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1)
O TSE declarou inelegível o general Walter Braga Netto, vice de Jair Bolsonaro, por abuso de poder no Bicentenário da Independência, na campanha de 2022. Braga Netto era o pré-candidato do PL à Prefeitura do Rio de Janeiro na eleição de 2024.
Consequência imprevista:
Ato contínuo, Bolsonaro lançou a candidatura do delegado Alexandre Ramagem, deputado federal e ex-diretor da ABIN. Ramagem teve uma atuação bastante firme na CPMI dos atos de 8/1: acusou o governo de ter conhecimento prévio das invasões e se omitir de propósito; e acusou o ministro da Justiça de obstruir o trabalho da CPMI, por se negar a entregar a íntegra das imagens internas do Ministério: “Deixaram mil vândalos quebrar tudo e não fizeram nada”, afirmou.
Ou seja, é um candidato mais duro que Braga Netto, que tem um perfil mais conciliador.
Ramagem deve enfrentar o atual prefeito do Rio, Eduardo Paes, que tentará a reeleição. Paes é teoricamente o favorito, mas dois fatores podem atrapalhar seu projeto.
Primeiro, a acelerada deterioração da segurança na cidade. A violência urbana é hoje, seguramente, a principal preocupação dos moradores do Rio – e de muitas outras capitais do país. Com o provável agravamento da crise econômica nos próximos meses, a situação tende a piorar.
Ainda que a segurança esteja mais na alçada do governo estadual que da prefeitura, o eleitor comum não quer saber: a consequência inevitável do aumento da percepção de insegurança é o desejo por mudança – de preferência, por um político que seja mais rigoroso com os bandidos.
O próprio Paes já sentiu na pele esse fenômeno: era favorito absoluto à eleição para governador do Rio em 2018 – e perdeu para o desconhecido Wilson Witzel, que pregava tolerância zero com a criminalidade.
Segundo, o fato de que as eleições de 2024 serão polarizadas e federalizadas. O eleitorado se dividirá em dois, mais uma vez, e só haverá espaço para dois tipos de voto: o anti-Lula e o pró-Lula. Vale lembrar que, em 2022, o então candidato e atual presidente perdeu na cidade do Rio de Janeiro (47,3% dos votos, contra 52,6% de Bolsonaro).
O primeiro turno acontecerá daqui a menos de 1 ano, em 6 de outubro. Difícil acreditar que algum eleitor carioca que votou em Bolsonaro em 2022 votará no candidato de Lula em 2024 – e vice-versa. Ao contrário, muita gente votará em um ou outro com ainda mais raiva do que votou em 2022.
A dura realidade é que o Brasil continua rachado – e provavelmente é assim que chegará à eleição de 2024 – até porque, apesar da narrativa de que o amor venceu, não houve qualquer gesto real de pacificação do país até aqui
2)
Não é segredo que o senador e ex-juiz Sergio Moro corre risco de cassação: os processos contra ele continuam correndo, e Moro foi convocado a depor no próximo dia 16 pelo TRE do Paraná, por abuso de poder econômico, arrecadação e gastos eleitorais ilícitos e mau uso dos meios de comunicação. Caso Moro seja mesmo cassado, será convocada uma nova eleição para preencher sua vaga no Senado.
Consequência imprevista:
Michelle Bolsonaro foi informalmente lançada candidata à vaga de Sérgio Moro no Senado. Caso isso aconteça, segundo uma pesquisa do Instituto Paraná, Michelle é favorita absoluta, em todos os cenários. Já a provável candidata do PT aparece atrás até mesmo de Álvaro Dias e Rosângela Moro, mulher do ex-juiz, outras candidaturas potenciais caso a vaga seja mesmo aberta.
Por conta disso, o ímpeto pela cassação de Moro está arrefecendo. Pelo menos é o que diz a matéria “Michelle Bolsonaro é vista como favorita contra Gleisi em eventual disputa pelo Senado, caso Moro seja cassado”, que diz:
“O PT enxerga com preocupação o resultado de uma pesquisa feita pelo instituto Paraná Pesquisas acerca da intenção de voto dos paranaenses diante de uma possível cassação do senador Sergio Moro (União). Segundo o resultado do levantamento, a ex-primeira-dama da República, Michelle Bolsonaro (PL) leva vantagem na disputa contra a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, independente do cenário apresentado. (...) Com isso já se nota uma mudança nas movimentações do PT no TRE para tentar conseguir a cadeira de Moro no Senado. Uma ala do partido começa a temer que a cassação de Moro possa se demonstrar favorável para a esposa de Jair Bolsonaro.”
A dura realidade é que o Brasil continua rachado – e provavelmente é assim que chegará à eleição de 2024 – até porque, apesar da narrativa de que o amor venceu, não houve qualquer gesto real e sincero de pacificação do país até aqui, pelo contrário.
O cenário econômico não é bom, as notícias e diversos indicadores tampouco: o tempo parece correr contra o governo. Mas, até a eleição do ano que vem, muita água vai passar por baixo da ponte: no Brasil, até o passado é imprevisível. Tudo pode acontecer - inclusive nada.
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