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“Quem tem fome, tem pressa.” - Sociólogo Herbet de Souza/Betinho
Há poucos meses, a ONU anunciou que já somos 8 bilhões de habitantes na Terra. A população global aumenta 0,9% ao ano em viés de baixa. De qualquer forma, é muita gente e ao menos 20% com carências alimentares, deficiência nutricional, obesidade ou fome.
Sob ponto de vista histórico, temos melhorado. Mas isso não altera a gravidade do quadro. A FAO, Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, divulgou seu relatório SOFI, o Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, indicando diagnósticos, sugerindo soluções de curto prazo, e estipulando a erradicação da fome até 2030.
Vamos entender o quadro.
A covid trouxe, de forma geral, alta de preços, perda de poder aquisitivo e desemprego. Isso obrigou os organismos internacionais e governos a adotarem ações multissetoriais e sem viés ideológico, para enfrentamento da crise humanitária.
A indústria de alimentos processados e ultraprocessados deixou de ser vilã e atua hoje (como sempre atuou) fazendo da produção em alta escala uma das formas de acessibilidade à comida por políticas públicas ou aquisição direta. Uma macarronada com molho de tomate em lata pode ser feita pelo mesmo preço e nos mesmos 10 minutos, na Vila dos Remédios em Noronha ou em Rio Branco, no Acre.
Nas regiões remotas e de quadro dramático, sejam na América Latina, África ou Sudeste Asiático, os cereais processados e a aditivação suplementar vitamínica compõe efetivas formas de acudir a emergência do quadro social. Numa abordagem de médio prazo, o incentivo aos pequenos produtores de proteína animal (galinha e porco principalmente) atende não só às necessidades da população do entorno como aumenta a renda média, através da comercialização dos excedentes e incremento da empregabilidade.
É urgência global acabar com clichês dogmáticos nas áreas sociais e econômicas, quem busca soluções não está preocupado em lacrar. Mas, no longo prazo, envolvendo todos os moradores deste planeta esférico, como será a cadeia alimentar em 50 anos ou mais?
O inescapável binômio, água potável e terra fértil será determinante para o nosso futuro como também para o equilíbrio geopolítico do planeta. Exportação de alimentos e garantia de produção e fornecimento serão tão relevantes quanto emitir moeda sem lastro, como o dólar e possivelmente o yuan, num cenário de equilíbrio imperialista entre EUA e China antes no fim desde século.
Brasil e em menor escala África Subsaariana possuem as reservas para o nosso futuro alimentar, ressaltando que somos nós a dominar a tecnologia de produção em ambiente tropical, serrado e semiárido. Existe muita ciência envolvida e isso é nosso principal patrimônio coletivo.
É claro que os recursos são finitos e o crescimento populacional não, também é claro que ao menos dois bilhões de pessoas devem ingressar no mercado consumidor nos próximos 50 anos. Não imaginamos um mundo idílico com hortas comunitárias versus um mundo cruel com gôndolas de supermercado repletas de comida embalada contendo uma infinidade de ingredientes nocivos.
O que vai existir é a imperiosa necessidade de alimentar e nutrir de forma econômica e sustentável bilhões de pessoas simultânea e harmonicamente, sem guerras de invasão como vemos na fértil Ucrânia. O agronegócio brasileiro será nossa porta de entrada no mundo desenvolvido, quer queiram ou não, e isso se dará com cuidado absoluto e intransigente ao meio ambiente e transparência na produção de alimentos industrializados. Todos temos direito de saber e entender o que comemos.
O primeiro mundo, onde residem poder aquisitivo, bélico e econômico, passado esse período irracional de ataque aos produtos do terceiro mundo, vai subsidiar sua agricultura local até o limite de uma nova tecnologia produtiva viável. Isso já acontece na China com suas gigantescas “fábricas agrícolas” instaladas em prédios verticais e horizontais para produção de vegetais e proteínas. Europa resistirá, mas, ao fim, cederá aos produtos de suas ex-colônias e incomodará bem menos em relação a isso (fim das irresponsáveis barreiras comerciais).
A tecnologia dominante será a engenharia genética, oferecendo sementes e técnicas cada vez mais adaptadas às instabilidades climáticas e doenças. As sementes do futuro também virão fortalecidas com nutrientes essenciais que acabarão com a fome oculta. Comer e nutrir para que as novas gerações produzam mais, adoeçam menos e vivam melhor.
Enfim, se não houver nenhuma guerra nuclear, nem um cataclisma galático, o ser humano cuidará de si e do planeta, que é finito, para que nele caibam suas infinitas ambições.