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Van da polícia passa por multidão em meio a protestos, no dia 30 de julho de 2024, em Southport, noroeste da Inglaterra.
Van da polícia passa por multidão em meio a protestos, no dia 30 de julho de 2024, em Southport, noroeste da Inglaterra.| Foto: StreetMic/Wikimedia Commons

Uma onda de protestos varre a Inglaterra desde o assassinato brutal de três meninas, a facadas, em Southport, na segunda-feira, 29. As vítimas tinham 6, 7 e 9 anos. Outras dez pessoas ficaram feridas.

O autor do crime hediondo, segundo foi noticiado, é um jovem de 17 anos, nascido em Cardiff - mas de família de imigrantes ruandeses - Axel Muganwa Rudakubana.

O atentado de Southport não pode ser visto como um caso isolado, desconectado do debate sobre a abertura da Europa aos imigrantes. A sensação de insegurança na Inglaterra – como, aliás, em outros países europeus – vem aumentando, e a associação da violência com a imigração descontrolada é inevitável.

Na Espanha, por exemplo, crimes com armas brancas cometidos por gangues de jovens imigrantes, incluindo estupros em série, ocorrem com uma frequência assustadora.

Pessoas comuns, independentemente do partido em que votam, suportam muitas coisas, mas quando determinados limites são ultrapassados elas se revoltam, saem às ruas, gritam “Basta!”. O assassinato de crianças é um desses momentos. A revolta é um recado da civilização à barbárie.

Em tempos normais, a mídia trataria esses protestos como uma reação espontânea da sociedade a um crime medonho, em um contexto de crescente insatisfação social – e cobraria uma resposta firme das autoridades.

Mas não vivemos tempos normais. Quem protesta contra o assassinato de três crianças está sendo reiteradamente classificado pela mídia como “extremista”, “extrema-direita”, “direita radical” etc. Aliás, a resposta do recém-eleito primeiro-ministro, Keir Stermer, aos protestos foi criticar a “brutalidade da extrema-direita” e ameaçar os manifestantes de prisão: “Vocês vão se arrepender”, ele afirmou na TV.

E, de fato, mais de 100 pessoas já foram presas – inclusive por postagens de apoio aos manifestantes nas redes sociais. Deve ser horrível viver em um país onde postar uma opinião nas redes sociais dá cadeia.

A mensagem é: quem protesta contra o assassinato de três crianças é racista, xenófobo e disseminador de fake news: merece ser preso

O mesmo padrão se repete em todo o noticiário brasileiro sobre o assunto: “Extrema direita vai às ruas do Reino Unido” (Metrópoles); “Protestos violentos da direita radical” (BBC); “Protestos violentos da direita radical no Reino Unido” (G1); “Violentos protestos da extrema direita” (Carta Capital); “Entenda quais são os grupos de extrema direita por trás dos protestos no Reio Unido” (Folha de S.Paulo); “Premiê britânico condena violência da extrema-direita” (CNN); “Protestos violentos da extrema direita” (Exame). Etc.

Já o jornal “O Globo” foi além: atribuiu os protestos a uma “onda de desinformação e violência” promovida por “grupos fascistas” – como se não houvesse manifestantes de esquerda, de centro e da “direita consentida” nas ruas das cidades inglesas, somente gente da extrema-direita. E como se o assassinato brutal de três crianças não fosse motivo suficiente para pessoas decentes se revoltarem.  

A “fake news” teria sido associar o atentado de Southport ao Islamismo. Ora, ele pode não ser muçulmano, mas, no caso em questão, não faz a menor diferença: a revolta dos ingleses não é contra a religião do assassino, é contra o crime cometido. Tanto que os protestos explodiram antes mesmo que se soubesse quem era o matador (o que não muda o fato de que muitos outros crimes, incluindo atentados terroristas, foram, sim, cometidos por imigrantes muçulmanos).

O truque é simples. O que a mídia está fazendo é tirar o foco do principal – a crise de segurança provocada pela imigração descontrolada – para transformar uma tragédia em mais um pretexto para lacrar contra o fascismo imaginário – e, eventualmente, pedir censura e regulação das redes sociais.

Em nome de um suposto combate ao “discurso de ódio”, interdita-se qualquer debate sobre a necessidade de limites para a imigração. Porque, como se sabe, todos os imigrantes são bonzinhos, inclusive aqueles que gritam “Allahu Akbar” antes de degolar judeus e cristãos.  

A mensagem é: quem protesta contra o assassinato de três crianças é racista, islamofóbico, xenófobo e disseminador de fake news. Merece ser preso. Extremista não é o assassino, é quem se revolta contra o crime cometido.

Está ficando chato, já. Até porque uma pessoa normal, e intelectualmente honesta, olha e pensa: “se protestar contra o assassinato a facadas de três crianças é ser de extrema-direita, então tudo bem, podem me chamar de extrema-direita”. O problema é que a maioria da população terá que ser rotulada assim.

A imigração é um problema complexo, mas seguramente se agrava quando um país abre as portas de forma descontrolada para imigrantes com outros valores, outra religião, outra cultura, e sem qualquer qualificação.

E se agrava mais ainda quando o governo coloca os interesses dos imigrantes à frente dos interesses dos cidadãos que pagam impostos – recursos que na Inglaterra são hoje usados, por exemplo, para pagar hospedagem em hotéis a imigrantes sem qualquer condição ou disposição de se integrar à cultura local. O inglês comum, de direita ou de esquerda, tem o direito de não gostar disso: é uma insatisfação legítima, não é fascismo.

Nesse contexto de crescente e profunda anomia social, o assassinato das meninas em Southport foi somente a gota d´água. As manifestações que se seguiram não são de "extrema-direita". E não foi a “desinformação” que provocou a onda de protestos, que não dá sinais de arrefecer: foi a revolta da população comum, que está farta de baixar a cabeça para narrativas, enquanto a vida só piora.

 

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