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Lorenzo Carrasco

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Investimentos

A energia nuclear como “novo pré-sal” da Petrobras

(Foto: Geraldo Falcão/Agência Petrobras)

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Desde que assumiu o cargo no atual governo, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, tem batido e rebatido na tecla de que a Petrobras deveria fazer a “transição energética” e converter-se numa empresa de energia, um dos mantras favoritos do ambientalismo do qual é a militante mais graduada no Brasil.

Em sua entrevista ao programa Roda Vida da TV Cultura, em março último, ela voltou ao assunto: 

“Quando eu disse que a Petrobras tem que deixar de ser apenas uma empresa de exploração de petróleo e se transformar numa empresa de produção, de geração de energia, é um conceito mais amplo. É como as empresas que hoje trabalham exclusivamente com petróleo se preparam para fazer essa transição para o fim dos combustíveis fósseis. Isso é visão estratégica... É uma empresa que pode, sim, e deve fazer e tem investido, inclusive, na área de renováveis. O que eu acho é que as empresas, não só a Petrobras, têm que ampliar cada vez mais os investimentos (CNN, 11/03/2025).”

Por energias renováveis, Marina e a grande maioria das pessoas que se orientam pelos cânones do ambientalismo se referem, preferencialmente, aos aerogeradores e centrais solares, consideradas fontes de energia limpa aptas a substituir de forma acelerada os combustíveis fósseis – petróleo, gás natural e carvão mineral – na maioria das suas aplicações.

Nada poderia estar mais distante da realidade, como, aliás, estão demonstrando as grandes empresas petrolíferas internacionais, que estão reduzindo os investimentos em tais energias renováveis e concentrando-os em petróleo, gás natural e, em alguns casos, fontes realmente relevantes para uma matriz energética compatível com as necessidades do século XXI, como a nuclear e a energia de fusão.

No artigo anterior, comentei sobre a possibilidade de a Petrobras investir no emprego de duas tecnologias promissoras. Uma delas são os reatores nucleares modulares, conhecidos pela sigla SMR (de Small Modular Reactors), em substituição às turbinas a gás em seus navios-plataforma de produção (FPSO - Floating Production Storage and Offloading), que operam na faixa de até 300 megawatts (MW). Outra são os microrreatores de até 5 MW, que poderiam alimentar diretamente as instalações submarinas.

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Atualmente, o Brasil não domina nenhuma das duas modalidades tecnológicas, mas a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), em cooperação com a Indústrias Nucleares do Brasil (INB), empresas privadas e universidades, estuda a viabilidade técnica de construção em série de microrreatores de 3 MW, ainda nesta década.

Quanto aos SMRs, a perspectiva mais viável seria a cooperação com países mais avançados na área. Um deles é a Rússia, com cuja estatal nuclear Rosatom o governo brasileiro estuda a possibilidade de uma parceria, como anunciou o ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira, na recente visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Moscou. 

Outras alternativas poderiam ser a China, que está prestes a colocar em operação o primeiro SMR comercial do mundo, de 125 MW, ou até mesmo a Argentina, cujo projeto CAREM-25 (100 MW) encontra-se próximo da conclusão.

Nessa área, uma referência relevante é a estatal norueguesa Equinor, que está reduzindo os investimentos em eólicas e solares e dando preferência ao hidrogênio e à promissora energia de fusão. 

Por intermédio de sua subsidiária de capital de risco, Equinor Ventures, a empresa é uma das principais investidoras na Commonwealth Fusion Systems (CFS – cfs.energy), start-up estadunidense que desenvolve um projeto de reator de fusão potencialmente revolucionário, denominado SPARC, cuja entrada em operação comercial está prevista para 2030. É significativo que outras petroleiras, como a italiana ENI e a estadunidense Chevron, também sejam investidoras na CFS.

No Brasil, onde opera desde 2001, a Equinor demonstrou a sua disposição para investimentos tecnológicos com um investimento de R$ 22 milhões no desenvolvimento do acelerador de elétrons Sirius do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), sediado em Campinas (SP). Igualmente, a empresa tem parcerias com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em pesquisas relacionadas ao setor de óleo e gás.

Sem dúvida alguma, a Petrobras deve preparar-se para expandir suas atividades para além dos hidrocarbonetos, mas não em ineficientes projetos de fazendas eólicas marítimas ou terrestres ou centrais solares, e sim em fontes de densidade energética e eficiência superiores, como as citadas acima. 

Com os investimentos bem colocados e o seu vasto histórico de capacidade tecnológica de ponta, a empresa tem todos os requisitos para o sucesso nesse novo campo

Nesse sentido, guardadas as proporções, o ingresso na área nuclear seria uma analogia tecnológica comparável a um “novo pré-sal” para as perspectivas da empresa.

Conteúdo editado por: Aline Menezes

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