A frase acima está no Twitter e traz pendurada imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no evento em que mostrou que é para valer a aliança com o ex-tucano Geraldo Alckmin. A frase faz referência ao retorno de Vladimir Lênin depois de doze anos no exílio na Suíça. O post foi escrito por quem já passou por algumas das principais redações do país, é um dos mais requisitados conselheiros de políticos, trabalha como pesquisador da Fundação Getúlio Vargas e é ex-assessor de Antonio Palocci e ex-porta-voz do governo de Dilma Rousseff. Com tamanha bagagem, que inclui a vivência nas entranhas do petismo, acho que é o caso de prestar atenção.
Lênin passou doze anos no exílio. Em sua viagem de retorno para a Rússia, ele embarcou em um vagão lacrado (sim, literalmente lacrado) com destino à Estação Finlândia, em São Petersburgo. Nos oito dias que passou no trem, ele amadureceu as ideias que ele viria a colocar em prática meses depois. A revolução não se daria sem violência.
Lênin voltou tão determinado que as ideias apresentadas por ele logo no dia seguinte ao seu desembarque – aquelas que viriam a se chamar as Teses de Abril – soaram tão radicais que alguns de seus companheiros pensaram que ele havia descambado para a anarquia. Sua mulher, segundo alguns relatos, chegou a achar que ele havia enlouquecido. Os mais radicais entenderam. Aquela “revolução” que estava em curso – meio grevista, meio espontânea – estava longe de ser a revolução do proletariado concebida por ele e aparentemente depurada nos últimos dias dentro de um vagão de trem.
O líder comunista provocou rupturas profundas. Levou o país a uma guerra civil e a brutalidade que sedimentou as bases de sua revolução do proletariado sustentaram algumas das maiores ondas de perseguição, violência e extermínio de nossa história, que viriam a ser comandadas pelo seu sucessor Joseph Stalin.
Lula voltou. Então, seria essa a única semelhança entre o brasileiro e Lênin? A volta de um “exílio” para implantar a revolução.
Teria o ex-presidente os mesmos planos de reformulação dos rumos da revolução, que ele teve de testar quando esteve no comando do Brasil?
O Lula que em 2022 sonha em desembarcar na Estação Finlândia traz na bagagem o ressentimento de quase ter sido varrido da vida pública como peça central da maior estrutura de corrupção já descoberta?
Que tipo de erros o passageiro estaria disposto a sanar? Aqueles que levaram o Brasil a 16 anos de estagnação econômica? Ou aqueles que permitiram que eles fossem pilhados e defenestrados do poder?
Não dá para fazer conjecturas sobre o que passou na cabeça do autor da comparação entre o retorno de Lênin e o de Lula. Mas há uma série de eventos históricos que se tornam preocupantes dentro de uma comparação natural entre o que se passou na Rússia de 1917 e o que se projeta estar em curso no Brasil.
Esse trem que estaria rumo à Estação Finlândia não carrega um passageiro pacificador. Tampouco um líder disposto a perdoar. Por sinal, vingança é uma palavra cada vez comum entre alguns que descrevem os objetivos do ex-presidente.
Por essas coincidências malucas, Lula teve a sua prisão decretada nos dias que coincidem com os 101 anos do retorno de Lênin. Lula passou 580 dias em uma cela VIP na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Saiu de lá em meio a uma operação que mais lembra resgate de preso que um processo legal. O “helicóptero” que içou Lula da cadeia e o devolveu para as ruas foi o trabalho em escala estatal que é atribuído a uns golpistas de Araraquara.
A parte conhecida do que foi roubado dos celulares e computadores das autoridades brasileiras foi usada para sustentar a tese de que Lula foi vítima da perseguição de agentes públicos. Mas, ao que parece, serviram mesmo para esquentar o que não se conhece das informações roubadas e que fez muita gente mudar de direção no meio do caminho.
As perguntas que ficam para 2022: Lula conseguirá desembarcar na Estação Finlândia? Que Lula desembarcará nela? A única coisa clara é que ele definitivamente entrou no trem.
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