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Luís Ernesto Lacombe

Luís Ernesto Lacombe

Os que podem tudo

Um tijolo no lugar do coração

Lula durante visita ao bairro de Passo de Estrela, em Cruzeiro do Sul (RS). (Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República)

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Não é o quê... A questão é quem... Mácula antiga nesse país, vergonha que só aumenta. Não interessa o que façam, o que deixam de fazer... Interessa quem faz e quem deixa de fazer. É conforme o sujeito que se vai determinar a aplicação das leis, ou o desprezo a elas, uma livre interpretação do que está escrito, uma adaptação qualquer mal-ajambrada de tudo. Atropela-se a legislação, atropelam-se normas, regras, ordens, preceitos, princípios, obrigações, deliberações, cânones... Quem? Quem? É isso que norteia o país da hipocrisia, dos absurdos.

“Rachadinha é corrupção, é crime...” Mas, se a acusação for contra um aliado de quem está no poder, arquive-se a denúncia. Quer agredir verbalmente um colega de parlamento? Depende de quem você é... Se está no grupo que controla quase tudo, diga a uma deputada, sem nada temer: “Você é ridícula. Você é feia, ultrapassada. Vai hidratar esse cabelo, vai se cuidar”. Também pode chamar deputado de “veadinho”, de “boiola”... Estando com as pessoas certas, você jamais será preconceituoso, homofóbico, machista, racista.

Agressões físicas? Sim, um grupo está liberado para dar tapa, empurrões, chutes... Claro, sempre naqueles que merecem apanhar. Não há Conselho de Ética que se oponha a essa “lei”... Quem? Quem? Por isso, uma deputada casada com um colega da Câmara que há pouco tempo expulsou com violência da casa do povo alguém que o “incomodava” pode publicar nas redes sociais: “Chega! Até onde será permitido o uso indiscriminado da violência como forma de fazer política dentro do parlamento brasileiro?”

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Quem é você? Quem é o outro? Com base nas respostas, será decidido quem pode e quem não pode invadir e depredar prédios públicos. Quando aqueles ao lado dos poderosos fazem algo assim, são chamados de “manifestantes”. Quebram tudo, agridem, mas com a melhor das intenções, é só um protesto contra os tiranos e autoritários, é pelo povo... Os outros, os outros, mesmo que não haja provas contra eles, são a escória da escória, são piores do que traficantes, assaltantes, estupradores, assassinos... Cadeia neles, para que não esqueçam: o que importa é quem, não é o quê...

Mentir? Claro que a alguns isso é permitido. Depende sempre de quem... Há o grupo que pode encher-se de orgulho pelas mentiras que conta. E suas mentiras serão prontamente transformadas em “verdades”. Elas serão a salvação e proteção do país. Você pode, dependendo do lado em que está, interditar o debate, censurar, perseguir, como se estivesse numa peregrinação heroica em defesa da democracia. Pode até dizer que está aberto a críticas, a rebater opiniões contrárias às suas, ao argumento, contra-argumento, ponto, contraponto... E, na sua concepção muito particular de “debate”, você pode chamar os outros de nazistas, fascistas, genocidas.

Dependendo de quem você é, pode se candidatar a presidente, ainda que condenado em três instâncias por corrupção e lavagem de dinheiro. Se tem o cabelo laranja, mesmo condenado numa farsa, ainda com direito a recursos, você não pode nada. Dependendo de quem você é, pode fazer campanha eleitoral antecipada, com verba da Lei Rouanet, vender arroz com a logomarca do governo federal, gastando um dinheirão. Abuso de poder econômico, abuso de poder político... Sobre escombros, com microfone de lapela, direção de fotografia, está liberada a propaganda em meio a tragédias. Tijolinho na mão, um tijolo no lugar do coração... E está tudo bem. Só depende de quem você é.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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