Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Lorenzo Carrasco

Lorenzo Carrasco

Mundo real x catastrofismo climático

Combustíveis fósseis: o fim não está à vista

OPEP prevê alta contínua da demanda por petróleo até 2050, mostrando que alarmismo climático ignora a realidade energética global. (Foto: Ralf Vetterle/Pixabay)

Ouça este conteúdo

Uma das principais referências dos batedores de bumbo da “descarbonização” da economia mundial é a Agência Internacional de Energia (AIE), que, nas últimas décadas, passou a integrar a linha de frente da mal denominada transição energética, com seus prognósticos negativos sobre uma iminente queda da demanda por petróleo, gás natural e carvão mineral.

Em seu relatório mais recente, Oil 2025: Analysis and Forecast to 2030 (Petróleo 2025: análise e prognóstico até 2030), a agência afirma que, com base nas atuais políticas e tendências de mercado, a demanda mundial por petróleo aumentará até o final da década, atingindo um pico de 105,5 milhões de barris/dia, decaindo a partir daí. Os motivos: “crescimento econômico abaixo das tendências, vergado sob o peso de tensões comerciais e desequilíbrios fiscais globais e pela acelerada substituição do petróleo nos setores de transporte e geração de energia”.

Sem surpresa, no sítio da Climainfo, uma das mais ativas ONGs brasileiras integrantes da “indústria do clima”, encontramos esta justificativa para que o Brasil deixe de expandir a exploração de seu potencial de hidrocarbonetos, principalmente na Margem Equatorial Brasileira:

“E a tendência global que vem sendo sistematicamente projetada pela Agência Internacional de Energia (IEA) é chegarmos ao pico da demanda mundial por petróleo daqui a pouco mais de cinco anos, em 2030, quando esta começará a cair gradativamente. Logo, não é preciso expandir a exploração de petróleo; muito pelo contrário, é necessário frear essa expansão e utilizar os incentivos para aumentar a fração renovável da matriz energética do país.”

Por sua vez, em maio último, um mês antes da AIE, a Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) divulgou seu próprio estudo sobre o setor, intitulado World Oil Outlook 2050, no qual prevê uma expansão de 23% na demanda global por hidrocarbonetos até o mítico ano de 2050, considerado a meta para a agenda do “carbono zero líquido”.

A expansão será impulsionada “pelo crescimento econômico em expansão, populações crescentes, urbanização crescente, novas indústrias intensivas em energia como a inteligência artificial e a necessidade de levar energia aos bilhões que não têm acesso a ela”.

Com os pés no mundo real, o estudo enfatiza o que os promotores do catastrofismo climático e da “descarbonização” da economia se obstinam em ignorar:

“O petróleo e seus derivados continuam a proporcionar imensos benefícios a bilhões de pessoas. Sem eles, carros, ônibus e caminhões ficariam paralisados, aviões ficariam no chão, o setor da construção praticamente pararia, a produção de alimentos seria devastada e muitos produtos relacionados à saúde seriam difíceis de produzir. O petróleo sustenta a economia global e é essencial para o nosso dia a dia. Até 2050, vemos a demanda por petróleo continuar a se expandir, atingindo 123 milhões de barris/dia. Não há um pico de demanda por petróleo no horizonte.”

Para os brasileiros, o aspecto mais interessante do documento é o fato de ele dedicar um capítulo inteiro ao País (Foco no Brasil) e à sua importância crescente no setor. Na visão dos autores, o Brasil:

“(...) Também está posicionado para ser uma das principais fontes de um futuro crescimento da oferta fora da Declaração de Cooperação [acordo entre a OPEP e outros países produtores – LC], com uma projeção para atingir o pico em torno de 5,8 milhões de barris/dia ao final da década de 2030. A produção de óleo cru na região da Margem Equatorial pode acrescentar 1,1 milhão de barris/dia à oferta nacional a partir de 2029, desempenhando um papel estratégico no reabastecimento das reservas do Brasil e assegurando a sustentabilidade da produção a longo prazo.”

VEJA TAMBÉM:

Para os especialistas da OPEP, que sabem uma coisa ou duas sobre o assunto, o Brasil “é uma usina de força energética, graças às suas reservas de petróleo e gás natural, recursos naturais abundantes e uma indústria de energia bem desenvolvida”. Por isso, é também “uma das forças motrizes em debates centrais” no setor energético.

Seria oportuno apresentar tais considerações aos tecnocratas-militantes do Ibama, que, neste momento, estão supervisionando a Avaliação Pré-Operacional do plano de emergência da Petrobras para o socorro à biota do Amapá, no caso de eventuais vazamentos de óleo na planejada exploração dos hidrocarbonetos no litoral do estado, depois de terem conseguido retardar o processo por uma década inteira.

Por outro lado, outro disparo contra os cenários negativos da AIE partiu dos EUA, onde o secretário de Energia Chris Wright, que encomendou o histórico estudo Uma revisão crítica dos impactos das emissões de gases de efeito estufa sobre o clima dos EUA, aqui comentado na semana passada, ameaçou sair da agência caso esta não revisasse seus critérios de avaliação e seus prognósticos “politizados” sobre a chamada transição energética.

Em uma entrevista à agência Bloomberg, Wright afirmou ter deixado clara a intenção estadunidense ao diretor-geral da AIE, Fatih Birol: “Nós faremos uma de duas coisas: nós reformaremos a maneira como a AIE opera ou nos retiraremos. Minha forte preferência é reformá-la” (Forbes, 16/07/2025).

Os prognósticos da agência sobre um pico da demanda por petróleo em 2029, ressaltou, são “bobagens” e “politizados”, não se baseando em dados do mundo real, ao contrário do estudo da OPEP citado por ele.

“Nós não estamos tentando ditar regras ao mundo, mas não vamos fazer parte de uma organização que não seja baseada na realidade”, disse Wright.

De fato, o que parece estar vivendo seus estertores não é propriamente a demanda por hidrocarbonetos, mas a indústria estabelecida em torno do alarmismo ambiental e climático e da respectiva vinculação de fluxos financeiros a critérios de redução das emissões de carbono das economias nacionais, que já experimentava uma retração antes mesmo do retorno de Donald Trump à Casa Branca, de onde comanda um virtual desmonte daquele aparato nos EUA.

Oxalá essa mudança de ventos atinja o Brasil.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.