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Em seu retumbante discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente Donald Trump gabou-se de usar a sua “química” pessoal nas relações com chefes de Estado estrangeiros, mas, aparentemente, seu principal efeito foi o de ter virtualmente dissolvido a indústria do catastrofismo climático.
Em poucos minutos, Trump colocou na retorta todos os ingredientes do alarmismo sobre as mudanças climáticas e os dissolveu com seu corrosivo solvente retórico.
Ironizando os prognósticos catastrofistas, disparou:
“Em 1982, o diretor-executivo do Programa Ambiental das Nações Unidas previu que, até o ano 2000, a mudança climática causaria uma catástrofe global. Ele disse que seria irreversível, como qualquer holocausto nuclear. Foi o que disseram nas Nações Unidas. O que aconteceu? Aqui estamos. Outro funcionário da ONU declarou, em 1989, que, dentro de uma década, nações inteiras poderiam ser varridas do mapa pelo aquecimento global. Não está acontecendo.”
Sem papas na língua, qualificou o alarmismo climático como “a maior vigarice já perpetrada no mundo”.
E prosseguiu:
“Todas essas previsões feitas pelas Nações Unidas e por muitos outros, muitas vezes por motivos ruins, estavam erradas. Foram feitas por pessoas estúpidas que, claro, se aproveitaram da sorte de seus países e não lhes deram nenhuma chance de sucesso. Se vocês não se livrarem desse golpe verde, seus países vão fracassar. (...) E estou dizendo que, se vocês não se livrarem do golpe da energia verde, seus países vão fracassar. (...)”
Sobre a pegada de carbono, um dos índices criados pelos catastrofistas para justificar suas políticas antidesenvolvimentistas, foi taxativo:
“(...) A pegada de carbono é uma farsa inventada por pessoas com más intenções, que estão trilhando um caminho de destruição total... É um golpe com custos e despesas extremos.”
Aos seus aliados europeus, reservou uma ponta de ironia:
“A Europa reduziu sua própria pegada de carbono em 37%. Pensem nisso. Parabéns, Europa! Ótimo trabalho! Vocês perderam muitos empregos, fecharam muitas fábricas, mas reduziram a pegada de carbono em 37%. No entanto, apesar de todo esse sacrifício, e muito mais, ela foi totalmente anulada, e ainda superada, por um aumento global de 54%, grande parte vindo da China e de outros países que prosperam em torno dela, que agora produz mais CO2 do que todas as outras nações desenvolvidas do mundo. Então, todos esses países estão trabalhando arduamente na pegada de carbono, o que é um absurdo, aliás. É um absurdo. É interessante. Nos Estados Unidos, ainda temos ambientalistas radicalizados, e eles querem que as fábricas parem. Tudo deveria parar. Chega de vacas. Não queremos mais vacas. Acho que eles querem matar todas as vacas. Querem fazer coisas simplesmente inacreditáveis, e vocês também têm isso.”
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Trump não fez qualquer menção à COP30, para a qual alguns iludidos ao sul do equador ainda pensam em atraí-lo, mas, depois da sua “aula de química”, a dissolução das expectativas da conferência climática é a consequência mais provável do convescote de Belém.
Em paralelo, outra manifestação do “efeito Trump” foi a guinada de 180 graus da Agência Internacional de Energia (AIE), que vinha sendo uma das principais batedoras de bumbo da “descarbonização” da economia mundial. A agência enfatizava seus prognósticos sobre um declínio da produção e da demanda de petróleo a partir de 2030 — dado utilizado pelo aparato do “carbono zero” para justificar suas propostas de redução imediata da produção e de aceleração da adoção da chamada transição energética para fontes “limpas” ou “renováveis”.
Em agosto, o secretário de Energia, Chris Wright, transmitiu um recado direto ao diretor-geral da AIE, Fatih Birol, ameaçando com a saída dos EUA da agência, da qual é o maior financiador, se não houvesse uma revisão dos critérios de avaliação e dos prognósticos “politizados” sobre a transição energética.
Aparentemente, a agência acusou o golpe. Uma reportagem da Bloomberg (“O mito do pico da demanda por combustíveis fósseis está desabando”, 11/09/2025) registra uma sensível mudança de tom da AIE em relação ao futuro dos hidrocarbonetos.
De acordo com o colunista de energia e commodities Javier Blas, o relatório anual World Energy Outlook, em preparação, afirma que o crescimento da demanda por petróleo e gás natural nos próximos 25 anos não só é possível, mas provável. Uma guinada e tanto, para quem previa um pico da demanda em cinco anos.
O rascunho do relatório, divulgado por fontes da agência, registra que, com as políticas atuais, “o uso de petróleo e gás natural subirá até 2050”. O consumo de carvão deverá atingir um pico na década de 2030, mas a demanda em 2050 ainda seria mais de 50% maior do que a prevista anteriormente, segundo o colunista.
Trump costuma gabar-se de ser merecedor do Prêmio Nobel da Paz, mas, de fato, já faz jus a um virtual “Prêmio Nobel de Química Retórica”.




