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Lorenzo Carrasco

Lorenzo Carrasco

Fundo soberano

Noruega ao Brasil: faça o que lhe pago, não o que faço

Noruega fatura trilhões com petróleo, investe globalmente e controla a Amazônia via fundos ambientais, impondo regras enquanto lucra. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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O fundo soberano da Noruega acaba de superar a impressionante marca de US$ 2 trilhões em ativos. Criado em 1990 pelo Parlamento nacional para administrar os recursos provenientes do petróleo e do gás natural do Mar do Norte — tanto os explorados pela estatal Equinor quanto por empresas estrangeiras (que são taxadas em 78% de seus lucros) —, o SPU (Statens Pensjonsfond Utland) é considerado um modelo de gestão e governança, sendo administrado pelo Norges Bank Investment Management (NBIM), um braço do Banco Central da Noruega.

Quase todo o seu capital é investido em ações, títulos, imóveis e infraestrutura no exterior, em mais de 9 mil empresas de 70 países, principalmente EUA, Reino Unido, Alemanha, Japão e França. Por lei, o governo de Oslo não pode utilizar anualmente mais de 3% do seu valor total, privilegiando as áreas de previdência, educação e infraestrutura.

Por sua vez, a Equinor, da qual o Estado norueguês detém 71% das ações (e, portanto, pode implementar políticas de Estado sem muita interferência de acionistas privados), responde por nada menos que 42% das despesas do governo.

Como outras majors do setor, a empresa está reduzindo significativamente seus investimentos em energias “renováveis” — eólica offshore, solar etc. — e tem a meta de ampliar sua produção de petróleo e gás natural em 10% até 2030.

Enquanto isso, investe em fontes que representam avanços tecnológicos, como a energia de fusão, apoiando o promissor projeto da Consolidated Fusion Systems (CFS), startup estadunidense que pretende colocar seu inovador reator em uso comercial a partir de 2030.

O Brasil, onde a Equinor opera há 20 anos, é o principal destino de seus investimentos no exterior.

Em paralelo, o governo norueguês ainda incentiva empresas estrangeiras a explorar o potencial de hidrocarbonetos do Mar de Barents. Realiza também trabalhos de mapeamento e regulamentação da exploração mineral na plataforma continental do país, para avaliar o potencial de níquel, cobre e metais de terras raras, entre outros, embora a decisão sobre a concessão de licenças de pesquisa e exploração tenha sido postergada para 2026 ou 2027.

Por outro lado, a Noruega é grande financiadora de causas ambientais voltadas à “descarbonização” da economia mundial.

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No Brasil, é a maior financiadora do famigerado Fundo Amazônia, hoje um dos principais instrumentos de “controle ambiental” da exploração econômica da Amazônia Legal, visando mantê-la como uma gigantesca reserva de créditos de carbono e outros mecanismos afins

Desde sua criação, em 2008, a Noruega já destinou mais de R$ 3,2 bilhões ao Fundo; a última “doação” — investimento seria um termo mais adequado —, anunciada no final de 2024, foi de US$ 60 milhões, cerca de R$ 350 milhões na cotação da época. Para se ter uma ideia de sua relevância, o valor equivale a cerca de 11% do orçamento executado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) no ano.

Além disso, órgãos estatais noruegueses, como a Agência Norueguesa para Cooperação e Desenvolvimento (NORAD) e o Ministério do Clima e Meio Ambiente, financiam ONGs estrangeiras engajadas na campanha “descarbonizadora”. O mesmo ocorre com a nominalmente privada Rainforest Foundation Norway (RFN), que atua em grande medida como repassadora de fundos públicos. Entre seus “clientes” brasileiros, destaca-se o Observatório do Clima, ONG que coordena a insidiosa campanha contra a exploração de hidrocarbonetos na Margem Equatorial Brasileira.

A RFN acabou de recomendar ao governo norueguês que invista no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), recém-anunciado pelo governo brasileiro, com o objetivo de consolidar o modelo de conversão do bioma Amazônia em captador de créditos de carbono e outros instrumentos financeiros ditos “sustentáveis”.

Em outras palavras, o recado da Noruega ao Brasil parece ser: façam o que lhes pagamos para fazer, não o que fazemos.

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