Nos últimos dias, anda circulando pelos meios católicos uma carta de um grupo de bispos chamado “Diálogo pelo Reino”, dirigida ao presidente eleito Lula. Ela é assinada por cinco bispos, descritos como “membros da coordenação do grupo”: cardeal Leonardo Steiner, de Manaus (AM); dom Adriano Ciocca, prelado de São Félix do Araguaia (MT); dom Guilherme Werlang, de Lages (SC); e dois auxiliares de Belo Horizonte (MG), dom Joaquim Mol e dom Vicente Ferreira, aquele que faz poesia ruim no Twitter. Mas, ao que tudo indica, há muito mais bispos que endossam seu conteúdo.
Sinceramente? Isso é uma carta de um fã-clube ao seu ídolo, não uma mensagem de líderes religiosos exortando um líder secular a fazer um governo digno. Lula é descrito como “estimado servidor do povo brasileiro” e os bispos contam que “celebramos sua vitória eleitoral surpreendente e compartilhamos com a maioria do povo brasileiro a alegria de ver triunfar a esperança em tempos tão obscuros e difíceis”. E, por fim, listam as suas prioridades, que gostariam de ver refletidas no futuro governo, e aí a coisa complica mais ainda.
Combate à pobreza e à fome é importante? Sim, é importante – digo mais, é fundamental. Respeito ao meio ambiente é importante? Sim, e para isso basta lembrar que, no Gênesis, Deus dá ao homem a missão de cuidar da criação, não de destruí-la pela exploração inconsequente. Mas as reivindicações dos bispos param por aí. Seu sonho é o de que o Brasil “volte a ser um país com liderança e respeito na geopolítica internacional, colocando o combate à pobreza e as questões socioambientais como pautas globais prioritárias”.
Quando Lula começar a abraçar seus colegas latino-americanos que perseguem a fé católica, quando os petistas começarem as tentativas para a legalização do aborto, quando a irresponsabilidade fiscal tornar cada vez mais difícil “garantir renda e trabalho para todos e todas”, onde é que estarão esses bispos?
Defesa da vida desde a concepção? Combate à corrupção? Liberdade religiosa? Nada. Existem algumas referências à “defesa da vida”, mas que são amplas e genéricas, sem menção à plataforma abortista do PT, nem mesmo um fiapo de preocupação com a presença de uma notória abortista, Eleonora Menicucci, na equipe de transição. Quanto aos outros dois assuntos, nem uma única mísera palavrinha. Aliás, também não houve menção ao fato de que foi a política econômica petista, essa que Lula dá sinais de querer repetir, que causou a maior recessão da história do país, e que deixou como herança maldita uma multidão de pobres e desempregados.
E aí eu pergunto: quando Lula começar a abraçar seus colegas latino-americanos que perseguem a fé católica, quando os petistas começarem as tentativas para a legalização do aborto, quando a irresponsabilidade fiscal tornar cada vez mais difícil “garantir renda e trabalho para todos e todas”, onde é que estarão esses bispos? Eu realmente gostaria de estar duplamente errado a esse respeito. Primeiro, gostaria que nada disso fosse acontecer. Mas, convenhamos, estamos falando de Lula e do PT; para não termos aliança com ditadores, pressão por aborto e crise econômica, só com um milagre. Segundo, gostaria mesmo que esses bispos levantassem a voz com a mesma energia com a qual “fizeram o L”. Mas algo me diz que eles vão ficar bem caladinhos e vão “terceirizar” as críticas para a CNBB.
Quando os cardeais-arcebispos de São Paulo e Rio enviaram mensagens a Lula a respeito de sua vitória no segundo turno, lembrei que era algo meramente protocolar, que inclusive usava palavras quase idênticas às enviadas a Jair Bolsonaro em 2018. Mas essa carta aí não deixa dúvidas, não. Como dizíamos na redação, dá pra cravar: esses são mesmo “coroinhas de Lula” (© papa Francisco).
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