ele também recebeu apoio da comunidade judaica, do Governo de Israel e de parlamentares e diplomatas de diversas nações e etnias. Ainda assim, foi submetido a intensa pressão de opositores políticos e de setores da imprensa, que exigiam sua demissão e até sua prisão.

O ex-assessor internacional foi investigado pela polícia legislativa e indiciado, mas acabou absolvido pelo juiz federal Marcus Vinicius Reis Bastos, da 12ª Vara Federal do Distrito Federal, que afirmou não haver qualquer indício ou fundamento na acusação. Ele também teve êxito em diversos processos judiciais, obtendo indenizações por difamação e calúnia contra quem o acusou de racismo.

Contudo, após o término do Governo Bolsonaro, a 3ª Turma do TRF-1 reverteu a absolvição e determinou a retomada do caso. Dessa forma, ainda hoje, quatro anos após o ocorrido, ele enfrenta processos em razão desse episódio, tendo inclusive sido condenado em primeira instância em dezembro de 2024. A defesa recorre, argumentando que o gesto admite múltiplas interpretações, que não há qualquer indício de intenção discriminatória e que se tratou apenas de um movimento involuntário ao ajustar o paletó. Além disso, denuncia que Filipe é vítima de lawfare por razões políticas, enfatizando que sua ascendência, suas relações pessoais e seu histórico tornam insustentáveis as acusações de racismo.

Adrilles Jorge, por sua vez, foi demitido da Jovem Pan em 2022 após um gesto feito ao final de um debate no programa Opinião sobre falas do apresentador do Flow Podcast, Monark, que havia defendido que o Brasil deveria ter critérios de liberdade mais amplos, como os dos EUA, onde há a possibilidade até mesmo de se criar um partido nazista. No encerramento, ao se despedir, Adrilles levantou a mão direita ao lado do rosto, o que foi interpretado por parte da mídia e políticos como a saudação comumente usada por Adolf Hitler.

O movimento de mão, que em qualquer outro contexto passaria despercebido, foi interpretado de forma sensacionalista como uma saudação hitlerista. A pressão de grupos políticos e midiáticos levou à sua dispensa, evidenciando como determinadas narrativas são construídas para destruir reputações sem provas concretas. Adrilles teve sua denúncia criminal rejeitada pelo TJSP, mas sofreu desgaste com a sua imagem na mídia, a perda do emprego e os custos de sua defesa.

Nos autos do processo em que Adrilles se defendeu, o desembargador Pinheiro Franco, ao avaliar o recurso do MP, entendeu que no programa, o jornalista passou sua posição clara e firme em sentido contrário aos princípios nazistas e comunistas. Ali, para o Tribunal, não passou de um gesto comum de despedida.

Outro episódio marcante ocorreu em 2020, quando Jair Bolsonaro participou de uma live ao lado de Jorge Seif, secretário da Pesca, e Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal, bebendo leite como forma de enaltecer os produtores de leite. O gesto, amplamente compreendido por seus apoiadores como uma valorização do setor produtivo nacional, foi distorcido por críticos que tentaram associá-lo a simbologias supremacistas, ignorando completamente o contexto e as intenções da ação. A acusação absurda demonstrou mais uma vez como opositores se utilizam de desinformação para atacar figuras públicas alinhadas à direita política.

A situação de Elon Musk segue um padrão semelhante. O empresário, que tem desafiado o establishment e denunciado práticas autoritárias de censura nas redes sociais, tornou-se alvo constante de campanhas difamatórias. Qualquer deslize ou gesto fora de contexto é explorado para associá-lo a ideologias condenáveis, desconsiderando a ausência de intenção ou significado real por trás de suas ações. Não há nenhuma responsabilidade sobre essas falsas narrativas e a repercussão que pode criar. Pela política, os desafetos fazem qualquer coisa.

Esses episódios demonstram como a guerra cultural tem se intensificado com acusações infundadas, sendo usadas como armas para deslegitimar e tentar destruir figuras públicas que divergem da narrativa dominante. A facilidade com que setores da mídia e da política se apropriam de imagens descontextualizadas para promover cancelamentos seletivos revela uma preocupante tendência autoritária.

É fundamental que a sociedade rejeite essa cultura do linchamento virtual e exija uma análise mais criteriosa dos fatos, sem se deixar levar por campanhas de difamação orquestradas. O devido processo, a presunção de inocência e o respeito à verdade devem prevalecer sobre interesses ideológicos e políticos momentâneos.

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