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Mônica Calazans, enfermeira de 54 anos, foi a primeira brasileira a receber neste domingo (17) uma dose da vacina Coronavac.
Mônica Calazans, enfermeira de 54 anos, foi a primeira brasileira a receber neste domingo (17) uma dose da vacina Coronavac.| Foto: AFP

Somos um país de oportunistas e egoístas. Já nem sei quantas vezes escrevi e pronunciei esta frase. Quem dera as palavras tivessem um poder transformador, mágico, imediato. Seria só gritar: “Chega disso!” Pronto, interesseiros e aproveitadores liquidados. Se não funcionasse de primeira, seria só gritar de novo, a um palmo da cara de quem não tem moral: “Pare, de uma vez por todas, pare!” E, a partir do imperativo, o sem-vergonha despertaria, olharia em volta, enxergaria as boas referências e destruiria em si todo veneno. Quem dera.

Vamos espichar os olhos. Vamos observar outras terras. Inglaterra, Alemanha, Espanha, França, Estados Unidos... Quando esses países fizeram a primeira aplicação da vacina contra a Covid-19, não havia políticos por perto. Nem assessores. Nem dezenas de jornalistas em aglomeração. Lá estavam a pessoa a ser imunizada e pouquíssimos profissionais da saúde, quase sempre apenas uma enfermeira. Não vestiram camisetas feitas especialmente para a ocasião, não choraram sem verter lágrimas, escaparam de coreografias que nada têm a ver com saúde, com proteção.

A politicagem tem atropelado a saúde pública. Oportunistas e egoístas querem seus dividendos, mais poder, mais dinheiro

É verdade que, em todo canto, tudo relacionado ao novo coronavírus foi politizado. A atuação da OMS, do início até agora. O isolamento, confinamento, lockdown, as estatísticas, máscaras, o tratamento precoce, as vacinas... A politicagem tem atropelado a saúde pública. Oportunistas e egoístas querem seus dividendos, mais poder, mais dinheiro. A vacina é minha, quem está salvando você sou eu. Eu sou a verdade, a ciência. Não acredite em mais ninguém. Sou eu a boa intenção. E nada peço em troca.

As vacinas, nem a Anvisa nega, são experimentais. Testes feitos em poucos meses, em algumas semanas, sem incluir idosos, gestantes... Muitas perguntas, muitas dúvidas. Não importa, o uso emergencial foi aprovado, e torço para que os imunizantes sejam realmente seguros e eficazes. Espero também que haja cada vez menos gente em pânico e mais vacina disponível. E, claro, que não venham com vacina obrigatória, com restrições para quem decidir não tomar. É assustador saber que na Nova Zelândia e na Alemanha já falaram numa espécie de “campo de concentração” para quem se recusar a ser vacinado...

Não adianta, gosto das reticências, elas economizam palavras, abrem espaço para um breve pensamento, um suspiro complementar. Neste texto especialmente, os três pontinhos acabaram mesmo substituindo lamentos. É que não há palavras mágicas para endireitar ou sumir com egoístas e oportunistas, suspeitos de irregularidades com verbas públicas para o combate à Covid-19, os que escondem interesses comerciais, políticos ou os dois, que fingem ou exageram boas ações. O que existe é uma espécie de vacina chamada voto. Precisamos votar com atenção e cuidado, para imunizar a política, para eliminar das nossas vidas quem só vê defeitos nos outros e não se constrange com sua própria perversidade.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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