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Cartão de crédito da Apple é investigado por sexismo após reclamações de maridos
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As autoridades de Nova Iorque resolveram abrir uma investigação sobre o algoritmo utilizado pelo grupo Goldman Sachs, que administra o cartão de crédito da Apple voltado para tecnologia. A denúncia é de que limite dado a homens é muito maior do que o dado a mulheres e que isso não teria relação com a situação financeira.

A particularidade da reclamação é que ela vem de homens inconformados com a forma como suas mulheres foram tratadas tanto no processo de concessão de crédito quanto pelo serviço de atendimento ao consumidor na hora de buscar uma resposta. Entre os maridos está um dos fundadores da Apple.

Tudo começou com um tweet do mega empresário David Heinemeier Hansson, criador do Ruby on The Road, software que ajuda a desenvolver apps e foi usado para criar, por exemplo, os aplicativos do Airbnb e Soundcloud. Ele é casado há muitos anos com a mesma mulher e os dois pediram o cartão.

Ele explicou que os dois são casados em comunhão de bens e fazem declaração de imposto de renda conjunta, então apresentaram exatamente a mesma declaração financeira ao cartão. O limite de crédito dele foi 20 VEZES superior ao dela.

Claro que apareceram os conhecidos criticadores profissionais de internet dizendo que era tudo mimimi. Eles irritaram um pouco o desenvolvedor, mas barulho não tem como vencer os fatos. Vários outros maridos começaram a reclamar de situações parecidas.

Alguns contavam situações bem mais esquisitas, como o caso em que a mulher ganha mais que o marido, tem um score de crédito maior que o dele e recebeu 1/3 do limite que foi dado a ele.

Outro marido contou que não trabalha há 5 anos e a mulher dele é médica atuante. Ele recebeu limite de crédito de US$ 20 mil e ela de US$ 4,8 mil.

Até um fundador da Apple apareceu para reclamar e levantou um ponto interessantíssimo: hoje, a tecnologia está acima das pessoas.

Steve Wozniak contou que ele e a mulher não têm contas bancárias, cartões nem nenhum bem em separado, tudo deles é conjunto. Mesmo assim, o crédito dado a ele foi 10 vezes maior que o crédito dado a ela. E ele arremata: "difícil conseguir corrigir, no entanto. É a 'big tech' em 2019".

A supervalorização da tecnologia faz com que seres humanos não questionem os erros ou injustiças que estão diante dos seus olhos. David Heinemeier Hansson, o que fez a primeira reclamação, foi atendido logo após tuitar. O crédito da mulher dele foi igualado ao dele. Mas ele reclama da forma como a Apple tratou o caso.

Quando a mulher dele ligava e explicava os detalhes, os atendentes só respondiam que "é só o algoritmo". Ela argumentou que as declarações financeiras apresentadas são as mesmas, que a renda é a mesma e deveria haver algum erro. Fez mais de uma tentativa. A resposta sempre era a mesma: "é só o algoritmo".

Vários outros maridos relataram que, quando eles ou as mulheres ligaram na Apple para reclamar da diferença de crédito, também ouviram a mesma coisa: "é só o algoritmo". E isso fez o fundador da Apple, Steve Wozniak, questionar: "quem sabe o que é o algoritmo"?

"Claramente, no nosso caso, um humano poderia ter tomado a atitude correta, mas a tecnologia é mais importante que as pessoas no dia de hoje", reclamou Steve Wozniak, um dos fundadores da Apple.

O Departamento de Serviços Financeiros de Nova Iorque, que regula Wall Street, insiste na investigação alegando que qualquer algoritmo que resulte em tratamento discriminatório por empresas viola as leis do Estado, não importa se o erro foi proposital ou acidental. É uma lógica interessante, a de que o dano real causado aos outros é a medida da investigação.

O Apple Card é o primeiro cartão de crédito da Goldman Sachs, que está expandindo seus serviços, e serve apenas para comprar produtos da marca. O cartão não permite contas familiares, só individuais e o único comentário que o banco fez até agora é que o fato de ser homem ou mulher não deve interferir nas decisões do banco sobre o crédito de uma pessoa.

É um fato que nos obriga a rediscutir nossa relação com a tecnologia. Por que confiamos tanto em algoritmos e inteligência artificial se eles são programados por humanos? Com dezenas de clientes ligando para o banco para relatar o mesmo erro, nenhum ser humano foi capaz de dizer que talvez o algoritmo estivesse errado.

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