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Madeleine Lacsko

Madeleine Lacsko

Reflexões sobre princípios e cidadania

Identitarismo

Homenagem virou femenagem, seminário virou ovulário: está pouco, quero mais

O “Unicórnio do Gênero” é a nova arma utilizada nos EUA pelo movimento transgênero para abordar crianças nas escolas | Reprodução

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Ontem, a professora Juliana Cunha, especialista em linguagem da USP e FGV, resolveu trazer à tona nas redes sociais uma discussão muito pertinente. Sei que isso é um danado de um erro, em rede social só se dão bem os imbecis, mas vamos aplaudir mesmo assim. Ela refletia sobre neologismos criados com o propósito de incluir pessoas mas que não entregam o que prometem.

Muita gente já se meteu a dizer que ela estava mentindo. Era algo insignificante essa turma que fala em "femenagem" como uma versão feminista de homenagem. Eu realmente gostaria que fosse porque precisa ser bem ignorante para chegar a essa precária versão final. Infelizmente não é. Faz uns 10 anos que gente descompromissada com o mundo real insiste nessa história.

A imbecilidade e o ócio são direitos universais. Essas pessoas têm esse direito. A questão é quando isso vira uma tentativa de padronizar a linguagem à força, dizendo que seria um processo de inclusão. Não é, seria o oposto, criar uma linguagem incompreensível para uma pequena elite e deixar a maioria de fora. Aliás, a Academie Française já declarou isso em documentos oficiais, como mostrei num artigo tempos atrás.

Chamar um seminário de ovulário serve para acolher mulheres ou para o povo não ir ao evento porque não entende o que vai acontecer ali? Gente, se me chamarem para um ovulário, eu simplesmente não vou. Ou é coisa que eu vou ter de cozinhar ou é cuidar de bicho ou vão falar de gravidez e menstruação. Já dei minha cota disso na vida, vejam se as novinhas ainda têm paciência.

Se você também não aguenta mais a galera da etimologia freestyle inventando uma palavra por dia e uma intenção maligna em palavra por minuto, siga minha dica: perfil Nomes Científicos no Instagram e Facebook. Sou fã de carteirinha do professor Rafael Rigolon, da Universidade Federal de Viçosa, que traz pesquisas completas e divertidíssimas. Aqui ele fala sobre "femenagem".

O professor Rafael Rigolon ensina que é uma delícia brincar com as palavras. Petshops amam isso, todos conhecem um Cãopeão ou um 18 Kilatem. Também são criados conceitos sérios como feminicídio, que não é oposto de homicídio, mas uma palavra nova para um tipo penal novo. O caso é que atingem o objetivo proposto, seja marketing ou normatização. Femenagem atinge? Não me parece. Identitarismo é bem isso, dane-se a realidade.

Quem pode e quem não pode "brincar com as palavras" então? Poder, todos podem. Impor aos outros é que não. Impor como faz o identitarismo, dizendo que é facultativo mas atacando os contrários, também não pode. E órgão público usar uma linguagem que não seja a oficial também não pode. O cidadão pode tudo o que a lei não proíbe. O funcionário público pode aquilo que a lei manda.

Isto posto, como eu sou cidadã, considero que só femenagem e ovulário está muito pouco. Precisamos ir muito além ainda para conquistar direitos iguais para as mulheres. No momento atual, segundo a lacração, se você não tiver um orgasmo na urna votando no Lula, as mulheres perderão todos os seus direitos e ficarão amarradas no pé da cama. Então é a ele que recorro.

O lançamento da pré-candidatura de Lula à presidência teve um discurso emocionante: "Eu e todos nós que estamos juntos nessa hora, temos uma causa: restaurar a soberania do Brasil e do povo brasileiro. Meus amigos e minhas amigas". Como assim? Por que Lula é mais machista que José Sarney? Sarney falava brasileirAs e brasileirOs. Lula precisa evoluir e eu vou ajudar com mais sugestões. Na verdade, são sugestões para todo mundo adotar ou ser cancelado.

1. Não usar mais "meus amigos e minhas amigas"
Substituir por minhas amigas, meus amigos, minhxs amigxs, minhes amigues & demais indivíduos bináries ou não que não crêem em propriedade.
A noção de meu/minha/minhe/minhx é uma chaga do capitalismo instituído na lógica do patriarcado branco que só oprime as minorias.

2. É preciso fazer mudanças no recém-lançado Movimento Junt ❤️ s pelo Brasil, que faz apologia à cultura do estupro e ao patriarcado
Dá para ser diferente e Lula já provou isso. É possível ter emprego e também empreender. Dá para fazer churrasquinho e dá para escolher não comer carne. É possível estudar e trabalhar! É possível voltar ao futuro que a gente lembra! Seja voluntári❤️!
Gente, eu até risquei porque era tanta cultura do estupro que eu não aguento olhar. Vamos substituir por:
Lula já provou que é possível ser diferente mesmo sem dar.
Vamos fazer churrasquinho mesmo sem dar.
Você pode escolher não comer carne mesmo sem dar.
Como é que me faz um negócio com gênero neutro agradando até vegano, um povo que nem a mãe deles aguenta, e me enfia um "dá para fazer churrasco"? Pela mãe do guarda.

3. Lula está discriminando a população trans e não-binárie ao não se importar com pronomes.
"Filho da Dona Lindú, noivo da Janja. Fui metalúrgico e presidente do Brasil com 87% de aprovação. Ajudei o país a sair do mapa da fome" , diz a biografia de Lula no Twitter. Claramente coisa de homem cis branco criado com todos os privilégios do patriarcado, gente que não sabe o que é opressão na vida.
Se Lula realmente se preocupasse com oprimidos ou soubesse o que é opressão, colocaria seus pronomes na bio (ele/dele) porque só assim mostraria empatia pela pior forma de opressão do mundo que é alguém errar um pronome falando com você.

4. Precisa melhorar a inclusão racial nas fotos de Lula
Vejam essa do perfil do Twitter. Encontre um negro. Não é nem porque mudaram a cor de todo mundo para as cores da bandeira nacional não. Tava com tanta falta de negro em fotografia que enfiaram uma montagem em que Lula aparece com um menino negro para dar impressão de diversidade. Gente, se continuar assim, o povo do identitarismo vai acabar chorando.

Imagem do corpo da matéria

5. Será que Lula é democrático mesmo?
Como você sabe se alguém é democrático? Se respeita e inclui todas as pessoas. Então vou perguntar a Lula: as mulheres não procuram emprego? As trans não procuram emprego? Não bináries não procuram emprego e passam o maior perrengue porque não conseguem preencher nem ficha para caixa de supermercado? É muita falta de empatia isso.

6. Vamos decidir se Lula vai ser a Ruthinha irmã da Raquel ou a Paola Bracho?
Em menos de 3 minutos, o discurso ESCRITO de Lula, repito ESCRITO, tinha as seguintes frases:
"Não esperem de mim ressentimentos, mágoas ou desejos de vingança."
"Nunca foi tão fácil escolher" (uma referência ao editorial de 2018 do Estadão intitulado "Uma escolha muito difícil").
Na minha experiência, quando a pessoa diz "olha, eu não guardo ressentimento" é porque até oficializa em cartório o caderninho do rancor. Mas vai que foi um lapso, melhor avisar.

7. O fundamentalismo evangélico de Damares e Feliciano está contaminando Lula
"Eu tenho certeza que nós precisamos muito que Deus abençoe a todos nós, que Deus abençoe a todo o país, porque esse país está precisando da graça para poder se livrar desse autoritarismo que nós temos governando", disse Lula. Como assim estamos falando de Deus? Ontem deu notícia de jornal que um cara virou ministro e agradeceu a Deus pela missão, vocês sabiam? Parecia que o talibã ia tomar Brasília pelo tom. O Lula precisa explicar direitinho se ele quer ganhar no voto ou no tapetão de Jesus.

Vou ficar por aqui porque esta é importante demais. Dizem os luloafetivos que o fundamentalismo religioso é uma das características do fascismo de Bolsonaro. São ideologias sorrateiras, aconselho que vigiem Lula diuturnamente. De resto, vivi para ver Lobão virar marido exemplar, artista revolucionário virar capacho de político, Lula dar espaço para pauta de madame tipo identitarismo. Diriam as más línguas que encerrei o texto na sétima e não na décima dica porque 7 é conta de mentiroso. Pura especulação de gente maldosa e desocupada.

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