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Luiz Felipe Pondé

Luiz Felipe Pondé

A busca pela transcendência

(Foto: Divulgação/20th century fox)

Ad Astra, último filme do Brad Pitt, é uma pérola espiritual e psicológica. Raras são as vezes em que esse diálogo não descamba para o banal. O diretor James Gray criou um diálogo elegante. Nesse sentido, Ad Astra se assemelha a um filme feito por Terrence Malick, o melhor cineasta em atividade no que tange à espiritualidade.

Todo filme que trata da exploração espacial no futuro flerta com o mundo espiritual.

O mundo espiritual é aquele para o qual nos desviamos quando escapamos do cotidiano imerso nas pedras que catamos todo dia.

O universo é, por si só, um enorme segredo cheio de escuridão, silêncio e medo. Suas infinitas dimensões o põem no lugar de maior protagonista do conceito de sublime em Kant: ficamos maravilhados com nossa insignificância.

Para ficar em poucos exemplos no âmbito da filmografia relacionada, desde 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick, Solaris (1972), de Andrei Tarkovski, e Interestelar (2014), de Christopher Nolan, a temática da exploração espacial e da espiritualidade nos faz perguntas essenciais: haveria algo a descobrir sobre nós mesmos nas viagens espaciais?

É evidente o paralelo entre procurar vida inteligente e procurar respostas para nossa solidão cósmica

Apesar de 2001: Uma Odisseia no Espaço trazer Hal 9000, a inteligência artificial mais famosa do cinema, e isso ser naquele momento um grande trunfo tecnológico do filme, Hal 9000 ficou famoso mesmo pelo seu lado humano: seu erro, seu medo, sua vingança.

O que percebemos em filmes que põem em diálogo o universo e a espiritualidade é que a tecnologia, "enquanto inovação" (termo orgasmático no mundo corporativo), é sempre coadjuvante.

No mínimo, será a primeira coisa a envelhecer no filme. Por isso, tecnologia (como restaurantes e comida) nunca é, de fato, luxo, para quem entende um pouco do conceito de luxo, que é o que permanece quando tudo o mais desaparece. Deus é puro luxo.

Em Ad Astra, colonizamos a Lua com voos comerciais, quem sabe da Latam, da Gol e da Azul. Marte tem humanos que nunca vieram à Terra e lá nasceram. Estamos em guerra na Lua por recursos naturais, o que nos faz sentir estranhamente em casa quando vemos o filme. Os pecados são parte daquilo que chamamos de lar, por isso os utópicos são sempre infantis.

O personagem de Brad Pitt está em busca do pai, interpretado por Tommy Lee Jones, um suposto herói mundial que desapareceu num projeto Lima, que visava buscar algum sinal de vida inteligente para além de Marte.

Quando pai e filho finalmente se reúnem, na órbita de Netuno, o desenlace se dá (sem spoilers demais, por favor).

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É evidente o paralelo entre procurar vida inteligente e procurar respostas para nossa solidão cósmica. Ao final, é sempre uma procura por Deus ou deuses (para os menos sofisticados), uma procura pela causa incausada do Aristóteles, princípio que tudo move, sem nunca ser movido.

O universo, pela sua vastidão, escuridão e silêncio (e nossa ignorância sobre ele), é o habitat natural para a dimensão estética dessa busca.

Voltando ao elemento psicológico do enredo. A busca do protagonista também é pelo seu pai desaparecido há 30 anos, que abandou a família na Terra. A criança abandonada que vive no filho adulto e corajoso fala desse silêncio infantil que nos mantém todos presos a determinantes psicológicos – às vezes, insuperáveis.

O amadurecimento é, muitas vezes, uma forma de tristeza a ser transformada em companheira do percurso adulto. Kierkegaard dizia no século 19 que todo autoconhecimento verdadeiro se inicia com alguma forma de entristecimento. Esse é um fator essencial que o debate infantil sobre felicidade raramente entende.

Brad Pritt é um homem triste no filme, que segue à risca as normas da sua vida profissional. E a humanidade inteira é uma humanidade cansada. Essa é uma das belezas do filme: seguramente, como diz o filósofo Byung-Chul Han, somos uma sociedade do cansaço.

A esperança é que, como diziam Albert Camus e Emil Cioran, o cansaço pode se transformar numa forma inesperada de virtude. E o amor, na última fronteira da vida adulta: poder trabalhar e amar é o clímax da saúde mental (Freud).

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