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Lorenzo Carrasco

Lorenzo Carrasco

Sobrecarga da Terra

O dia do “apocalipse verde”

Criado por ambientalistas, o Dia da Sobrecarga da Terra (24/7) marca a suposta data em que esgotamos os recursos naturais do ano. (Foto: Zelch Csaba/Pexels)

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A próxima quinta-feira, 24 de julho, é uma data importante no “calendário litúrgico” dos prosélitos do culto do apocalipse ambiental. Não é uma data fixa, como o Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho; na verdade, tem recuado sistematicamente desde que foi criada, em 2003, e estabelecida em 12 de setembro.

Trata-se do Dia da Sobrecarga da Terra, data hipotética em que a humanidade já teria “esgotado” toda a capacidade anual de renovação dos recursos naturais à sua disposição no planeta. Ou seja, segundo os criadores do conceito, de 25 de julho até o final do ano, estaríamos comendo a nossa “poupança” natural, devido a um estilo de vida cuja sustentação necessitaria de 1,8 planeta como a Terra.

A rigor, é mais uma patranha do vasto arsenal engendrado pelos fundamentalistas verdes para promover o conceito central do seu dogma apocalíptico, o de que a “escassez” de recursos naturais e a “fragilidade” do meio ambiente do planeta não permitiriam a eventual extensão dos níveis de vida dos países desenvolvidos a todas as nações do mundo. Falácia que os ideólogos do ambientalismo internacional repetem ad nauseam desde as origens do movimento, há mais de seis décadas.

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Vejamos, por exemplo, como o WWF-Brasil definiu a data no ano passado, em que ela caiu em 1º de agosto:

“O Dia da Sobrecarga da Terra é a data do ano em que a demanda da humanidade por recursos naturais supera a capacidade do planeta de produzir ou renovar esses recursos ao longo de 365 dias. É como se ultrapassássemos o limite, entrando no vermelho e passando a usar o ‘cheque especial’ da Terra. Em 2024, essa data acontece em 1 de agosto. Atualmente, para atender os padrões de consumo da humanidade - e isso inclui também toda a estrutura construída para sustentá-la - seriam necessários 1.7 planetas Terra. Se toda a humanidade tivesse o mesmo padrão de consumo da população brasileira, o Dia da Sobrecarga da Terra aconteceria no dia 4 de agosto.” 

Convenhamos que o padrão de consumo médio dos brasileiros, com todas as desigualdades aqui existentes, não é, propriamente, uma referência de prosperidade que deveria ser potencialmente estendida a todo o planeta.

Mas a falácia de composição do conceito se mostra na sugestão de que, a partir de 25 de julho, o mundo estaria raspando a sua “poupança natural” – os 44% de recursos restantes, sobre os quais o processo de consumo se aplicaria. Se assim fosse, em menos de dois anos o planeta veria inteiramente esgotada a capacidade de regeneração dos seus sistemas naturais. 

Como o “apocalipse verde” vem sendo trombeteado desde 2003 e até hoje não chegou, pode-se concluir que a formulação epistemológica do conceito deixa a desejar

A determinação da data é feita com base no conceito de “pegada ecológica”, introduzido na década de 1990 pelo canadense William E. Rees, PhD em Ecologia Populacional, e seu aluno, o suíço Mathis Wackernagel, PhD em Planejamento Regional. 

Nos anos seguintes, ambos se empenharam em criar vários canais institucionais dentro do aparato ambientalista internacional e se juntarem a outros, para difundir o conceito. 

Rees fundou a Canadian Society for Ecological Economics, além de ser pesquisador do Post Carbon Institute e do Global Integrity Project, e assessor da Carrying Capacity Network, ONG estadunidense abertamente racista, que promove o controle de população e uma dura repressão à imigração, principalmente, de países hispânicos. 

Em 2003, Wackernagel, juntamente com a engenheira ambiental Susan Burns, criou a Global Footprint Network (GFN), com sede em Oakland, EUA, e filiais em Genebra, Suíça, e Bruxelas, Bélgica. 

Como o nome sugere, é especializada em calcular as “pegadas ecológicas” para toda a humanidade, numa escala que vai do planeta inteiro até pessoas individuais, passando por países e cidades. Para popularizar o conceito, a GFN criou o Dia de Sobrecarga da Terra (Earth Overshoot Day), divulgado anualmente.

Para o cálculo da “pegada ecológica”, segundo o WWF-Brasil, são computados “os usos e recursos que podem ser medidos em termos de área necessária para manter a produtividade biológica”: área de florestas capazes de sequestrar emissões de dióxido de carbono (CO2) derivadas da queima de combustíveis fósseis, áreas de cultivo de alimentos para consumo humano e animal, pastagens, florestas exploradas comercialmente, estoques pesqueiros e áreas construídas.

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Sem surpresa, a geração de emissões de carbono entra com nada menos que 70% do cálculo da “pegada”, o que confere um peso desproporcional ao uso dos combustíveis fósseis.

Em si próprio, o alto peso relativo do carbono indica a falta de rigor científico do índice, pois parte do tendencioso princípio de que o sexto elemento da Tabela Periódica seja um “poluente” ambiental, devido ao seu largamente exagerado papel na dinâmica climática global.

A unidade de medição da “pegada” é o hectare global (gha), a média anual para as terras e águas produtivas. Para facilitar o entendimento pelos leigos, a GFN criou a comparação com o número de planetas Terra supostamente necessários para que todo o mundo pudesse desfrutar dos níveis de consumo de recursos (leia-se bem-estar) de determinados países, regiões, cidades ou até indivíduos. 

Para referência, algumas “pegadas”: Catar – 10,5; Luxemburgo – 7,7; EUA – 5,1; Coreia do Sul – 3,7; Japão – 2,7; China – 2,5; Argentina – 2,2; México – 1,7; Brasil – 1,6; Filipinas – 0,9; Zimbabwe – 0,8; Quênia – 0,6; Haiti – 0,3. A média mundial, como dito anteriormente, é 1,8.

Apesar desses números alarmistas e enganosos, ninguém precisa perder o sono com o suposto apocalipse ambiental. 

O mundo tem recursos – alimentos, água, minerais, energia e tecnologia – para sustentar uma população consideravelmente maior que as atuais 8,2 bilhões de pessoas em níveis de vida pelo menos próximos dos das nações desenvolvidas. O fator escasso é a vontade política, não os recursos naturais ou a resiliência ambiental. 

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