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Leonardo Coutinho

Leonardo Coutinho

Brasil, América Latina, mundo (não necessariamente nesta ordem)

Utopia extraviada

Uma carta de Simón Bolívar aos seus falsos herdeiros

(Foto: Leonardo Coutinho com Chat GPT)

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Na semana passada, usei este espaço para fazer uma pergunta: "o que Simón Bolívar teria a dizer para os seus supostos herdeiros da esquerda latino-americana?". Reli alguns de seus textos e resolvi tomar a liberdade de imaginar. Depois rodei meu rascunho em um modelo de inteligência artificial para adaptar ao estilo do libertador. Segue o resultado. Pena que os esquerdistas não vão ler.

Companheiros da utopia extraviada,

Escrevo-vos desde o silêncio eterno, onde repousam os desiludidos da História. Passaram-se dois séculos desde que sonhei com uma América livre, culta, justa e soberana. Deixei minha vida em guerra contra impérios, com a esperança de que a vossa geração colhesse os frutos da nossa luta. Mas eis que assisto, da eternidade, ao naufrágio das promessas. E escrevo, não para confortar, mas para acusar.

O que fizeram com nossa pátria grande?

Os sonhos de liberdade foram vendidos por slogans, e os povos, enredados em ideologias estrangeiras, trocaram a espada do libertador pela foice e o martelo de tiranos. A luta armada, quando não foi derrotada pela repressão, degenerou em barbárie fratricida; vós assassinastes em nome do povo, mas nunca o escutastes. Substituístes o domínio colonial pelo culto à revolução vazia, e transformastes os palácios da esperança em quartéis de opressão.

As ditaduras que envergaram a linguagem da justiça tornaram-se piores que os impérios contra os quais lutei. Prometeram educação e igualdade, mas entregaram censura, exílio e fome. Prometeram terra para o povo, mas o que restou foi o solo devastado pelo narcotráfico e pela mineração predatória. Prometeram cultura, mas queimaram livros e calaram professores. Onde havia catedrais e teatros, há ruínas; onde se ensinava filosofia, agora reina o dogma. A destruição do patrimônio, da arquitetura colonial às tradições indígenas, tornou-se política de Estado, como se a História fosse inimiga.

Vós vos entregastes ao comunismo com o fervor de fanáticos, sem entender que nenhuma ideologia redime a miséria. A URSS tombou, mas vós seguis prostrados diante de seus fantasmas, invocando Marx como se fosse Messias e negando o que os povos sofrem. E quando o povo se ergue contra vossa tirania, chamais de “golpe” o grito por liberdade.

Fiz a guerra contra a Espanha e sonhei com uma república de virtudes, mas vejo hoje na América Latina democracias em farsa, partidos como seitas, e presidentes como deuses decadentes. As repúblicas foram ocupadas por caudilhos que se dizem salvadores, mas não salvam senão suas contas no exterior. A violência urbana, que devora as favelas e os campos, é o retrato da falência moral e da impunidade institucional.

Hoje, a esquerda que se diz herdeira de nossos ideais se curva à criminalidade em nome do “social”, abraça ditaduras em nome do “anti-imperialismo”, e despreza a liberdade de pensamento em nome da “consciência popular”. O povo — este mesmo povo por quem dei minha vida — é usado como escudo para justificar o desastre.

Vos digo como em minha última carta: La América es ingobernable para nosotros. E agora acrescento: la izquierda la há hecho irreconocible. Vós não libertastes os povos — vós os traístes.

Não consigo ver brasas sob os escombros. Não vejo jovens que não foram contaminados pela mentira, tampouco artistas que resistem ou professores que ainda ensinam história com coragem. Sei que eles existem, mas não os vejo. Mesmo assim, a eles deixo minha verdadeira herança: não sigam líderes, sigam princípios; não repitam slogans, busquem a verdade; e jamais confundam justiça com poder.

Se quereis honrar a liberdade, começai por libertar-vos de vossos próprios delírios.

Desde a eternidade onde nada se oculta,

Simón Bolívar.

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Conteúdo editado por: Aline Menezes

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