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Luiz Philippe de Orleans e Bragança

Luiz Philippe de Orleans e Bragança

Pressão estratégica

Tarifar é intervenção externa? Não, mas pode ser o começo

Tarifas de Trump refletem tensão política, rejeição ao governo Lula e possível início de sanções mais amplas por motivações ideológicas. (Foto: Shawn Thew/EFE/EPA)

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A recente ação do governo Trump de tarifar os importados do Brasil merece ser bem interpretada. A carta do presidente dos Estados Unidos para o governo Lula, amplamente divulgada para toda a sociedade, deixa claras as intenções norte-americanas, e sua leitura pode gerar reações diversas. Entretanto, precisamos destacar 10 pontos para melhor entendimento do contexto em que foi escrita e as razões para levá-la a sério.

Causa e consequência

A causa é o governo Lula e o STF, que praticam a censura e promovem ataques aos direitos humanos, aliando-se a ditadores, narcotraficantes e terroristas, todos inimigos dos EUA. A consequência é que, se os Estados Unidos declararam guerra a esses grupos, e o Brasil é amigo deles, torna-se o amigo do inimigo. E como os EUA tratam o amigo do inimigo? Como se inimigo fosse!

Portanto, qualquer sanção ou aumento de tarifas que possam advir são decorrência dessa atitude do Brasil. E é só o começo. Não se trata de expansionismo e imperialismo ianque, é mera defesa de seus interesses.

Tarifas não são violação de soberania, mas podem ser o começo

Tarifas são aplicadas sobre o importador e o consumidor norte-americano. Não têm a ver diretamente com o consumidor brasileiro. É claro que as tarifas têm um impacto negativo sobre a sociedade brasileira, para as empresas e os consumidores, mas são efeitos indiretos, porque os EUA já foram os parceiros comerciais mais significativos, mas hoje estão em terceiro lugar.

Os Estados Unidos ainda importam muito de nós, e algumas empresas serão afetadas, principalmente as mais dependentes. O Brasil, como um todo, não está tão exposto e nem depende tanto de exportações, mas elas serão afetadas diretamente, e os consumidores brasileiros devem sentir seus efeitos até de um modo deletério, se a situação se estender a longo prazo, uma vez que a produção, ao não ser escoada para os Estados Unidos, pode gerar uma queda de preços que cause desemprego.

Portanto, as tarifas não são uma violação de soberania, mas uma defesa dos EUA contra inimigos, governos e economias que não estejam alinhados a seus interesses.

Anistia e Direitos Humanos

É fundamental fazer a leitura de uma possível reação, pois, ao que tudo indica, este pode ser o primeiro estágio de uma série de sanções. Se for uma reação de combater com igual sanção tarifária, é um equívoco. Isso porque o Brasil está em déficit com os Estados Unidos, pois importa mais do que exporta. Então, não se trata de uma guerra comercial, nem de reivindicar melhores condições para o comércio exterior.

Os EUA já têm uma relação comercial favorável, e é nítido que eles não querem condições melhores. A leitura correta não deve ser de começar uma guerra tarifária, mas de enfrentar as sanções a partir de ações políticas internas.

Essas mudanças políticas devem começar pela anistia aos presos de 8 de janeiro, cessando também as perseguições políticas ao presidente Bolsonaro e sua família. Essa deveria ser a reação inteligente e esperada. Não é a parte comercial o fulcro de resposta.

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Ataque ao narcotráfico e ao terrorismo

O Brasil se transformou no abrigo e no esteio de narcotraficantes. Eles já se embrenharam nas instituições brasileiras, com muitos juízes, deputados, senadores e governos vinculados ao narcotráfico, assim como exercem interferência profunda na economia e são hoje uma força social, haja vista elementos de facções criminosas serem aplaudidos pela própria população.

Isso é preocupante e, ao mesmo tempo, o governo quer dar abrigo ao terrorismo internacional — isso se já não está dando. A verdade é que as atividades terroristas no Brasil têm amplo espaço para se estabelecerem. Imagine os Estados Unidos, um governo que quer combater o narcotráfico e o terrorismo, tendo como país próximo o Brasil, tão alinhado a esse tipo de grupo.

Em países pequenos como Panamá, Honduras e outros da América Central, bem como alguns da América do Sul, seria fácil uma ação bélica dos Estados Unidos contra grupos do narcotráfico. Mas, em um país continental como o Brasil, o custo seria exorbitante — não apenas o custo monetário, mas o custo humano, de risco de vidas, em vista das dimensões do Brasil. Haveria efeitos graves mesmo dentro dos EUA.

Remover este regime é também negar a expansão do narcotráfico na América Latina, outra promessa de campanha de Trump muito importante. O que quero dizer ao abordar todas essas questões? É inegável a amizade entre Trump e a família Bolsonaro, mas temos que ser pragmáticos e entender que o Brasil é um elo fundamental, e qualquer ação norte-americana transcende a esfera pessoal.

O embate entre Estados Unidos e Brasil apenas começou, e só terminará favoravelmente se houver mudanças internas no Brasil que se materializem na nossa realidade

Defesa da liberdade de expressão e fim da censura

Trump colocou esta pauta como meta de governo, e há interesses comerciais das grandes plataformas de tecnologia. As de maior relevância que atuam no Brasil são de origem norte-americana, e o mercado brasileiro de comunicação é enorme.

Se houver censura por parte do governo, haverá também uma fragilização dessas empresas no tocante aos investimentos. E essa não é apenas uma questão de garantir a liberdade de expressão ou a estabilidade política, mas toca na questão comercial, porque centenas de bilhões de reais transitam nessas plataformas.

Se a censura prejudicar suas operações no Brasil, elas simplesmente se retiram. E, ao saírem do país, haverá impacto interno sobre as atividades e empresas brasileiras, e também sobre empresas norte-americanas, que se beneficiam dessa atividade econômica da livre iniciativa brasileira.

Portanto, a liberdade de expressão e o fim da censura vão além dos interesses econômicos, mas também políticos, para a sociedade brasileira e para o mundo. Essa foi uma promessa de campanha que Trump está honrando, e, ao mesmo tempo, ajudando o Brasil a ser um país livre. Uma constatação importante para abordarmos o próximo item.

Exemplo para demais países

Esse é outro ponto crucial. O Brasil é um exemplo para os demais países em âmbito regional, na América Latina, e também na Europa. E por quê?

Os sistemas judiciários do Brasil, dos países da América Latina, da Europa e dos Estados Unidos fazem parte de um cartel mundial que, de maneira direta ou indireta, quer controlar seus países — especificamente os do Ocidente, onde ainda não existem ditaduras — e esses judiciários têm uma força inquestionável.

Diante dessa prerrogativa, eles têm atuado em consonância com a mesma agenda imposta por Alexandre de Moraes no Brasil, que é uma agenda internacional, também praticada na Alemanha, na França, na Inglaterra e em diversos países europeus, assim como na América Latina, em maior ou menor grau.

Mas o Brasil pode servir de exemplo para todos aqueles que têm judiciários ativistas, que queiram fazer censura em prol dessa visão globalista da internacional socialista, dentro dessa agenda unipolar da qual a ONU era expoente na divulgação e na propagação institucional.

Trump, por mais que não queira os Brics como poder multipolar, subscreve algumas partes da agenda dos Brics por entendê-las como antagônicas ao mundo unipolar, para combater o judiciário ativista, pois esse judiciário é oposto à visão de soberania de nações e estados independentes — ideia semelhante à dos Brics, por incrível que pareça.

Mas a proposta de Trump é semelhante à dos Brics? Nada a ver. A ideia do presidente Trump é muito rara: uma perspectiva nacional-capitalista, com proteção e soberania como política externa; e liberdade econômica como política interna.

Não é esse o pensamento da maioria dos países dos Brics, que têm uma visão nacional-socialista e mantêm a perspectiva externa de proteção e soberania, mas, internamente, são socialistas, dirigistas, estatistas em suas economias.

Visões muito distintas. A de Trump é mais inusitada, pois não se manifesta em nenhum país a não ser nos Estados Unidos. Acredito que este é o posicionamento mais correto para o Brasil, pois temos potencial infinito para adotar essa posição, por sermos espelho do modelo norte-americano em vários aspectos.

Certamente, esse posicionamento impulsionaria o Brasil a outro patamar de desenvolvimento: uma nação independente e soberana, com liberdade interna e proteção externa. Trump está dando exemplo de como funciona esse modelo: contra os Brics e contra a ONU. Uma visão soberanista.

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Ataque aos Brics e à ideia de moeda única

Sancionar o Brasil é também atacar os Brics, pois se trata de uma organização anti-americana, anti-europeia, anti-ONU. Isso, por um lado, é até bom, pois a ONU sempre adotou um viés muito alinhado à internacional socialista. Só que os Brics são uma força nacional-socialista.

Apesar de a ONU ter uma visão de mundo unipolar, os Brics têm uma visão de mundo multipolar. Entretanto, na visão dos Brics, a multipolaridade deve ser com base na ditadura, com economias dirigidas, sem liberdade de expressão, sem estado de direito, nem separação de poderes.

Ao contrário: todos os países participantes — ou, no melhor dos casos, como Brasil e Índia — são democracias falhas ou ditaduras de alguma espécie. Em comum, os países dos Brics e seus aliados são economias altamente reguladas e dirigidas. Não são livres, apenas estados fortes com uma sociedade frágil.

Mas a ideia mais destrutiva para os EUA é a substituição do dólar, pregada pelos Brics. Querem acabar com a dominância do dólar nas relações comerciais, um grande imbróglio, pois quem determina a moeda corrente nas relações comerciais é o mercado, e não os estados ou os acordos internacionais.

O yuan tem aumentado sua presença nas balanças comerciais e reservas cambiais em vários países, mais por imposição que por opção de países que contraem dívidas com a China. E, para saldar os débitos, os governos são obrigados a pagar com moeda chinesa.

Por isso, o yuan tem duplicado e triplicado nos últimos anos em reservas cambiais, chegando a apenas 5% do total, enquanto quem encabeça a lista é o dólar, seguido pelo euro.

Ainda há resquícios da libra esterlina, em terceiro plano, assim como o franco suíço como referência. O mercado sempre opta por moedas mais estáveis, advindas de países que respeitam o estado de direito, mais abertos — o que não existe nos Brics.

Entretanto, se houvesse a possibilidade de substituição do dólar, haveria uma enorme crise interna nos Estados Unidos, porque eles têm uma balança comercial negativa com o mundo — importam mais do que exportam — e têm um déficit fiscal gigantesco, aproximadamente 2 trilhões de dólares, ou 6,4% do PIB.

Para consertar isso, precisam cortar gastos internamente e abater a dívida de forma brutal, o que eles não conseguem fazer a curto prazo.

Os Estados Unidos ficariam mais fragilizados se essa moeda dos Brics ganhasse força, e o Brasil foi um dos principais proponentes disso. Ao substituir o governo brasileiro, provavelmente a proposta de desdolarização, que já está em curso, perderia seu principal defensor.

Mudança de regime – balança, que ele cai

O atual governo é inimigo do mundo livre, está muito claro. Assumiu e reiterou posições em prol de ditaduras, traficantes, criminosos internos e externos, terroristas e, sobretudo, países que declararam guerra aos Estados Unidos. Portanto, eles não têm nenhum interesse em ter um inimigo em sua esfera hegemônica.

Se for concedida a anistia, forem restaurados os direitos políticos da família Bolsonaro e acabarem as perseguições à oposição, é bem possível a mudança de regime por vias democráticas.

Assim, existe uma intenção também na mudança de regime, em um primeiro momento, por ações indiretas, mas, em função da força desse conluio entre STF e governo — e dependendo da resposta destes — essas ações podem ser mais diretas.

Hegemonia regional

Há um evidente interesse de os EUA restabelecerem a hegemonia regional, não porque a intenção seja expansionista e imperialista, mas em função da América do Sul, antes sob influência norte-americana, agora pertencer à China. Os países da América Latina estão se transformando em neocolônias chinesas. Então, os Estados Unidos lançam uma reação devido à perda de hegemonia local.

Os chineses têm uma influência inédita na história do Brasil. Antes, apenas uma fração de influência comercial e política; a partir do último governo Lula, a China se tornou preponderante em todo o território nacional e vizinhos, deslocando completamente o eixo norte-americano, que era uma alavanca de influência.

Agora a China é o maior influenciador, e, em países muito fracos ou muito corruptos — como é o caso do Brasil — ela passa a dominar politicamente também

Haja vista muitos ministros que já se colocaram como favoráveis ao regime chinês.

Nossas Forças Armadas fazem reuniões com as Forças Armadas chinesas, está tramitando intercâmbio tecnológico com a China, conversas com a Rússia sobre armamento nuclear e possíveis bases de lançamentos de mísseis em território nacional.

Sem o Brasil, a hegemonia regional não se estabelece. E isso não quer dizer um domínio que avilta a soberania nacional, mas que os Estados Unidos possam contar com aliados — e não com inimigos tão próximos — especialmente se eles se instalarem em um país do tamanho do Brasil.

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Menor custo agora que mais tarde

Amizade irrelevante, inimizade perigosa. Nessa mesma linha, o custo de um conflito com os Estados Unidos agora é menor que mais tarde, exatamente por causa do curso inexorável que o governo brasileiro adotou, de favorecer os interesses da Rússia e da China, e de descolar o Brasil do Ocidente, transformando-o no grande inimigo ocidental.

Vamos lembrar que a amizade do Brasil é irrelevante. Nós não temos importância nas decisões mundiais, pois não há muito a oferecer: nossa economia é média, nossa força bélica é patética.

Então, não temos como projetar força, mas somos usados como fantoche de apoiamento, tanto que nosso envolvimento no conflito da Ucrânia e de Israel tem sido meramente fazer coro aos interesses de Rússia e China, em contraponto aos EUA, Israel e Europa.

Esse ponto é importante, pois se trata de uma visão mais fria dos jogos de guerra. Seria catastrófica qualquer intervenção, no momento em que o Brasil está completamente enfraquecido, desarmado, desestruturado, como fantoche de um governo, prestes a se tornar uma base territorial chinesa e base de lançamento nuclear para os russos.

Vemos que a intervenção agora é negar ao futuro inimigo uma capacidade de ação possível dos EUA. A paz no Atlântico Sul, com seu comércio, assim como interesses estratégicos — inclusive acesso à Antártida — está toda comprometida se o Brasil se transformar em um grande inimigo do mundo civilizado. E isso já está acontecendo.

A China já domina a área de influência que seria do Brasil, além de outros países da América Latina e da África Ocidental, cujo defensor natural seria o Brasil. Mas a China deslocou o Brasil, estabeleceu portos, relações comerciais e uma série de entrepostos que fragilizam totalmente a posição brasileira.

Portanto, é menor o custo para os EUA intervirem agora do que esperar o Brasil se armar através dessas relações com Rússia e China. Em um futuro muito próximo, poderemos nos tornar um grande inimigo e rival tutelado por eles, como os antigos países da antiga União Soviética hoje o são.

Conteúdo editado por: Aline Menezes

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