Já se passaram mil dias desde que os primeiros tanques russos cruzaram a fronteira da Ucrânia. No mesmo dia em que a guerra de agressão da Rússia superou essa marca, os ucranianos lançaram pela primeira vez mísseis de longa distância contra o país de Vladimir Putin. Esse tipo de armamento estava proibido de ser empregado pela Casa Branca, que somente agora liberou o uso para ataques a alvos em solo russo.
No aniversário de mil dias da invasão, o ditador Vladimir Putin subiu o tom. Ele, que desde o início tem recorrido à retórica do potencial uso de armas nucleares, anunciou uma nova regra nacional para o emprego de uma ou várias bombas atômicas em ações “em defesa” da Rússia.
Ele mandou baixar um decreto que diz que “a dissuasão nuclear visa assegurar que um adversário potencial entenda a inevitabilidade de retaliação no caso de uma agressão à Federação Russa”. E não só. O texto diz que a retaliação nuclear inclui ataques aos aliados de Putin. Entre eles, o Irã, Síria e, por que não, o Hezbollah.
O tema reacendeu a discussão sobre o risco iminente de uma guerra de proporções mundiais. A tal Terceira Guerra.
Putin aproveita-se e reforça esse argumento para amplificar o seu poder de chantagem, afinal, tem ao alcance de suas mãos as chaves do apocalipse
Mas será que ele estará realmente disposto a usá-las? Como ninguém quer pagar para ver, Putin tem conseguido conter um apoio massivo aos ucranianos. Uma prova disso é que ele conseguiu, por meio da chantagem atômica, adiar por mil dias que os Estados Unidos aprovassem o emprego dos mísseis de longa distância.
Em entrevista a um de seus canais estatais, Putin mandou um recado sombrio. Perguntado como seria a Terceira Guerra Mundial, ele recorreu a Albert Einstein: “Não sei como será a Terceira Guerra Mundial, mas sei como será a quarta: com pedras e paus”, disse ele repetindo a frase atribuída ao físico alemão.
Passados mil dias da invasão, percebemos que Putin não quer conquistar apenas a Ucrânia. Sob vários aspectos, ele meteu seus tanques, aviões, drones e bombas no centro do debate político e em muitos aspectos da vida dos cidadãos comuns bem longe da Ucrânia. Seja por meio do medo, seja por meio da desinformação, Moscou reacendeu o pesadelo do apocalipse nuclear e o maneja em seu favor.
O simples fato de Putin ameaçar o mundo com suas armas nucleares já deveria ser motivo de sobra para que ele se transformasse em um pária universal. Mas não. Ele conta com o apoio incondicional da China e de seu um fã clube de autocracias formado pelo Irã, Bielorrússia, Coreia do Norte e Venezuela.
Sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil se transformou em um aliado exótico (e preferencial). O antiamericanismo de Lula e do seu PT empurram o país para o eixo das autocracias, que não só normaliza regimes como os do Irã, China, Venezuela e Rússia, mas que inverte a realidade em favor de sua cruzada antiocidental.
Nada expressa mais isso que os Brics. Um bloco declaradamente antiocidental que – sob as ordens da China, a borduna da Rússia e a subserviência do Brasil – tem aglutinado forças de uma parte do mundo com aversão à democracia.
Lula e o Brasil não só ignoram a chantagem nuclear de Putin como parecem amplificá-la. Em um de seus vários pronunciamentos na Cúpula do G-20, realizada no Rio de Janeiro nesta semana, Lula alertou para o risco de uma guerra mundial. Mas não citou quem ameaça o mundo. Pelo contrário.
Nos meses que antecederam o encontro, Lula mandou milhares de sinais dizendo-se disposto a descumprir acordos internacionais de a implodir no encontro do G20 para garantir o livre trânsito de Putin.
Desde que Lula assumiu a presidência do Brasil, as importações provenientes da Rússia cresceram em níveis jamais vistos. Desde janeiro de 2023 a outubro deste ano, foram mais de 19,5 bilhões de dólares injetados na economia russa, por importações de seus produtos. Desse valor, nada menos 9,4 bilhões de dólares foram para o pagamento de diesel.
Para fins de comparação, nos quatro anos anteriores (2019 a 2022), a soma das compras foi de 20 bilhões de dólares. Trata-se de um reforço de caixa monumental para um país em guerra.
A última vez em que o mundo havia estado à beira de um conflito nuclear foi em novembro de 1983. Há exatos quarenta anos, a então União Soviética preparou seus bombardeiros nucleares estacionados na Alemanha Oriental como resposta a um “ataque iminente da OTAN”. Não passava de um mal-entendido diante do que eram apenas exercícios militares do bloco ocidental.
Putin iniciou uma guerra. Não quer reação. Ameaça destruir o mundo. Mesmo assim, ganha afagos de líderes como Lula.
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