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Lorenzo Carrasco

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Transição energética

Lula entra no clima do globalismo e embarca o Brasil no “Titanic verde”

(Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

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Em pomposa cerimônia no Palácio de Planalto, em 21 de agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou o chamado Pacto pela Transformação Ecológica. Na companhia dos líderes do Legislativo e do Judiciário, ele reforçou o seu compromisso com a agenda ambiental da “descarbonização” da economia, como forma de pagamento pelo enorme apoio recebido das forças globalistas internacionais que endossaram ostensivamente o seu retorno à Presidência do Brasil. A nomeação de Marina Silva, de notórios vínculos com tal aparato intervencionista, para o renomado Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, é a garantia da sua intenção de cumprir os compromissos assumidos.

De acordo com a nota da Presidência da República (21/08/2024): “O Pacto pela Transformação Ecológica surge como uma resposta coordenada dos Três Poderes para enfrentar os desafios ambientais, climáticos e sociais do Brasil, ao mesmo tempo que busca posicionar o país como um protagonista global em segurança ambiental, climática e alimentar. A iniciativa visa integrar a biodiversidade rica e os recursos naturais abundantes do Brasil em um novo paradigma de desenvolvimento sustentável.”

Entre as ações inseridas no Pacto, a nota destaca: “1) Ampliação do financiamento e redução do custo de crédito para práticas sustentáveis pelo Executivo; 2) priorização de projetos de lei no Legislativo, como o marco legal do mercado de carbono e a produção de energia eólica no mar; 3) agilização das demandas judiciais relacionadas a questões ambientais e climáticas pelo Judiciário; 4) integração de bancos de dados imobiliários e ambientais entre Executivo e Judiciário para garantir segurança jurídica sobre terras; 5) adoção de medidas de gestão sustentável pelos Três Poderes para reduzir impactos ambientais diretos.”

Reforçando a pauta, no dia 26 de agosto, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou a Política Nacional de Transição Energética, ocasião em que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ressaltou as expectativas do governo: “Vamos protagonizar, no mundo, a nova economia – a economia verde. São R$ 2 trilhões em investimentos, são 3 milhões de empregos para brasileiras e brasileiros. É energia eólica, solar, hídrica, biomassa, biodiesel, etanol, diesel verde, captura e estocagem de carbono, combustível sustentável de aviação, hidrogênio verde. É o renascimento da indústria do Brasil em bases sustentáveis.”

As lideranças brasileiras podem pensar que estão comprando um bilhete na primeira classe – mas o “Titanic verde” já bateu num iceberg do mundo real

Por trás de ambas as iniciativas, está o utópico conceito de “potência ambiental”, que é a monetização da proteção dos biomas nacionais e a oferta de energias “verdes” aos mercados internacionais. Isso independentemente dos seus enormes custos com subsídios (única forma de viabilizá-las), que se refletem diretamente nas contas avultadas das tarifas públicas, em particular, a de energia elétrica. Em outras palavras, é a colocação das fichas do desenvolvimento nacional na roleta de incertas e questionáveis demandas externas de commodities e serviços “verdes” e investimentos vinculados a elas, inclusive, no tocante aos planos para a reindustrialização nacional.

Todavia, o otimismo governamental vai na contramão de um visível recuo global da “agenda verde” (Green New Deal, ESG etc), na medida em que a realidade dos seus elevados custos se impõe e os investimentos “sustentáveis” veem os seus atrativos ficarem para trás.

Em janeiro, o megafundo gestor de ativos BlackRock, que detém ativos superiores a US$ 10 trilhões, divulgou os seus prognósticos para o ano, chamando a atenção para a necessidade das empresas implementarem a necessária “resiliência financeira” em suas estratégias, como resultado das mudanças macroeconômicas e geopolíticas em curso. Segundo o documento, quatro megatendências estruturais deverão configurar o novo regime econômico: disrupção digital e inteligência artificial (IA), fragmentação geopolítica/competição econômica, transição para a economia de baixo carbono e divergência demográfica (envelhecimento da população).

Apesar da referência à economia de baixo carbono, chamou a atenção no relatório a ausência de qualquer menção à expressão ESG (ambiental, social e governança corporativa), que vinha sendo uma das marcas registradas dos relatórios da BlackRock nos últimos anos. De fato, até o ano passado, o seu executivo-chefe, Larry Fink, foi um dos mais ativos propagandistas das “finanças verdes”. Aparentemente, o abandono da expressão, atribuído por ele a uma excessiva “politização” da mesma, se deve a uma avaliação mais realista da combinação de altos custos com resultados questionáveis da “descarbonização” da economia mundial, em especial, em algumas economias industrializadas, como os próprios EUA, a Alemanha e outras.

Como observou oportunamente o sítio brasileiro Neofeed (18/01/2024), a “resiliência financeira” substituiu a agenda ESG como tema dominante na estratégia da empresa de Fink e, consequentemente, nas orientações repassadas aos CEOs das empresas nas quais a BlackRock detém investimentos. Em 20 de fevereiro, o jornal O Globo republicou uma reportagem do espanhol El País sobre a saída de quatro gigantes financeiras estadunidenses – BlackRock, State Street, JP Morgan e Pimco – do grupo Climate Action 100+, que reúne grandes gestoras de investimentos e empresas comprometidas com a “descarbonização” da economia mundial. A reportagem reproduz um trecho do relatório anual da State Street, a terceira maior do mundo, à Securities and Exchange Commission (SEC), órgão regulador do mercado acionário dos EUA: “As opiniões sobre sustentabilidade ou práticas de ESG, particularmente aquelas relacionadas a questões climáticas, tornaram-se questões políticas, o que pode ampliar os riscos à reputação.”

Outras passagens do documento reforçam a argumentação: “As expectativas gerais de nossas partes interessadas, incluindo reguladores e clientes, fora dos Estados Unidos, especialmente na Europa, com relação a questões de sustentabilidade ou ESG, podem ser nitidamente diferentes das expectativas nos EUA. Como conduzimos nossas atividades de gestão de ativos globalmente, expectativas globais conflitantes nos EUA e fora dele complicam a nossa capacidade de mitigar riscos. (...)”

Em síntese, as lideranças brasileiras podem pensar que estão comprando um bilhete na primeira classe – mas o “Titanic verde” já bateu num iceberg do mundo real.

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