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Lorenzo Carrasco

Lorenzo Carrasco

Jogo de poder

Nação de ONGs: quem falará pelo Brasil na COP-30?

Belém (PA), 17.06.2023 " Lula durante cerimônia de anúncio da realização da COP 30. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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Em nenhum outro país, a utilização do ambientalismo-indigenismo como instrumento de manipulação político-ideológica atingiu o nível de influência que obteve no Brasil. 

Aqui, desde o final da década de 1980, quando a vasta publicidade conferida ao assassinato do líder seringueiro Chico Mendes e aos incêndios florestais na Amazônia o converteram numa espécie de vilão ambiental global número um.

As políticas referentes ao meio ambiente e aos povos indígenas têm sido ditadas por agentes de influência daquele aparato internacional, tanto nos órgãos de Estado, como no eficiente exército irregular de organizações não-governamentais (ONGs) que transmite as diretrizes externas. 

Para complicar, setores do Ministério Público e do Poder Judiciário foram devidamente cooptados para apoiar essa agenda antidesenvolvimentista e antinacional.

Com certa frequência, operativos desse aparato intervencionista intercambiam posições entre órgãos do Estado e ONGs, ajudando a assegurar uma transmissão mais efetiva das diretrizes “verde-indígenas” na formulação das políticas públicas nacionais.

Ambientalismo de Estado: o poder por trás da COP-30

Um exemplo relevante é o biólogo João Paulo Capobianco, atual secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e braço direito da ministra Marina Silva.

Oriundo do Instituto Socioambiental (ISA), do qual foi cofundador, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e da Fundação SOS Mata Atlântica, ocupou o mesmo cargo na primeira passagem de Marina pelo MMA, com o de secretário de Biodiversidade e Florestas, tendo sido o coordenador da sua campanha presidencial em 2010. Igualmente, presidiu o Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS).

É dele a célebre frase que simboliza a bússola mental dos militantes verdes nacionais: “A Amazônia é do Brasil, em termos. Até a lei brasileira condena uma mãe ou um pai que trate mal o seu filho a perder a guarda sobre ele” – proferida na cerimônia de transmissão do cargo de Marina a seu substituto Carlos Minc, em junho de 2008.

Na quinta-feira, 12 de junho, uma interessante reunião ocorreu na embaixada do Brasil em Oslo, Noruega, juntando autoridades, empresários, executivos e “ongueiros” dos dois países, para discutir a preparação da conferência climática COP-30. 

De acordo com a nota oficial do governo brasileiro, “o encontro reforçou a relevância da parceria Brasil-Noruega e o protagonismo brasileiro nas discussões globais sobre clima e meio ambiente (COP-30 Brasil, 12/06/2025)”.

De fato, a Noruega tem sido um dos principais governos estrangeiros engajados na agenda ambiental brasileira, no sentido de orientá-la preferencialmente para uma “preservação” radical dos biomas Amazônia e Cerrado, em detrimento das atividades econômicas neles desenvolvidas. 

A Noruega é de longe a maior doadora do Fundo Amazônia, com mais de R$ 3,4 bilhões desde a sua fundação em 2008

Esses recursos não podem ser utilizados em atividades diferentes das definidas pelo aparato de ONGs que “assessora” o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na utilização dos fundos. 

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Em 2024, por exemplo, os EUA e a Alemanha, também doadores do Fundo, advertiram explicitamente o governo brasileiro de que o dinheiro não poderia ser empregado na pavimentação da rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho), um dos alvos prioritários do aparato “verde-indígena”.

Em Oslo, a CEO da COP-30, Ana Toni, ressaltou o papel do Brasil como “articulador de soluções inovadoras e do diálogo multissetorial para acelerar a implementação dos compromissos do Acordo de Paris”. Defendendo a “transição ecológica”, afirmou que ela “é possível e deve ser justa, inclusiva e baseada em ciência”.

Ana Toni é outro caso didático de operativo ambientalista guindada ao aparelho do Estado, no cargo de secretária de Mudança do Clima do MMA, que acumula com a de “executiva-chefe” da conferência de Belém.

Ela tem um vasto currículo internacional na área, que inclui passagens pelo Greenpeace International, ActionAid Brasil, Fundação Ford e o Instituto Clima e Sociedade (iCS), atualmente uma das ONGs mais poderosas do Brasil, do qual foi cofundadora e de onde saiu para o MMA, a convite de Marina Silva. 

Outros representantes do aparato presentes foram André Guimarães, diretor-geral do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e enviado especial para o tema de sociedade civil, o diretor executivo do WWF-Brasil, Maurício Voivodic, e Sineia do Vale, co-presidente do Fórum Internacional dos Povos Indígenas sobre Mudanças Climáticas (IIPFCC) e enviada especial para o tema dos povos indígenas.

O IPAM e o WWF-Brasil são ONGs do primeiro escalão de influência do aparato ambientalista-indigenista que opera no país.

O primeiro, fundado em 1995, é a filial brasileira do Woodwell Climate Research Center estadunidense (anteriormente conhecido como Woods Hole Research Center), tendo sido determinante para a adoção pelo País do chamado mecanismo REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), que troca reduções de desmatamento por compensações financeiras.

O WWF-Brasil é a seção brasileira do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), fundado em 1961 e uma das ONGs pioneiras do ambientalismo.

Sem surpresa, o IPAM, o WWF-Brasil e o ICS desenvolvem ou apoiam ativas campanhas contra empreendimentos de infraestrutura e exploração dos recursos naturais da Amazônia, como o asfaltamento da BR-319 e a exploração da Margem Equatorial Brasileira. 

O que nos deixa com a questão: quem irá defender os interesses maiores do Brasil na COP-30?

Conteúdo editado por: Aline Menezes

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