
Ouça este conteúdo
Aos poucos, mas de forma consistente, o peso do mundo real vai se impondo aos cenários delirantes sobre a questão ambiental, com destaque para as propostas referentes à propalada necessidade de descarbonização da economia, com o intuito de “combater” as mudanças climáticas. Suposta necessidade que, no Brasil, se traduz na obsessão em manter os biomas Amazônia e Cerrado – em especial o primeiro – como se fossem santuários de preservação intocáveis e excluídos de atividades produtivas, exceto as mais primitivas, como o fracassado extrativismo.
No início deste mês, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) fugiu ao roteiro da “transição ecológica” – a bíblia com a qual o governo brasileiro pretende apresentar-se ao mundo como uma “potência verde” –, afirmando com todas as letras que a anunciada meta de zerar o desmatamento ilegal no país até 2030 é simplesmente inviável e “fora da realidade”.
A conclusão consta de uma avaliação feita a pedido do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) sobre o Plano Setorial de Uso e Cobertura da Terra em Áreas Públicas, coordenado pela pasta de Marina Silva e integrante da agenda de ações para redução das emissões de gases de efeito estufa no uso de terras públicas, com o combate ao desmatamento ilegal e às ocupações irregulares.
Na avaliação, os técnicos do MAPA foram incisivos: “Consideramos ainda relevante registrar que entendemos que o aceite da desejável ação ‘Eliminar o desmatamento ilegal em áreas públicas de todos os biomas brasileiros’ como fora da realidade e da razoabilidade, sendo, de forma prática, impossível de ser cumprida” (Folha de S. Paulo, 04/06/2025).
A rigor, o documento deixa implícito que profissionais mais vinculados às atividades produtivas, como os técnicos do MAPA, têm uma visão muito mais “pé no chão” do que tecnocratas ambientais que idealizam suas metas e agendas utópicas em escritórios refrigerados e têm pouco contato com a realidade das áreas e localidades afetadas por elas.
A resposta do MMA, apurada pela Folha de S. Paulo, denota essa divergência: “O compromisso de zerar o desmatamento até 2030 consta do Balanço Global aprovado na COP28 (realizada em 2023, em Dubai). A NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada, na sigla em inglês) submetida pelo governo brasileiro em novembro de 2024, durante a COP29 [em Baku, Azerbaijão], reafirma o compromisso de zerar o desmatamento até 2030, por meio da eliminação do desmatamento ilegal e da compensação da supressão legal da vegetação nativa.”
“Desmatamento zero” é um dos mantras ideológicos obsessivamente repetidos pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como propaganda para a imagem de liderança climática que pretende consolidar na conferência COP30, em Belém (PA), em novembro próximo. Para promovê-lo, o governo não hesita em mobilizar um vasto e dispendioso aparato repressivo de órgãos federais e estaduais – Ibama, ICMBio, Polícia Federal, polícias militares e até as Forças Armadas – para ações midiáticas e de questionáveis efeitos práticos. Não raro, tais ações deixam um rastro de impactos socioeconômicos negativos entre as populações afetadas, atingidas diretamente em atividades de subsistência, como criação de gado e outras que não se enquadram no figurino “santuarista”.
Outra advertência para os cultores do evangelho verde, que demoniza atividades como a mineração, veio da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão do Ministério de Minas e Energia, que, em março, lançou o estudo Minerais críticos e estratégicos para a transição energética com importantes considerações sobre o peso dos recursos minerais para a pretendida descarbonização da matriz energética.
Apesar de basear-se na validade do cenário prevalecente de elevação global das temperaturas a ser combatido com a descarbonização, o documento destaca o fato crucial de que as fontes energéticas favoritas dos ambientalistas – eólica e solar –, além da eletrificação automotiva, são altamente intensivas em minerais como lítio, cobalto, níquel, grafite, cobre e terras raras. Minerais cuja oferta precisará aumentar consideravelmente para o atendimento da demanda projetada.
Por exemplo, um parque eólico terrestre exige nove vezes mais que uma usina termelétrica convencional; um carro elétrico típico consome seis vezes mais insumos minerais que um convencional; em contrapartida, os veículos movidos a biocombustíveis não geram demandas adicionais por minerais quando comparados aos veículos movidos por gasolina ou diesel.
Com base nos dados da Agência Internacional de Energia (AIE), o estudo aponta que a demanda por minerais críticos para energia limpa precisa crescer até três vezes e meia durante o período até 2030. Para o Brasil, o aumento do uso de minerais no setor é estimado em 54% no período até 2034, para um aumento de 35% na capacidade de geração elétrica instalada.
Ora, para limitarmo-nos apenas ao Brasil, não é preciso conhecimento especializado para se antecipar que um aumento da oferta de minerais específicos, em tal proporção, exigirá uma considerável expansão de atividades de mineração, inclusive na Amazônia Legal. E lembrando que o prazo de efetivação de um projeto mineral, entre a prospecção e a entrada em operação da mina, comumente leva de cinco a dez anos.
Em outras palavras, é hora de os pregadores das virtudes ambientalistas fazerem o dever de casa e começarem a cair na real.




