Ouça este conteúdo
Até que ponto vale pagar pedágio ideológico em vez de usar a racionalidade? Nos últimos dias, um caso chamou a atenção por tamanha falta de sentido. Durante uma participação no programa "Altas Horas", da Globo, Toni Garrido, vocalista da banda Cidade Negra, resolveu cantar a música "Girassol ", a mais conhecida do grupo, com uma versão alternativa. A intenção era lacrar, mas o resultado foi uma chacota total na internet.
A parte que sofreu a modificação dizia, originalmente: "Já que pra ser homem tem que ter, a grandeza de um menino, de um menino". Na nova adaptação, Toni cantou: "Já que pra ser homem tem que ter, a grandeza de uma menina, de uma mulher". Bom, até aí tudo bem. O que realmente impressionou, pela falta de lógica, foi a justificativa.
O cantor explicou que a alteração seria pelo fato de que após 25 anos entoando a música, "bateu a ficha " que esse trecho em específico seria "hétero machista top, horrível". Bom, por maior que seja o malabarismo, não há sequer uma forma possível de tentar associar esta parte da canção a uma questão machista. Também não entendi qual seria o problema em algo supostamente hétero - como se isso fosse algum crime. Claro que se dependesse da esquerda provavelmente seria.
Nunca abra mão da sua liberdade intelectual para ser apenas um doutrinado
Além da vergonha nacional por suas próprias palavras, Garrido também foi rebatido por Da Ghama, coautor de "Girassol ", que negou, de forma óbvia, qualquer conotação machista ou hétero-normativa na música, e disse que se sentiu desrespeitado pela mudança feita por Toni. Em um vídeo publicado na sua rede social, Da Ghama disse que "A ideia básica é colocar a grandeza de um homem na pureza de um menino, traduzindo esse sentimento de poder fazer uma crítica em relação aos homens que fazem a guerra".
Como se não bastassem as humilhações em série, Toni Garrido foi além: Após a repercussão extremamente negativa, ele se pronunciou sobre o assunto dizendo que a troca de palavras havia sido uma brincadeira. O problema é que nem mesmo para uma brincadeira houve coerência, e muito menos humor.
A consequência desse e outros casos é grave: pessoas inteligentes, capazes de argumentar e discordar com respeito, tornam-se reféns de um comportamento de manada. A diversidade de ideias desaparece, e nos mantemos em bolhas que não conversam entre si, mas apenas ecoam suas próprias certezas.
Nunca abra mão da sua liberdade intelectual para ser apenas um doutrinado. Buscar coerência, verdade ou princípios é sem dúvida muito mais importante do que querer ser aceito por uma patota que só quer te usar como massa de manobra. Como diria Olavo de Carvalho, "Não prostitua a sua personalidade em troca da aceitação pelo grupo. É um preço muito alto a ser pago. "
